StartupiDo laboratório ao mercado: CEOs discutem os desafios entre escalar e abrir capital no Expand North Star 2025A jornada entre escalar um negócio e abrir capital em bolsa foi tema central da conversa entre Andrew Feldman, CEO e cofundador da Cerebras Systems, e Tomaso Rodriguez, CEO da Talabat, durante o Expand North Star 2025, em Dubai. O diálogo reuniu duas trajetórias distintas — uma empresa americana que desenvolve chips de computação de alto desempenho e uma plataforma de entrega de alimentos líder no Oriente Médio — mas convergentes na visão de que a combinação entre resiliência, cultura e disciplina é essencial para sustentar o crescimento em tempos de disrupção.Superando crises e encontrando oportunidadesRodriguez lembrou o impacto da pandemia de COVID-19 sobre a Talabat, que atua há mais de duas décadas na região. Nas primeiras semanas de 2020, a companhia viu os pedidos “caírem literalmente para zero”, segundo o executivo. “Todo mundo estava preocupado com quem cozinhava, quem tocava na comida. Nosso negócio foi de centenas de milhares de pedidos a zero, literalmente”, relembrou.Diante do cenário, a empresa adotou uma série de medidas para restaurar a confiança dos consumidores, como exibir no aplicativo a temperatura dos entregadores e introduzir um novo modelo de embalagem “caixa dentro de caixa”, que evitava contato direto com o alimento. “Foi aterrorizante de uma perspectiva de negócio, mas, do ponto de vista da equipe, uma experiência incrível. Todos os dias testávamos algo novo”, disse.Com o tempo, as medidas surtiram efeito e o movimento se recuperou. “A pandemia acabou sendo um impulsionador massivo para o negócio nos anos seguintes”, afirmou o CEO. Para ele, o período reforçou a importância de “ser fiel aos fundamentos e atravessar o barulho” nos momentos de crise.Para Feldman, da Cerebras Systems — empresa que desenvolveu o maior chip de inteligência artificial do mundo —, o desafio de crescer está na disposição de tentar o impossível. “Decidimos construir um chip 56 vezes maior que qualquer outro já feito. Não podíamos ser apenas um pouco melhores que a NVIDIA. Precisávamos de inovação radical”, contou.O caminho, no entanto, não foi linear. “Entre 2017 e 2019, gastávamos seis milhões de dólares por mês e nada funcionava. Mas a cada falha fazíamos uma análise completa, aprendíamos e tentávamos novamente”, relatou. O ponto de virada veio em março de 2019, quando um protótipo finalmente funcionou. “Foi a primeira vez em 75 anos que alguém construiu um chip tão grande. Esse momento só acontece quando você tenta fazer o que ninguém mais faz”, afirmou Feldman.Essa mentalidade, segundo ele, orienta a cultura da empresa: “Queremos pessoas que prefiram falhar buscando o extraordinário do que ter sucesso no comum. Contratamos engenheiros e investidores que se sentem desafiados pelo impossível.”Liderança, erros e culturaAmbos os executivos destacaram a importância de uma liderança transparente e de uma cultura organizacional sólida. Feldman defendeu que os líderes devem normalizar o erro: “Se você toma cem decisões por semana e acerta 75 delas, ainda comete 1.300 erros por ano. O importante é não repetir os mesmos erros.”O CEO da Cerebras explicou que costuma compartilhar seus próprios equívocos com a equipe. “Quando tomo uma decisão ruim, faço um ‘post-mortem’ para entender o que me levou a isso e mostrar à equipe que todos erramos. Isso humaniza o papel de líder e empodera as pessoas a assumir riscos.”Rodriguez concordou e completou que a cultura corporativa precisa equilibrar direção e autonomia. “Queremos pessoas que comprem a visão, mas que sejam totalmente empoderadas para construir o caminho até ela. Não se trata de dizer o que fazer, mas de mostrar para onde ir. E, acima de tudo, quero que as pessoas se sintam felizes em vir trabalhar todos os dias.”IA, paciência e propósitoEm meio à ascensão da inteligência artificial, Rodriguez alertou para o perigo de adotar a tecnologia de forma apressada. “Há centenas de oportunidades de IA, mas nem todas valem o investimento imediato. Fizemos coisas boas e ruins. A lição é ser paciente e pensar profundamente no que o cliente realmente quer.”Ele citou como exemplo uma tentativa de implementar uma função de texto para voz em chamadas entre usuários de iPhone e Android. “Na teoria era ótimo, mas as pessoas não querem falar com uma IA. É preciso entender o comportamento humano antes de automatizar.”O longo caminho até o IPOFeldman detalhou os desafios de preparar uma empresa de tecnologia para abrir capital nos Estados Unidos. “É um processo longo e doloroso. Nosso departamento jurídico cresceu de três para oito pessoas, o financeiro de oito para vinte. É preciso criar um novo nível de disciplina e foco em métricas, porque investidores públicos não se importam com desculpas — apenas com resultados”, disse.Rodriguez, por sua vez, comentou a experiência de ter conduzido a Talabat dentro do grupo Delivery Hero, que abriu capital em 2017. Ele lembrou a lição de um antigo chefe no Uber, Travis Kalanick: “Travis não queria abrir o capital porque sabia que, no dia seguinte ao IPO, todos passariam a olhar o preço das ações. E ele estava certo. Depois que acontece, funcionários e investidores começam a se concentrar nisso, e não no trabalho.”Embora atuem em mercados e estágios distintos, ambos compartilham um princípio comum: o crescimento sustentável exige tanto disciplina operacional quanto coragem para errar. “Você precisa aceitar que o fracasso faz parte do caminho”, resumiu Feldman.Para Rodriguez, a lição é parecida: “Nosso papel como líderes é inspirar as pessoas a sonhar grande e, ao mesmo tempo, criar um ambiente em que elas queiram voltar todos os dias para tentar de novo.”Aproveite e junte-se ao nosso canal no WhatsApp para receber conteúdos exclusivos em primeira mão. Clique aqui para participar. Startupi | Jornalismo para quem lidera inovação!O post Do laboratório ao mercado: CEOs discutem os desafios entre escalar e abrir capital no Expand North Star 2025 aparece primeiro em Startupi e foi escrito por Marystela Barbosa