O anúncio feito pelo presidente Lula, dando 60 dias para quatro ministérios apresentarem o primeiro esboço do “mapa de saída” dos combustíveis fósseis, é mais do que um gesto político pós-COP30: é a tentativa de organizar um plano nacional para a transição energética em um momento em que o mundo cobra mais ação e menos discurso. Segundo o governo, Fazenda, Minas e Energia, Meio Ambiente e Casa Civil serão responsáveis por construir um roteiro que detalhe como o país pode reduzir gradualmente a dependência de petróleo, gás e carvão. O plano inclui também a criação de um Fundo de Transição Energética, financiado com recursos vindos do próprio petróleo. Do ponto de vista institucional, é um movimento importante. O Brasil não possui hoje um documento que unifique metas, prazos e caminhos para abandonar os fósseis. A decisão responde a um contexto em que a pressão por políticas de adaptação e mitigação se intensifica, e em que o país busca se posicionar como liderança climática após ter sediado a COP30. Mas o anúncio convive com uma contradição: o mesmo governo que fala em transição amplia o interesse na exploração de petróleo na Margem Equatorial, região que concentra algumas das maiores disputas ambientais atuais. Essa convivência entre ambição climática e expansão do petróleo cria ruído político e questionamentos sobre a coerência da estratégia energética brasileira. Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp! WhatsApp O fundo proposto também levanta debates. Nele, o recurso do petróleo financiaria a transição para um modelo menos dependente do próprio petróleo. Para especialistas, o desenho final vai mostrar se esse fundo será um instrumento real para financiar energias limpas ou apenas mais um mecanismo impreciso, sem impacto estrutural. Ao dar 60 dias para a elaboração do esboço, Lula sinaliza que o tema entrou formalmente na agenda do governo. Mas o resultado desse plano — e sua robustez — é que vai dizer se o país está disposto a enfrentar a disputa política, econômica e ambiental que uma transição energética verdadeira exige. Leia também Ventos de 90 km/h e granizo: ciclone extratropical ameaça novos estados Defesa Civil de SP emite alerta de tempestades entre terça e quinta-feira