Remessas das big techs ao exterior disparam e impostos recuam no Brasil

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As grandes empresas de tecnologia — as chamadas big techs — ampliaram de forma significativa a fatia do faturamento obtido no Brasil que é enviada para fora do país entre 2014 e 2024. No mesmo período, a participação dos impostos sobre essas remessas diminuiu, mesmo com o crescimento expressivo da receita das plataformas no mercado brasileiro.Os dados, obtidos pela Folha de S. Paulo junto à Receita Federal, mostram um movimento consistente de expansão das remessas e de mudanças na composição tributária do setor, que hoje está inserido em um cenário de discussões sobre competitividade, carga fiscal e regulação de empresas globais de tecnologia.Dados da Receita Federal mostram crescimento consistente das remessas de big techs do Brasil para o exterior (Imagem: Diego Thomazini / Shutterstock.com)Envio de receita ao exterior supera metade do totalSegundo os números da Receita, as big techs aumentaram em 323% a parcela do faturamento remetido ao exterior na última década. Em 2014, 17,12% da receita brasileira dessas empresas era enviada para outros países. Em 2024, a proporção chegou a 55,66%, ultrapassando a marca de metade do faturamento.O pico ocorreu em 2023, quando as remessas representaram 61,87% do total faturado. Em valores absolutos, o salto foi ainda mais evidente: de R$ 2,8 bilhões em 2014 (ou R$ 4,93 bilhões corrigidos pelo IPCA) para R$ 80,3 bilhões em 2024.Receita cresce 585% em dez anosO faturamento bruto das plataformas acompanhou esse movimento. Entre 2014 e 2024, o avanço foi de 585%, passando de R$ 21,327 bilhões (corrigidos pelo IPCA) para R$ 144,3 bilhões.Ao mesmo tempo, a carga tributária federal incidente sobre o faturamento bruto subiu de 17,9% para 22,7%, uma alta de 13%. Os dados consideram a atuação de Amazon (incluindo AWS), Apple, Facebook, Google, Google Cloud, Microsoft e Nvidia no Brasil.Big techs tiveram crescimento de receita, a carga tributária federal sobre o faturamento subiu, mas os impostos ligados às remessas caíram (Imagem: gguy / Shutterstock)Por que a carga sobre remessas caiuEmbora as big techs frequentemente citem o peso dos tributos no país, os impostos especificamente ligados às remessas diminuíram proporcionalmente no período. Eles representavam 30,42% em 2014 e passaram a 22,13% em 2024.As alíquotas, no entanto, não mudaram. O que se alterou foi o perfil das remessas. Enviados com finalidades como royalties, que possuem incidência média menor, passaram a ter maior participação. Já as remessas relacionadas a rendimentos do trabalho, que costumam ter taxação superior, perderam espaço.Comparação com outros setores da economiaO levantamento da Firjan — com dados da Receita, Tesouro Nacional, Confaz, Caixa e IBGE — indica que o setor de tecnologia não está entre os mais tributados do país.A maior carga total recai sobre a indústria de transformação, com 49,2%. Na outra ponta estão agropecuária e indústria extrativa, com 8%. Serviços, categoria que engloba empresas de tecnologia, instituições financeiras e outros segmentos, aparecem com 29,7%.Considerando apenas tributos federais, a indústria também lidera, com 23,2%. Os serviços ficam em segundo lugar, com 16,9%.Em nota, Jonathas Goulart, economista-chefe da Firjan, afirmou que “a indústria já aparece como o setor que mais paga tributos no Brasil”, destacando o peso do ICMS sobre a produção industrial.Leia mais:Ministério da Fazenda apresenta proposta para regular big techs5 big techs que fecharam as portasBig techs: o que são e quais integram as Big Five?Posição das empresas de tecnologiaA Câmara Brasileira da Economia Digital (camara-e.net), que representa empresas como Amazon, Google e Meta, defende que o setor está entre os grandes contribuintes do país e tem papel relevante no desenvolvimento econômico brasileiro.A entidade encaminhou um parecer técnico elaborado pela consultoria LCA, com dados da Receita, indicando que as empresas de serviços digitais recolhem, em média, 16,4% da receita bruta em tributos federais — valor considerado mais que o dobro da média dos demais setores (6,1%).Representantes das big techs destacaram as contribuições das empresas para o desenvolvimento econômico do país (Imagem: Tada Images / Shutterstock.com)Nas companhias enquadradas no regime de lucro real, a carga chega a 18,3% da receita, acima do índice de empresas de lucro presumido, de 12,8%.Sobre o aumento das remessas, a entidade afirma que essa prática faz parte do funcionamento natural de empresas globais, sobretudo no caso de operações de tecnologia intensivas em propriedade intelectual e serviços internacionais.O post Remessas das big techs ao exterior disparam e impostos recuam no Brasil apareceu primeiro em Olhar Digital.