Uma noite de violência entre facções rivais marcou o fim de janeiro de 2024 em Joinville, no Norte de Santa Catarina. Dois homens foram sequestrados por integrantes do Primeiro Grupo Catarinense (PGC), levados a cativeiros e submetidos a um “tribunal do crime”. Apenas um sobreviveu. O outro foi executado com diversos tiros e enterrado em uma área de mata da cidade.O caso, que expôs a estrutura e o grau de organização da facção, chegou ao fim na quinta-feira (9/10), quando o Tribunal do Júri da Comarca de Joinville condenou cinco dos seis acusados. As penas variam entre 10 e 57 anos de prisão, de acordo com o nível de participação nos crimes. Leia também Mirelle Pinheiro Vídeo: Mounjaro de R$ 4 mil é vendido em isopor em feira de Brasília Mirelle Pinheiro Máfia do Mounjaro tem delivery e até “frete grátis” em Brasília Mirelle Pinheiro Investigação revela venda ilegal de Mounjaro em farmácias do DF Mirelle Pinheiro Pancreatite, coma e ansiedade: os efeitos do uso indevido do Mounjaro De acordo com o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), os crimes ocorreram entre a noite de 29 e 30 de janeiro de 2024. As vítimas foram rendidas no bairro Paranaguamirim, região dominada pelo PGC, e levadas para uma “biqueira”, ponto de venda de drogas controlado pela facção.No local, os homens tiveram os celulares e pertences roubados sob ameaça de armas de fogo. Depois, foram transferidos para um segundo cativeiro, também no bairro. Ali, passaram quase 24 horas sob vigilância dos criminosos, enquanto eram interrogados por suspeita de pertencer a uma facção rival.Segundo a denúncia, após o “julgamento” interno, um dos reféns foi libertado sob ameaça de morte e obrigado a deixar o estado. O outro foi mantido em poder do grupo e, horas depois, levado até uma área de mata às margens da Avenida Kurt Meinert, onde foi executado a tiros.O corpo e o julgamentoApós o homicídio, os criminosos cobriram o corpo da vítima com cal e o enterraram em uma área isolada. O cadáver só foi encontrado três semanas depois, em 20 de fevereiro de 2024.Durante o julgamento, o promotor de Justiça destacou que a vítima foi obrigada a caminhar por cerca de 800 metros dentro da mata antes de ser morta.Para o Ministério Público, o caso evidencia o padrão de atuação e a brutalidade da facção, que impõe terror à comunidade local e age com estrutura hierarquizada, semelhante à de um exército.“Os crimes praticados pelos réus revelam o grau de organização e periculosidade da facção criminosa, que atua com métodos próprios de julgamento e execução”, afirmou o representante do MPSC ao Conselho de Sentença.As condenaçõesO líder do grupo recebeu a maior pena: 57 anos, oito meses e 10 dias de prisão em regime fechado, além de multa. Ele foi condenado por homicídio qualificado, cárcere privado, roubo, ocultação de cadáver e por integrar organização criminosa.Outro integrante foi sentenciado a 36 anos, três meses e oito dias, e um terceiro, a 33 anos, seis meses e 27 dias. Dois réus tiveram penas menores, 16 anos e oito meses, e 10 anos e quatro meses, por participação nos crimes de cárcere privado e associação criminosa.Uma mulher, apontada como gerente do ponto de drogas, foi absolvida. A Justiça determinou a execução imediata das penas, e os condenados não poderão recorrer em liberdade.Atuação do PGC na regiãoA investigação conduzida pela Polícia Civil e pelo MPSC confirmou que o PGC mantém forte presença em Joinville e cidades vizinhas, com divisão de funções, “disciplina interna” e regras próprias para controle territorial, tráfico de drogas, homicídios e roubos.A facção, segundo os investigadores, usa “tribunais do crime” para executar quem considera traidor ou inimigo. O caso julgado agora é apontado como uma das ações mais violentas do grupo na região.