Um campo no leste da Inglaterra revelou evidências do caso mais antigo conhecido de humanos criando e controlando o fogo, uma descoberta significativa que, segundo arqueólogos, ilumina um ponto de virada dramático na história da humanidade.Em Barnham, Suffolk, a descoberta de terra cozida que formava uma lareira, machados de sílex quebrados pelo calor e dois fragmentos de pirita — um tipo de pedra usada para criar faíscas para acender brasas — indica que os primeiros humanos, muito provavelmente Neandertais, eram capazes de fazer e manter fogueiras. Leia mais Cientistas descobrem segredos do concreto romano antigo em Pompeia Pedreira da Ilha de Páscoa dá pistas de estátuas enigmáticas dos polinésios Arqueólogos decifram os intrigantes 5 mil buracos feitos pelos incas “Este é um sítio de 400 mil anos onde temos a evidência mais antiga da produção de fogo, não apenas na Grã-Bretanha ou Europa, mas de fato, em qualquer outro lugar do mundo”, disse Nick Ashton, curador das coleções paleolíticas do Museu Britânico em uma coletiva de imprensa. Ashton é o autor principal de um estudo sobre o sítio de Barnham publicado nesta quarta-feira (10) na revista Nature.“É a descoberta mais emocionante dos meus 40 anos de carreira”, acrescentou.Ilustração artística das faíscas produzidas pelo atrito da pirita com sílex • Craig Williams/The Trustees of the British Museum via CNN NewsourceQuando e onde os humanos começaram a fazer fogo deliberadamente e a cozinhar alimentos estão entre as maiores questões que há muito intrigam os pesquisadores das origens humanas.A capacidade de fazer fogo teria permitido aos humanos que viviam em Barnham se manterem aquecidos, afastar animais selvagens e cozinhar regularmente seus alimentos, tornando-os mais nutritivos. E ser capaz de controlá-lo poderia ter trazido benefícios práticos, como o desenvolvimento de adesivos e outras tecnologias, além de proporcionar um foco para interação social como a contação de histórias.Os artefatos descobertos no local são 350 mil anos mais antigos que a evidência anterior conhecida de produção de fogo no registro arqueológico, que era de um sítio no norte da França. Ashton observou, no entanto, que é improvável que a capacidade de acender fogo tenha surgido primeiro em Barnham.“Acho que muitos de nós tínhamos um palpite de que havia uso regular do fogo na Europa há cerca de 400 mil anos. Mas não tínhamos as evidências”, disse Ashton.O sítio arqueológico em Barnham, Suffolk • Jordan Mansfield via CNN NewsourceDeterminar como e quando os humanos aprenderam pela primeira vez a dominar o calor é um desafio para os arqueólogos. Evidências raramente sobrevivem. Cinzas e carvão podem ser facilmente levados pelo vento e sedimentos queimados podem se erodir.É difícil distinguir entre um incêndio natural e um provocado por humanos.De acordo com o estudo, artefatos indicam a presença de fogo em locais habitados por humanos em Israel, Quênia e África do Sul, datando de 800 mil a mais de 1 milhão de anos atrás. No entanto, é difícil descartar a possibilidade de que fossem incêndios naturais não iniciados por humanos.Segundo o estudo, os primeiros humanos provavelmente começaram a aproveitar o fogo causado por raios ou outras causas naturais, talvez conservando brasas por um período, mas seria um recurso imprevisível.As descobertas em Barnham, no entanto, sugerem que seus habitantes já eram capazes de acender e usar o calor de forma rotineira e deliberada.Arqueólogos trabalhando perto dos restos de uma fogueira de 400.000 anos • Jordan Mansfield via CNN NewsourceProva definitivaA equipe analisou o sedimento avermelhado de Barnham e determinou que suas propriedades químicas diferiam daquelas esperadas em um incêndio natural. Por exemplo, a assinatura dos hidrocarbonetos sugeria temperaturas mais altas da queima concentrada de madeira, em vez de uma queima em toda a paisagem. A alteração mineral do sedimento também indicava queimas repetidas no mesmo local.No entanto, a prova definitiva foram os dois pedaços de pirita de ferro, às vezes chamada de ouro dos tolos, que podem ser usados para bater contra sílex, criando faíscas capazes de acender materiais como fungos secos. Como esse mineral não estava disponível no ambiente imediato, isso sugere que essas pessoas entendiam suas propriedades de fazer fogo e haviam procurado o mineral deliberadamente, relataram os pesquisadores no estudo.O que impressiona nesta pesquisa é a ampla gama de métodos analíticos aplicados ao problema, disse John McNabb, professor de arqueologia paleolítica do Centro de Arqueologia das Origens Humanas da Universidade de Southampton, que não participou do estudo.“O fogo traz muitos benefícios. Pode ser uma ferramenta de defesa. Pode ajudar a tornar sua comida mais nutritiva. Pode prolongar o dia e tornar seu tempo de trabalho mais produtivo por mais tempo. O fogo pode ajudar a unir indivíduos em sociedades”, disse McNabb por e-mail. “Mas se você não o controla, então você ainda está à mercê da paisagem — todos os seus benefícios podem ser transitórios”“Controlar o fogo é começar a controlar o mundo ao seu redor.”Um machado de mão quebrado pelo calor, um dos dois encontrados perto da lareira de 400.000 anos • Jordan Mansfield via CNN NewsourceOs machados de sílex confirmam a presença humana no local, embora nenhum osso de hominídeo tenha sido encontrado em Barnham.Chris Stringer, coautor do estudo e líder de pesquisa em evolução humana do Museu de História Natural de Londres, afirmou que os primeiros Neandertais eram conhecidos por terem vivido a cerca de 130 quilômetros de distância, em Swanscombe, Kent, no mesmo período, tornando-os os candidatos mais prováveis a terem feito fogo no local. Segundo ele, eles provavelmente vieram da Europa, que na época estava conectada por uma ponte terrestre.“Um dos aspectos interessantes agora é usar as técnicas que demonstraram a produção de fogo em Barnham e verificar se, ao examinarmos outros locais com mais detalhes, podemos encontrar as mesmas evidências em outros sítios na Grã-Bretanha, na Europa e talvez até além”, disse Stringer.Arqueólogos encontram passagens secretas subterrâneas incas