A nova liderança fala com empatia. Netta Jenkins explica como chegar lá

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Imaginemos uma empresa tecnológica em Lisboa que cresce rapidamente e, de repente, um terço das suas novas contratações são imigrantes. À primeira vista, tudo parece um caso de sucesso — diversidade, talento global, energia nova. Mas o entusiasmo esbarra na realidade: o onboarding é feito apenas em português, o silêncio dos recém-chegados é confundido com fraqueza, as reuniões são dominadas pelos insiders e as avaliações penalizam quem não domina a língua.Foi este o cenário que Netta Jenkins, CEO da Aerodei, traçou na Leadership Summit Portugal para ilustrar o que está em jogo quando a liderança não é verdadeiramente inclusiva. Um líder preparado para enfrentar o desafio, explicou, aplicaria a sua fórmula PASS, começando por ouvir, ajustar rituais, criar pontes culturais e medir resultados. «O impacto é claro», garantiu Jenkins. «A retenção e a produtividade sobem, surgem novas ideias e a empresa ganha reputação como íman de talento.»No palco da Leadership Summit Portugal, na talk “The Inclusive Leadership Equation”, a autora trouxe uma premissa simples: líderes inclusivos “assumem as suas imperfeições” e tomam responsabilidade — começando pelas suas.PASS: a fórmula da liderança inclusivaDa combinação entre Pessoas, Agilidade, Pensamento orientado à solução e Sistemas nasce a fórmula PASS, que Netta Jenkins define como o coração da sua «equação da liderança inclusiva».As pessoas são a base da confiança; os sistemas garantem sustentabilidade; a agilidade assegura resiliência; e o pensamento orientado à solução impulsiona o progresso.«Líderes rígidos quebram; líderes ágeis, dobram e recuperam», resume Jenkins. Ser orientado para a solução é, diz, «recusar ficar preso no problema» e treinar a equipa para sair do “por que não vai funcionar” e entrar no “como é que fazemos isto resultar”.No exemplo prático de uma empresa lisboeta com muitos imigrantes, um líder inclusivo aplicaria a PASS promovendo escuta ativa — com listening sessions semanais centradas em duas perguntas: «O que está a travar o teu melhor trabalho?» e «De que apoio precisa de mim esta semana?».Ajustaria também rituais e processos (com tradução, mentores culturais e rotação de facilitadores), criando microssistemas de colaboração (documentação acessível, buddy system) e ligando cada mudança a resultados concretos.Falhar, desaprender e reconstruir a liderançaJenkins não romantiza o caminho. «Eu não acordei como uma líder inclusiva», admitiu. «Tive de experimentar o fracasso que tirou o meu ego e me obrigou a reconstruir a forma como lidero.»Durante anos, motivou equipas com bónus e dinheiro, mas «não perguntava de forma consistente como podia apoiar melhor» nem «como podia melhorar enquanto líder». A lição chegou de forma dura: «Quando não conhecem o ‘porquê’ das suas pessoas, não ficam com as suas pessoas.»O seu momento definidor chegou em 2023, altura em que criou uma plataforma que media o comportamento dos colaboradores e o ligava ao impacto financeiro — dados que «ajudaram a assegurar um negócio de 8 milhões de dólares.»Pouco depois, foi nomeada CEO desse produto. O que mais a marcou, porém, foi o que aconteceu a seguir. «Quando saí para construir essa nova empresa, a minha equipa inteira seguiu-me. Escolheram receber menos, escolheram a incerteza de uma startup, escolheram construir algo do zero — tudo porque confiavam em mim», explicou.Esse é o verdadeiro poder da liderança inclusiva: as pessoas seguem e confiam em si, mesmo no desconhecido.A equação tem duas camadas: pessoas e sistemasPara Jenkins, há um erro recorrente nas organizações: focam-se em mudar pessoas e ignoram o ambiente em que essas pessoas operam. «A liderança inclusiva tem duas camadas. Há as pessoas e há os sistemas.» E deixa o alerta: «Pode ser o líder mais gentil e atento do mundo, mas se não enfrentar esses processos legados que silenciosamente prejudicam as suas pessoas, não é um líder verdadeiramente inclusivo.»E exemplos não faltam. A engenheira brilhante que “resolvia os problemas mais difíceis”, mas recebia avaliações medianas porque o sistema só contava tarefas entregues — não a complexidade nem a mentoria. Ou a empresa que “celebrava a aquisição de clientes acima de tudo” e ignorava o customer success. Ou seja, sistemas mal desenhados “minam os resultados que dizem valorizar.”Como mexer neles? Três passos práticos: auditar «um sistema por trimestre» perguntando «quem beneficia e quem é prejudicado»; co-criar soluções com quem vive os processos; e ligar cada mudança a business outcomes. «Os executivos ouvem quando os sistemas estão ligados ao impacto», acrescentou a CEO.No fim, Netta Jenkins devolveu a responsabilidade à audiência: «A verdadeira liderança inclusiva é construir confiança profunda com as suas pessoas, confrontar os sistemas que as minam silenciosamente e redesenhá-los para alinhar necessidades humanas e impacto no negócio.» Assista ao momento completo na Líder TV:Netta Jenkins – The Inclusive Leadership Equation Aceda à galeria de imagens completa aqui.Todos os conteúdos estão disponíveis na Líder TV e nos canais 165 do MEO e 560 da NOS. O conteúdo A nova liderança fala com empatia. Netta Jenkins explica como chegar lá aparece primeiro em Revista Líder.