Na tarde dessa quinta-feira (10/12), quando o ônibus escolar estacionou próximo à arena do BSB Fight, em Ceilândia, não eram apenas crianças descendo em fila. Eram sonhos caminhando em pequenos passos, olhos atentos, vozes agitadas e uma expectativa difícil de medir.Para muitos daqueles estudantes da rede pública, aquela não era apenas uma visita a um evento esportivo, era o primeiro contato real com um universo que, até então, existia apenas pela televisão, pelo celular ou pela imaginação.A ação social fez parte da programação oficial do BSB Fight 3, que segue até amanhã, 12 de dezembro, na Praça da Bíblia, reunindo esporte, educação e inclusão.O evento tem entrada gratuita, mediante retirada de ingressos pela plataforma Sympla.A proposta foi simples, mas poderosa: mostrar que o esporte pode ser mais do que competição, pode ser oportunidade e mudança de destino.Entre tatames, luvas, histórias de vida e abraços apertados, a arena se transformou em uma verdadeira sala de aula sem paredes.Crianças interagem com instrutores durante prática guiada de artes marciaisQuem já sonha em lutarAos 12 anos, Laura Gabrielly já carrega no corpo e na fala a firmeza de quem conhece a disciplina. Praticante de karatê, ela participou da ação com naturalidade, mas sem esconder a felicidade.“Foi muito bom participar. O meu professor sempre me ensinou a me movimentar, a tocar, a ter controle”, contou.Ao lado dos colegas da escola, Laura viveu uma experiência diferente da rotina escolar. Para ela, poder mostrar ao professor e aos amigos o que aprendeu naquele dia foi motivo de orgulho.Laura Gabrielly: “Eu quero ser lutadora. Isso me faz me dedicar e ter esperança”William Cristian, de 11 anos, chegou tímido, mas bastou assistir às demonstrações e ouvir as histórias dos atletas para que a empolgação tomasse conta. Pulava, sorria, apontava para o tatame. A experiência foi marcante.William Cristian: “Quando eu vi o lutador, aí deu mais vontade ainda. Eu acho que deu vontade em todo mundo de ser lutador”Ponte para novos caminhosQuem acompanhava o grupo com atenção era o diretor James Maynard Silva, do CEF Professora Maria do Rosário, em Ceilândia. Para ele, levar os alunos ao BSB Fight era mais do que um passeio, era uma extensão do papel da escola.Segundo ele, a experiência começa muito antes da chegada à arena. “No ônibus eles vêm cheios de energia, brincando, cantando. Depois, aqui, prestam atenção nas histórias de vida dos atletas, em como eles chegaram até ali. Eles aprendem sobre disciplina, esforço e também sobre como lidar com a fama.”Para o educador, o impacto é visível: “Com certeza eles vão sair inspirados. Eles veem que tudo começa em algum lugar. Muitos atletas foram alunos de escola pública como eles”.Diretor James Maynard Silva: “Quando um evento dessa magnitude vem para a nossa cidade, a gente precisa aproveitar e trazer as crianças. Elas gostam muito de artes marciais”Quando o exemplo vem do tatameA atleta Caroline Foro, conhecida como Anabelle, é uma das referências que mais emocionaram as crianças. Profissional do MMA, ela compartilhou a trajetória de forma simples e direta.“Eu comecei adolescente, treinando trocação: boxe, kickbox, muay thai, karatê. Teve uma fase difícil para sustentar o esporte, parei um tempo. Depois conheci meu treinador, fui para o MMA e continuei. Não foi rápido, foi um caminho pesado, mas deu certo”, relatou.Natural do Pará e moradora de Samambaia, Anabelle contou que nunca imaginou que o esporte a levaria tão longe.Ali, mais do que falar de vitórias, ela apresentou às crianças algo ainda mais valioso: a persistência.Anabelle: “Eu nunca achei que ia conhecer outros países por causa do esporte. Hoje posso falar para eles que isso é possível”Projetos que nascem para transformarÀ frente da formação de novos atletas está o treinador Roger Vieira, que há mais de duas décadas organiza eventos e desenvolve talentos em Brasília. Para ele, a ação social do BSB Fight é parte essencial do projeto.“Nosso trabalho não tem fins lucrativos. A gente dá aula, cuida da carreira dos atletas e cria oportunidades.”, contou.Sobre a presença das crianças, o treinador destaca o impacto direto: “No último evento, depois das palestras, muitas crianças levaram os pais para assistir. Só isso já mostra como a semente foi plantada”.Roger Vieira: “Brasília é um celeiro de atletas para o mundo. A gente já trouxe atletas de outros países e também revelou lutadores que hoje estão nos maiores palcos”O esporte como transformação socialA ação social promovida dentro da programação do BSB Fight integra um projeto contínuo de inclusão por meio do esporte.De acordo com dados do Ministério do Esporte, projetos esportivos em regiões vulneráveis reduzem em até 30% a evasão escolar e aumentam significativamente os índices de disciplina, socialização e autoestima entre crianças e adolescentes.Além do caráter social, o BSB Fight se destaca por ser um evento totalmente gratuito ao público, o que amplia o acesso da população, especialmente de comunidades periféricas, ao esporte de alto rendimento e a experiências que, muitas vezes, seriam restritas apenas a grandes centros ou eventos pagos.A ação contou com o apoio institucional do Instituto de Desenvolvimento Social Brasileiro (Inbras), entidade responsável por fomentar projetos de impacto social por meio do esporte, da educação e da cidadania no Distrito Federal.BSB Fight 3Datas: até 12 de dezembroLutas oficiais: 12 de dezembro, a partir das 18hLocal: Praça da Bíblia – Ceilândia (DF)Entrada gratuita, com retirada de ingressos via SymplaO Metrópoles fará transmissão ao vivo do card principal pelo YouTube.