Em uma primeira impressão, a fossa pode parecer algum tipo de gato ou cachorro, com características que lembram animais como doninhas. Embora realmente tenha algumas semelhanças adaptativas com os gatos, como as garras, e o focinho semelhante ao de um cão, esse mamífero está mais próximo de animais como o mangusto e a civeta.A fossa é o único membro vivo de seu gênero, um carnívoro encontrado apenas na ilha de Madagascar, situada na costa da África Oriental. Apesar de ser o maior predador da ilha, agora é considerada uma espécie vulnerável devido à perda de seu habitat natural.Fossas: conheça o bichinho endêmico de MadagascarAqueles que assistiram à animação “Madagascar” devem se lembrar da cena em que um lêmure em pânico grita “as fossas estão atacando, salvem suas vidas!”. O medo dos personagens é justificado por um fato real, já que esses animais são os maiores carnívoros e predadores da ilha que dá nome ao filme. Além disso, apesar de se alimentarem de pássaros, répteis, anfíbios, insetos e outros pequenos mamíferos, mais da metade da dieta das fossas é composta por lêmures.Pode parecer cruel quando pensamos em lêmures como criaturas fofinhas com enormes olhos assustados, mas ao controlar a população desses animais, a fossa exerce uma função vital na manutenção do equilíbrio do ecossistema das florestas de Madagascar – que já está em risco por conta da devastação.Como ilustrado pela cena do filme, ocasionalmente as fossas caçam em pares ou pequenos grupos, mostrando um comportamento raro entre predadores solitários.Leia também:O que existe no ponto mais fundo do oceano?Austrália: confira o top 10 de animais endêmicos mais fofos do país8 animais que dormem de olho aberto – e por que fazem issoCaracterísticas físicas da fossaFossa no Zoológico de Cleveland via Tim Evanson/Wikimedia CommonsA fossa (Cryptoprocta ferox) é um símbolo da incrível biodiversidade de Madagascar. Assim como o mangusto moderno, a fossa evoluiu a partir de um ancestral que chegou à ilha, vindo da África continental, há cerca de 21 milhões de anos.Com pelagem marrom-avermelhada e um corpo alongado e musculoso, a fossa tem comprimento corporal de 70 a 80 centímetros, com uma cauda igualmente longa – muito utilizada para equilíbrio ao se deslocar pelas copas das árvores. Os machos tendem a ser maiores que as fêmeas, mas o peso médio da espécie é de 5,5 a 8,6 quilos.Suas garras semi-retráteis e tornozelos flexíveis permitem que este animal escale árvores e salte com precisão. Sua pelagem curta proporciona excelente camuflagem sob a luz difusa das florestas de Madagascar.Reprodução e habitatA fossa vive em todas as regiões florestais da ilha de Madagascar, tanto nas áreas úmidas quanto nas secas, desde o nível do mar até altitudes que chegam a 2.600 metros. Além disso, o predador perambula pelas copas das árvores e pelo solo da floresta, dominando o ecossistema de vida selvagem.Filhotes de fossa em cativeiro via Jean Ogden/Wikimedia CommonsAssim como outros carnívoros solitários, as fossas geralmente se reúnem apenas para acasalar. Esses mamíferos, da família Eupleridae, chegam à maturidade reprodutiva com cerca de quatro anos de idade, e a época de reprodução acontece entre setembro e dezembro. Quando está quase na hora do parto, entre dezembro e março, após um período de gestação que dura cerca de três meses, a mãe faz uma toca em locais como cupinzeiros abandonados, fendas em rochas, árvores ocas ou buracos no chão.Normalmente são apenas dois filhotes por ninhada, mas o número pode chegar a seis. Os filhotes são bastante subdesenvolvidos ao nascer, não abrem os olhos até terem entre duas e três semanas de idade, e a mãe os cria sem ajuda. Eles começam a comer alimentos sólidos por volta das 12 semanas de idade, embora demore mais um mês até serem desmamados.Leva quase dois anos para que os filhotes de fossa atinjam o tamanho adulto, e mais dois anos até que sejam capazes de se reproduzir. Nesse ponto, eles buscam seu território próprio e geralmente só se encontram com outras fossas durante a temporada de reprodução. Sua expectativa de vida exata é desconhecida na natureza, mas as fossas podem chegar a 20 anos em zoológicos.ComportamentoFossa via Mathias Appel/Wikimedia CommonsAinda há muito a descobrir sobre este animal raro, um dos carnívoros mais misteriosos e menos conhecidos do mundo. Por exemplo, até recentemente, acreditava-se que as fossas eram noturnas – já que eram muito difíceis de encontrar na natureza. No entanto, as fossas dormem e caçam tanto durante o dia quanto à noite, dependendo do humor ou das circunstâncias.Elas usam principalmente o olfato para se comunicar e se localizar, marcando rochas, árvores ou até mesmo o solo com glândulas odoríferas que ficam no peito e sob a base da cauda – e liberam um cheiro forte quando o animal está irritado ou assustado.Um dos únicos momentos em que parecem vocalizar é durante a época de reprodução, quando a fêmea mia para atrair os machos, enquanto os machos uivam quando competem por uma fêmea. Uma fossa também pode rugir para se defender ou intimidar outra fossa. Por sua vez, os filhotes fazem um som de ronronar quando estão mamando ou perto da mãe, além de fazerem um som agudo para chamar sua atenção.A fossa é um animal vulnerávelFossa via Yinan Chen/Wikimedia CommonsClassificada como vulnerável pela IUCN, restam apenas cerca de 2.600 a 8.600 fossas na natureza, e a fragmentação do habitat continua sendo seu maior desafio. A colonização humana destruiu 90% da área de distribuição natural deste mamífero, e trouxe consigo caçadores que fazem das fossas grandes alvos, alegando proteger seu gado e demais criações.Ademais, o desmatamento devido à exploração madeireira de árvores tropicais raras e às plantações de óleo de palma continuam a reduzir o habitat do animal. Isso levou a um declínio drástico na população de várias espécies, incluindo a fossa.Embora parques nacionais e reservas ofereçam algum refúgio, sua sobrevivência também depende dos seres humanos. Os esforços de conservação visam proteger as florestas de Madagascar, aumentar a conscientização e promover práticas sustentáveis de uso da terra que equilibrem as necessidades humanas com a proteção da vida selvagem. Programas de reprodução em cativeiro também contribuíram com informações valiosas sobre a espécie e sua preservação.O post Estes animais parecem uma mistura de gato com cachorro – mas não são nem um, nem outro apareceu primeiro em Olhar Digital.