StartupiRevolução fintech: transformando o acesso ao crédito para pequenos negócios*Por Anderson Pereira Meu pai, Sr. Antonio Pereira, o famoso Toninho do Ferro-velho, começou vendendo latinhas de alumínio e cresceu até gerenciar seu próprio ferro-velho, uma operação que emprega cerca de 10 pessoas e ajuda a economia local circular. Apesar de tudo que construiu, encarou um obstáculo que impedia seu negócio de crescer: o difícil acesso a crédito para capital de giro. A história dele não é isolada. É uma realidade comum para as mais de 21 milhões de pequenas e médias empresas no Brasil. Elas são motores vitais de inovação, criação de empregos e desenvolvimento econômico em todo o mundo. No Brasil, elas representam 99% de todas as empresas do nosso país, são aproximadamente 30% do PIB, 40% das nossas importações e são responsáveis por 6 em cada 10 empregos gerados. No entanto, essas frequentemente enfrentam desafios formidáveis para garantir o financiamento necessário para prosperar. Altas taxas de juros, exigências rigorosas de garantias e obstáculos burocráticos criam um déficit de financiamento que não apenas prejudica negócios individuais, mas também atrasa o progresso econômico mais amplo.Essa é uma questão estrutural que não afeta apenas empresários como meu pai, mas a economia do país como um todo. O futuro do crescimento econômico depende da nossa capacidade de abrir novas portas para esses empreendedores, modernizar o sistema financeiro e explorar a tecnologia como aliada para democratizar o acesso ao capital. O alto custo do empréstimoO cenário de crédito para PMEs aqui é, para dizer o mínimo, brutal. Dados recentes do Banco Mundial revelam uma realidade difícil de explicar: o Brasil possui algumas das taxas de juros mais altas do mundo para empréstimos. Em 2021, segundo a instituição, a taxa média anual para empréstimos superou a de diversas economias emergentes — até mesmo de países em situações críticas de instabilidade.Pense nisso: um empresário no Afeganistão, em meio ao caos contínuo que o país enfrenta; na Ucrânia, lidando com uma guerra devastadora; no Iêmen, onde uma guerra civil persiste há 10 anos; ou ainda em Honduras, onde mais de 70% da população vive abaixo da linha da pobreza. Todos esses empresários enfrentam conseguem acessar linhas de crédito a taxas mais baixas do que um empresário hoje no Brasil. Segundo dados do Banco Mundial, um empreendimento no Brasil parece ofertar mais risco do que países em guerra ou em condições extremas.Como explicar que, em países onde o sistema financeiro luta para sobreviver e as incertezas econômicas e sociais são infinitamente maiores, os empresários locais encontram opções de crédito mais viáveis e acessíveis do que os pequenos empreendedores brasileiros? Isso levanta questões sérias sobre as barreiras sistêmicas que o mercado local impõe às suas PMEs — e sobre a urgência de transformar essas condições se quisermos fomentar o crescimento e a inovação no país.Essa pressão financeira contrasta fortemente com os princípios fundamentais da concorrência de mercado. Em teoria, altas margens de lucro nos empréstimos deveriam atrair novos players, aumentando a competição e reduzindo os custos. No entanto, no mercado de financiamento de PMEs no Brasil, esse mecanismo falha devido a imperfeições sistêmicas.Raízes do déficit de financiamentoSe há uma coisa que me empolga sobre o mercado brasileiro de crédito para PMEs, é o tamanho da oportunidade para quem tem coragem de enfrentar os desafios estruturais que afastam tantos empreendedores. Não estou falando de um obstáculo simples, mas de um déficit de financiamento para esse grupo estimado em $600 bilhões de dólares (R$3,5 trilhões em cotações atuais) pelo IFC. Isso é maior que todo o total de crédito para empresas no Brasil, que hoje é de R$2,4 trilhões — divulgados pelo Banco Central em outubro de 2024. Um mercado massivo que, embora ainda seja uma barreira para que pequenos e médios empreendimentos prosperem nesse segmento, representa uma chance de ouro para quem quiser inovar, remover barreiras e transformar esse setor.Os desafios em construir negócios que gerem valor para este segmento é conhecer bem as barreiras. Eu poderia resumir em cinco principais pontos:Concentração de mercado e pouca concorrênciaHoje 4 bancos detêm quase 60% do crédito no Brasil, segundo o Relatório de Economia Bancária de 2023, publicado pelo Bacen. As barreiras regulatórias e burocráticas, acabam dificultando a competição e criando uma dinâmica monopolística. O sistema financeiro brasileiro é envolto em uma teia de regulamentações antigas e rigorosas muitas obviamente fundamentais e necessárias, no entanto, outras criam um peso desproporcional para novos entrantes e inibem inovações. Para competir aqui precisa conhecer bem o que faz.Dificuldade do acesso às garantiasA maioria dos bancos exige ativos reais como imóveis para conceder crédito, mas a verdade é que muitos pequenos empreendedores simplesmente não têm esse tipo de garantia. E o mais frustrante? Ativos móveis, como maquinário ou estoque, muitas vezes são ignorados por causa de legislações ultrapassadas e da incerteza sobre a execução dessas garantias. Alto custo de serviçoProcessar, avaliar e monitorar um pequeno empréstimo custa quase tanto quanto um grande, e os bancos muitas vezes não conseguem justificar o esforço. Se pudermos desenvolver sistemas que automatizam esse processo, eliminando etapas manuais e simplificando as avaliações, poderemos tornar o financiamento de PMEs mais viável e lucrativo para as instituições financeiras.Educação FinanceiraPor fim, temos o desafio do analfabetismo financeiro. Muitos empreendedores não têm a orientação ou o conhecimento para navegar no complexo mundo das taxas de juros e empréstimos. Meu pai mesmo não os tinha. Eles se deparam com jargões bancários, termos técnicos e uma infinidade de opções de financiamento que, na falta de clareza, só geram confusão e frustração. Para quem tiver a visão e a determinação de criar soluções para esses problemas, o potencial de transformar o ecossistema de crédito para PMEs no Brasil é ilimitado. O futuro nos oferece esperançaO cenário regulatório brasileiro está cada vez mais favorável ao desenvolvimento desse mercado. O Banco Central, através das Circulares 3.743, em 2015, 3.924, em 2018, e 3.952, em 2019, bem como a Resolução 175 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), refletem uma abordagem progressiva dos reguladores para estimular a inovação, a transparência e a segurança no mercado financeiro, viabilizando o desenvolvimento de novas tecnologias e criando uma base sólida para o crescimento do setor de crédito para PMEs.O próximo passo dessa evolução é a transformação tecnológica. A infraestrutura que será criada para originação, o processamento e a coleta dessas operações de crédito para PMEs oferece uma oportunidade de ouro em um mercado trilionário. Estamos diante da possibilidade de ver, nesta década, a construção de uma infraestrutura específica de financiamento que ocorrerá fora dos grandes bancos. Isso trará uma evolução no setor bancário para pequenas e médias empresas tão significativa quanto a que ocorreu para pessoas físicas na década passada. Tecnologias disruptivas como IA, Machine Learning e Blockchain, aliadas a uma regulação pró-competição e de fomento à inovação, têm o potencial de resolver as principais raízes do déficit de financiamento para PMEs no Brasil.Diversas inovações estão emergindo para enfrentar esses desafios estruturais, criando novas oportunidades e promovendo uma verdadeira disrupção no setor. Estou animado para ver as cenas dos próximos capítulos deste mercado.*Anderson Pereira é fundador e CEO da fintech de crédito Kapitale.Aproveite e junte-se ao nosso canal no WhatsApp para receber conteúdos exclusivos em primeira mão. Clique aqui para participar. Startupi | Jornalismo para quem lidera inovação!O post Revolução fintech: transformando o acesso ao crédito para pequenos negócios aparece primeiro em Startupi e foi escrito por Convidado Especial