Nas últimas décadas, o avanço das tecnologias de comunicação e o acesso facilitado à internet transformaram radicalmente a forma como as pessoas consomem e compartilham informações. No entanto, esse mesmo progresso abriu espaço para um fenômeno perigoso: a disseminação desenfreada das fake news. Com apenas alguns cliques, conteúdos falsos ou distorcidos podem atingir milhões de pessoas em poucos minutos, provocando consequências devastadoras no mundo real. Diversos casos ao redor do mundo — de linchamentos a tragédias motivadas por desinformação — evidenciam que a internet, ao mesmo tempo que democratiza o acesso à informação, também potencializa a velocidade e o alcance das mentiras.1. Fabiane de Jesus (Brasil, 2014)Em Guarujá (São Paulo), foi divulgada uma notícia falsa de que ela seria sequestradora de crianças. Uma multidão a confundiu, a agrediu e a levou ao hospital. Ela morreu dois dias depois dos ferimentos. 2. Linchamentos por mensagens no WhatsApp na ÍndiaDiversos casos de linchamentos no interior da Índia são ligados à disseminação de rumores via WhatsApp sobre “sequestradores de crianças”. Estima-se que pelo menos 23 pessoas foram mortas em episódios desse tipo. 3. Karbi Anglong lynching (Índia, 2018)Dois homens foram linchados após rumores falsos de que estavam envolvidos em tráfico de crianças. 4. Palghar mob lynching (Índia, 2020)Durante o lockdown da Covid-19, rumores de ladrões nas proximidades impulsionaram um grupo a matar dois sadhus (líderes religiosos) e o motorista, num ataque vigilante. 5. Mashal Khan (Paquistão, 2017)Acusado falsamente de blasfêmia nas redes sociais, foi linchado por colegas estudantes na sua universidade. Posteriormente verificou-se que não havia evidências de discurso blasfemo. 6. Mohammad Azam (Índia, 2018)Acusado falsamente de sequestrador, foi espancado por multidão e morreu. Rumores veiculados no WhatsApp foram identificados como causa. 7. Mortes em encontros falsos (“fake encounters”) no PaquistãoUm caso famoso foi o de Muhammad Naqeebullah Mehsud, morto num “encontro policial” forjado, em que acusações falsas foram usadas para justificar uma execução extrajudicial. 8. Kanhaiya Lal (Índia, 2022)Um alfaiate foi decapitado por dois homens que afirmavam vingar-se de um post nas redes sociais que ele supostamente havia feito. Rumores e acusação falsa motivaram o crime. 9. Jéssica Vitória Canedo (Brasil, recente)Segundo reportagens, ela foi vítima de fake news que circulou nas redes sociais. Em consequência disso ocorreu uma agressão que terminou em morte. 10. Suzano, SP (Brasil, dezembro de 2023)Um jovem (22 anos) foi agredido até a morte por um grupo que havia espalhado notícias falsas alegando que ele teria matado cachorros na região.11. Bangladesh — Linchamentos por rumores de sacrifício infantilEm julho de 2019, pelo menos oito pessoas foram mortas por multidões após circularem rumores falsos no Facebook de que “cabeças humanas seriam necessárias” para um grande projeto de infraestrutura, e que crianças estavam sendo sacrificadas. 12. Índia — Linchamentos via WhatsApp por rumores de sequestro de criançasVários casos ao longo dos anos em diferentes distritos da Índia: mensagens de WhatsApp acusando pessoas de serem sequestradores levaram multidões a atacar inocentes, resultando em mortes. Em 2018, cinco homens em viagem foram atacados e um deles morreu depois de rumores falsos de sequestro. 13. Índia — Caso de Mohammed AzamMohammed Azam foi morto por multidão após rumores compartilhados no WhatsApp que o acusavam falsamente de envolvimento em crime. 14. Índia — Caso Palghar (2020)Durante o período de lockdown da Covid-19, rumores falsos de ladrões nas redondezas estimularam um ataque vigilante em que dois líderes religiosos (sadhus) e o motorista foram mortos. 15. Paquistão — Execuções extrajudiciais com base em acusações falsasHá registros de casos em que pessoas foram mortas sob acusações fabricadas de terrorismo ou crime, usados como justificativa para “confrontos policiais” ou “encounters” falsos (este tipo de ação aparece em relatos de abusos nas forças de segurança).16. Caso de linchamento em Bangladesh por rumores de sacrifício de criançasOutra onda de ataques em Bangladesh motivada por boatos de que crianças seriam sacrificadas para projetos de construção. 17. Estados Unidos — Caso do “Pizzagate” (2016)Embora não tenha resultado numa grande onda de mortes, é um exemplo importante de fake news com consequências perigosas: um homem armado invadiu uma pizzaria com base em teorias conspiratórias afirmando que ali funcionava uma rede de abuso infantil (rumores divulgados online). Felizmente não houve vítimas fatais, mas é um exemplo de falso rumor levando a ato violento.18. Conspirações após assassinato de Seth Rich (EUA, 2016)Após o assassinato de Seth Rich, circularam teorias de conspiração falsas que alegavam que ele estava envolvido no vazamento de e-mails do DNC e que teria sido assassinado por obra desse vazamento. Essas teorias foram amplamente desacreditadas. Embora essa desinformação tenha não exatamente causado a morte, ela ilustra bem o uso de fake news posteriores a homicídio para manipulação e impacto emocional/político.19. Caso “Crucified Boy” (Ucrânia/conflito russo-ucraniano, 2014)Embora não seja um caso de assassinato direto motivado por desinformação, é um exemplo de fake news usada como propaganda de guerra: uma história falsa de que um menino de 3 anos teria sido crucificado por soldados ucranianos foi difundida para justificar violência e atrocity propaganda. 20. Identificação errada de suspeitos após assassinato de Shinzo Abe (Japão, 2022)Após o assassinato do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, circularam nas redes sociais alegações falsas e rumores de que o responsável seria o famoso desenvolvedor de jogos Hideo Kojima. A desinformação rapidamente foi desmentida, mas demonstra como fake news podem interferir e escalar em casos de grandes crimes. Como evitar cair em fake newsPara reduzir os riscos e evitar ser vítima ou disseminador de notícias falsas, é fundamental adotar uma postura crítica diante das informações recebidas. Antes de compartilhar qualquer conteúdo, é importante verificar a fonte (se é confiável e reconhecida), ler a notícia completa em vez de apenas o título, checar se a informação aparece em veículos oficiais ou agências de checagem independentes, e desconfiar de mensagens com tom alarmista, sensacionalista ou que apelam para o medo e a indignação. Além disso, é essencial evitar compartilhar mensagens recebidas por aplicativos de conversa sem confirmar sua veracidade — muitas fake news começam justamente em grupos fechados de WhatsApp, Telegram e redes sociais.Os casos apresentados mostram que a desinformação, amplificada pela tecnologia e pela viralização digital, pode ultrapassar o ambiente virtual e gerar danos irreversíveis, inclusive a perda de vidas humanas. As plataformas digitais, embora ofereçam oportunidades de comunicação e aprendizado, também servem como terreno fértil para boatos, discursos de ódio e manipulação. Por isso, mais do que nunca, é urgente promover a educação midiática e a responsabilidade digital, para que cada cidadão compreenda o poder — e o perigo — que carrega ao compartilhar informações na era das redes sociais.Quer se aprofundar no assunto, tem alguma dúvida, comentário ou quer compartilhar sua experiência nesse tema? Escreva para mim no Instagram: @davisalvesphd. Leia também Veja 10 dicas para detectar vídeos feitos por inteligência artificial