O acesso a recursos é uma das principais dores de empreendedores em todo o Brasil. Com investimentos limitados, o crescimento de operações, diversificação de portfólio e alcance a novos mercados é constantemente freado.O cenário, ao que tudo indica, se repete também entre as ONGs (Organizações Não Governamentais) e demais entidades do terceiro setor.Foi partindo dessa premissa que Daiany França Saldanha, uma empreendedora do interior da Bahia, encontrou um novo nicho de atuação. Leia Mais ANTT destrava investimento bilionário em plano de "rodovias sustentáveis" De empreendedor a influenciador: como equilibrar negócio e presença digital Mudanças climáticas: 80% se preocupam com impacto em crianças Empreendedora de longa data, ela resolveu mudar o curso de sua jornada — até então à frente de empresas de marketing esportivo — ao fundar a Mais Impacto, empresa de consultoria que atende instituições do terceiro setor com capacitações e mentorias voltadas à captação de recursos e profissionalização da gestão.O foco está em pequenas organizações de regiões periféricas, tradicionalmente desassistidas de investimentos, segundo Daiany. “Digo que sou uma descentralizadora”, afirma.“Existem muitas ideias e projetos que não recebem investimentos por não estarem na rota comum dos investidores. E meu papel é mudar isso dando mais visibilidade e expertise a ONGs de todo país”.A lógica está em apoiar inúmeras ONGs, tornando-as atraentes para investidores, sejam eles corporativos ou pessoas físicas. Para isso, de um lado a Mais Impacto atua como uma catalisadora do crescimento dessas organizações.De outro, faz indicações para esses financiadores — via de regra, empresas comprometidas com as diretrizes ESG e em busca de um destino acertado para seus recursos de impacto social.COP30: Três curiosidades sobre o clima além da crise climáticaJornada empreendedoraO desejo de Daiany de atuar com o terceiro setor veio após anos atuando em projetos sociais e empresas próprias. Seu primeiro negócio foi uma empresa de marketing esportivo.Dali, veio não somente sua primeira experiência com o empreendedorismo, mas também sua primeira falência. “Era um mercado muito novo, principalmente no interior.”Anos depois, abriu seu primeiro instituto social, focado na formação de educadores esportivos e também na realização de eventos do setor. “Queria deixar de ser a Daiany do esporte para ser a Daiany do terceiro setor”, lembra.Durante nove anos como presidente dessa associação, ela levantou cerca de R$ 13,5 milhões em captações. “Percebi que sabia como gerenciar uma organização, e queria levar isso adiante”, conta.A experiência à frente de empresas próprias e também fundadas em locais distantes das grandes capitais trouxe uma visão crítica sobre os desafios ligados ao acesso a recursos financeiros para tirar certos projetos do papel.Assim nasceu a Mais Impacto, em 2021. “A ideia, na época, era ajudar ONGs a não fecharem as portas num contexto de pandemia, mas fomos bem além”, conta.“Trabalho todos os dias para descentralizar recursos. De um lado, apoiando as organizações para que elas se demonstrem financiáveis, melhorando a comunicação e a gestão. E do outro, conversando com os investidores sociais para que eles também se permitam apoiar aquelas organizações que são são tão famosas e conceituadas, mas que com tempo e investimento, são promissoras”, explica.Em 2024, a Mais Impacto apoiou 42 organizações, em oito estados do Brasil, auxiliando na criação e aprimoramento de projetos sociais e tornando-as mais diligentes e atrativas para investidores.Além disso, a consultoria vem democratizando o acesso à tecnologia no terceiro setor, com oficinas-piloto de inteligência artificial voltadas para empreendedores e gestores sociais. Até agora, 95 pessoas foram capacitadas.O próximo passo da consultoria, segundo Daiany, é estender a atuação da Mais Impacto com a criação de projetos gratuitos próprios. “Nosso passo seguinte é ajudar o terceiro setor tendo também uma vertical com perfil de terceiro setor”, diz.Fundos sustentáveis crescem 48% em ano de COP30, diz pesquisa*Por Maria Clara Dias