Você já deitou exausto achando que ia apagar em dois minutos e, no lugar disso, veio o festival mental: listas, cobranças, diálogos imaginários, trechos de e-mails que você nem escreveu e a clássica exigência que surge sempre às 2h47 da manhã: “Preciso dormir senão amanhã não vou aguentar”. O corpo quer desligar, mas a cabeça debocha. Se isso parece familiar, parabéns. Seu sono entendeu o burnout antes de você. Pesquisas da Universidade de Stanford mostram que períodos prolongados de estresse reduzem a profundidade do sono. Em outras palavras, você dorme, mas quem descansa é só o travesseiro. E a Universidade de Harvard reforça que bastam alguns dias de tensão para bagunçar sua arquitetura do sono. Dezembro chega e tudo se intensifica. É meta, fechamento, cobrança, planejamento do ano seguinte e aquele desejo secreto de faltar em todos os eventos sociais, mas sem parecer antissocial. É aqui que o cérebro pergunta: “E se eu simplesmente não desligar?”. A Universidade de Chicago explica que isso acontece porque a sobrecarga aumenta a hipervigilância. É como se a cabeça resolvesse trabalhar no turno da madrugada, sem ganhar hora extra. Há uma fantasia coletiva de que tudo precisa ser resolvido antes do ano acabar. Quem inventou isso? Não sei, mas merecia uma reunião de feedback. Criamos a ilusão de que, se limparmos a vida até o dia 31, o universo vai conspirar para novas oportunidades. Quando acelera demais, sua ansiedade aumenta drasticamente e a probabilidade de você começar o ano corrigindo falhas do passado é ainda maior. O sono, que deveria ser aliado, vira um acessório que tentamos controlar no botão. Não surpreende que, em 2025, tantas manchetes tenham destacado o uso exagerado de remédios para dormir. Forçamos o corpo desligar na hora que achamos conveniente e o excesso de Zolpidem, tarja preta e compras absurdas mesmo dormindo viraram pauta. E, se você acha que não tem problemas com o sono por apagar a qualquer momento, já te adianto que não é bem assim, viu? Aliás, isso significa que suas noites não têm sido tão reparadoras quanto deveriam. Dormir é o sistema que reinicia o organismo para o dia seguinte. É nesse período que o cérebro reorganiza memórias, regula emoções e ajusta hormônios e neurotransmissores, além de equilibrar funções como pressão arterial e metabolismo. Ou seja, quando o sono falha, o nosso sistema operacional trava. No dia seguinte, o corpo devolve isso, inclusive com uma ressaca emocional. Noites mal dormidas aumentam reatividade. O que isso significa na prática? Que depois daquela confraternização em plena terça-feira, você provavelmente responde mais agressivamente, interpreta comentários neutros como ataques e lê intenções que não existem. Por isso, evitar reuniões tensas e até o famoso feedback no dia seguinte é seu presente de final de ano. E, ah, se você começou a pensar: “Será que sou eu ou o mundo ficou insuportável?”. Spoiler: geralmente é só falta de sono mesmo. O burnout amplifica tudo. Interagir deixa de ser um momento para risadas e passa a ser mais um desgaste na lista. A exaustão é a porta de entrada, mas o que realmente sustenta o diagnóstico é a sensação de desvalorização. Surge aquele pensamento sutil, quase inaudível: faço tanto e parece tão pouco. E não ajuda quando alguém insinua o mesmo. A autoestima desce a ladeira e, junto dela, a convicção de que você não está dando conta. Para piorar, a impressão é que todo mundo consegue, menos você. E, nesse ponto, o único comando interno que resta é desligar. Literalmente. Dormir. Uma boa risada pode ajudar, mas não há como forçar algo que precisa ser espontâneo para se tornar eficiente clinicamente. Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp! WhatsApp Antes do burnout passar pela porta, o sono bate à janela. Será que você está ouvindo ou colocou esse aviso na lista de coisas para resolver amanhã? No fundo, ninguém tem um burnout por falta de esforço. E sim, pelo excesso. O ponto não é o que falta fazer até o ano acabar. É o que você insiste em carregar mesmo sabendo que não vale os anos da sua vida. Leia também O desejo por quem nos tornamos perto de alguém