Com os primeiros sinais de cortes nos juros das principais economias do mundo, a renda fixa global volta ao centro das atenções como uma alternativa atraente para investidores que buscam diversificação e retorno ajustado ao risco. O mercado, que já movimenta cerca de US$ 145 trilhões em títulos, oferece oportunidades que extrapolam as fronteiras brasileiras — mas, segundo especialistas, ainda é pouco explorado pelo investidor local.A analista de fundos da XP, Clara Sodré, explica que o brasileiro tende a concentrar seus investimentos em ativos domésticos, o que limita a exposição a mercados mais amplos e diversificados.“O Brasil representa apenas 0,6% do total mundial de títulos corporativos. Olhar apenas para a renda fixa local é ignorar as oportunidades que existem em economias maduras.”— Clara Sodré, analista de fundos da XP.Com esse pano de fundo, o Espresso Outliers, novo programa do InfoMoney apresentado por Clara Sodré, estreou explorando justamente o tema da renda fixa global. No episódio inaugural, a especialista conversou com três gestores internacionais para entender como esse mercado vem se posicionando em meio ao novo ciclo econômico.Leia mais: Por que ter renda fixa global com Selic a 15%; Isabella Nunes, da J.P. Morgan, opinaE também: Corte de juros renova fôlego das ações dos EUA, avalia Cavalcante, do Morgan StanleyJuros elevados reforçam o apelo da renda fixa globalPara Daniel Popovich, portfolio manager da Franklin Templeton, o momento é “bastante atrativo” para a renda fixa internacional. Ele ressalta que, mesmo com a perspectiva de cortes nas taxas básicas em economias desenvolvidas, o ciclo atual parte de um patamar mais alto do que o observado nos últimos anos. “Isso reforça o apelo da renda fixa olhando para frente. Ainda há bons prêmios, principalmente nas aplicações de crédito e no curto prazo”, observa.O gestor destaca, porém, que a gestão ativa ganha importância diante da volatilidade geopolítica e das divergências entre políticas monetárias ao redor do mundo. “Essas diferenças criam oportunidades. Estratégias capazes de capturar essas variações têm se destacado e devem continuar performando bem”, afirma.Clara concorda e reforça que a diversificação global não exclui o investimento em renda fixa doméstica.“O ponto é que, ao concentrar todo o capital no mercado local, o investidor perde a chance de participar de oportunidades em escala mundial.”— Daniel Popovich, portfolio manager da Franklin Templeton.High Yield global mantém atratividade, mas pede seletividadeA diretora comercial da JP Morgan Asset Management Brasil, Isabella Nunes, destaca que o mercado global de High Yield, avaliado em cerca de US$ 2 trilhões, segue oferecendo boas oportunidades, mesmo após um ciclo de crédito mais maduro. “O índice US High Yield acumula alta de 7% em dólares neste ano. O crescimento global tem surpreendido positivamente, sustentando fundamentos sólidos”, afirma.Os spreads médios — atualmente em 290 pontos-base, ante uma média histórica de 509 nos últimos 25 anos — continuam garantindo retornos atraentes. “Mesmo com spreads menores, o yield em torno de 6,7% ainda oferece um bom colchão de proteção. Mas o segredo está na seletividade: é um jogo de qualidade, seleção e gestão ativa”, resume Isabella.Para Clara, o cenário reforça que, apesar das incertezas macroeconômicas, o High Yield global mantém sua atratividade. “Os fundamentos corporativos permanecem sólidos, e isso sustenta o interesse nessa classe de ativos”, avalia.Crédito privado ganha espaço e atrai capital institucionalO avanço do crédito privado — especialmente o direct lending, modalidade em que investidores emprestam diretamente a empresas de médio porte — também vem chamando atenção. Segundo Thiago Cavalcante, da Morgan Stanley, esse segmento tem se destacado por combinar retorno consistente e risco controlado. “Desde 2004, o direct lending entrega uma média de 9,5% ao ano, com baixas taxas de inadimplência e contratos personalizados que ajudam a mitigar riscos”, explica.Ele lembra que o número de bancos nos Estados Unidos caiu pela metade desde 2008, abrindo espaço para fundos especializados nesse tipo de operação. “Há um ambiente estrutural muito favorável ao crescimento do private credit. Com menos crédito bancário disponível e mais capital alocado em private equity, a demanda por financiamentos diretos deve seguir em alta”, analisa.Além do retorno, Cavalcante ressalta que o crédito privado contribui para a diversificação dos portfólios.“É uma classe com baixa correlação com ações e renda fixa tradicional, o que melhora a relação risco-retorno das carteiras.”— Thiago Cavalcante, da Morgan Stanley.The post Renda fixa global vive alta atratividade e ganha força na diversificação de carteiras appeared first on InfoMoney.