O cheiro de pão fresco, o cumprimento amigável do padeiro, a conversa rápida na mercearia. O comércio de bairro, com sua essência de proximidade e afeto, está longe de ser uma relíquia do passado. Ao contrário: ele se reinventa. Hoje, o mesmo comerciante que conhece seu nome e seu pedido favorito, também envia promoções pelo WhatsApp e exibe seus produtos no Instagram, provando que a tradição e a tecnologia podem, sim, andar de mãos dadas, fortalecendo a economia local.Como explica Ivan Tonet, gerente adjunto de Acesso a Mercados do Sebrae, a tecnologia não veio para substituir a relação de proximidade, veio para fortalecê-la. “O uso das ferramentas digitais deve ser entendido como uma ponte para estimular a relação de proximidade que sempre caracterizou o comércio de bairro, e não como um substituto dela”, afirma.Para o especialista, o grande diferencial das micro e pequenas empresas está justamente em conhecer seus clientes, manter vínculos de confiança e oferecer atendimento personalizado. “A tecnologia pode ampliar esse potencial quando utilizada com equilíbrio”, reforça.A digitalização também transformou o comportamento do consumidor local. Hoje, a jornada de compra começa no Instagram, passa pelo WhatsApp e termina com a visita à loja ou entrega em casa. De acordo com Tonet, o cliente atual busca conveniência e personalização, ele quer ser reconhecido, receber respostas rápidas e o PIX se tornou o método de pagamento preferido.Foto: DivulgaçãoA 9ª edição da Pesquisa Pulso Sebrae, revela que 72% dos pequenos negócios brasileiros já utilizam canais digitais para vender. O WhatsApp está presente em 84% deles, seguido pelo Instagram, com 60%. Quase metade desses empreendedores já investe em tráfego pago, e em muitos casos as vendas digitais representam mais da metade do faturamento.Já a 7ª Pesquisa Transformação Digital nos Pequenos Negócios mostra que 44% dos empreendedores utilizam ferramentas de inteligência artificial, sendo 51% soluções generativas, como ChatGPT, Gemini e Copilot. Essas tecnologias são aplicadas em atividades que vão desde a criação de conteúdo até a automação de atendimento.“A digitalização deixou de ser tendência e se tornou uma condição de competitividade. Mas o segredo continua o mesmo, manter o olhar atento, o atendimento humano e o vínculo de confiança que sempre fizeram do comércio de bairro um espaço de relacionamento e não apenas de compra”, conclui Tonet.Porão Livro e Café une afeto e novas tecnologias | Foto: DivulgaçãoNo coração de Brasília, um porão que pulsa cultura e proximidadeEm um cantinho acolhedor da Asa Norte, em Brasília, o Porão Livro e Café é um exemplo de como a tecnologia pode andar de mãos dadas com o afeto. Mais do que uma livraria e cafeteria, o espaço se transformou em um ponto de encontro da vizinhança e a proprietária Luana Pessoa acredita que é justamente essa relação com o bairro que sustenta o negócio.Estarmos inseridos no bairro é fundamental para nós, porque acreditamos que uma empresa não deve ser apenas um ponto de venda, mas sim parte viva da comunidade.Luana Pessoa, empreendedoraPara empreendedora, o relacionamento próximo com os clientes permite compreender melhor suas necessidades, criar vínculos de confiança e oferecer experiências mais humanas e personalizadas. “Essa proximidade fortalece laços, gera pertencimento e contribui tanto para a sustentabilidade do negócio quanto para o desenvolvimento do próprio bairro”, reitera.Enquanto grandes redes competem em preço e praticidade, o Porão aposta em algo que os algoritmos ainda não conseguem replicar: a conexão humana. Com seus bolos de produção própria, cafés especiais e uma curadoria de livros feita com carinho, o espaço se tornou um refúgio para leitores, artistas e vizinhos.“O atendimento personalizado e o vínculo com a vizinhança são justamente o que nos diferencia das grandes redes e das compras online”, conta Luana. “Aqui, cada cliente é recebido de forma próxima e acolhedora. O espaço vira um ponto de encontro, um lugar com alma. Enquanto grandes redes oferecem praticidade, nós oferecemos pertencimento.”Além do atendimento, o Porão também promove eventos culturais, clubes de leitura, lançamentos de autores locais e atividades infantis. Essas ações que reforçam o papel do café como espaço de cultura e convivência.WhatsApp e Instagram: vitrines da vizinhançaPara fortalecer o vínculo com a comunidade, o Porão utiliza as redes sociais como extensão do próprio ambiente físico. “As redes sociais nos ajudam a manter a conexão viva com o público local”, explica Luana.Pelas redes sociais mostramos nossa curadoria de livros, novidades do cardápio, registramos eventos e divulgamos atividades culturais. É uma forma de fortalecer vínculos, atrair novos clientes e mostrar nossa identidade.Luana Pessoa, empreendedoraSegundo o gerente Ivan Tonet, essa estratégia reflete um movimento crescente entre pequenos negócios. “O WhatsApp Business se tornou uma extensão da loja física, um canal direto e humano. Já o Instagram atua como vitrine e espaço de interação. E o TikTok, com o TikTok Shop, vem se consolidando como novo ponto de descoberta e compra, especialmente entre o público jovem”, explica.Compre do PequenoNo dia 5 de outubro, é celebrado o Dia Nacional da Micro e Pequena Empresa. Em comemoração à data, o Sebrae promove a campanha Compre do Pequeno, para valorizar o papel que esses empreendedores, que representam 97% das empresas do país, desempenham nas vidas das pessoas e de suas localidades. Ao decidir comprar em um pequeno negócio, o consumidor contribui para colocar o dinheiro em circulação dentro de própria comunidade, gerar mais empregos e desenvolver a economia local.