O próprio deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) admite que, até a manhã desta quarta-feira (10), o cenário era de que tivesse o mandato cassado pela Câmara — especialmente após ele ocupar a Mesa do plenário da Casa e ser retirado à força.No entanto, ao final da noite, o sentimento dele era de alívio por ter o mandato suspenso por seis meses — punição muito menos grave. Tanto que ele saiu do plenário comemorando o resultado com a esposa — a também deputada Sâmia Bonfim (PSOL-SP) —, aliados, assessores e apoiadores aos gritos de “Glauber fica”.“Essa soma do que aconteceu ontem, a solidariedade e o que aconteceu hoje que possibilitou que não tivessem votos suficientes pra operar uma cassação”, afirmou Glauber à CNN Brasil. Leia mais Câmara salva mandato de Glauber Braga e suspende deputado por seis meses Suspensão do mandato de Glauber: veja como votaram os deputados "Foi uma vitória coletiva", diz Glauber após Câmara salvar seu mandato “Em determinado momento se criou uma situação de impasse. Nem eles (oposição e centrão) nem nós tínhamos 257 votos. A apresentação da emenda da suspensão teve papel fundamental e garantiu que não tivessem força suficiente pra votar antes a cassação. Na minha avaliação, o que mais pesou foi o efeito do que aconteceu de ontem pra hoje e a mobilização nos estados e nas redes.”A articulação que mudou o jogo começou pela manhã, liderada pela líder da bancada do PSOL, Talíria Petrone (RJ). Ela buscou deputados considerados mais moderados de partidos do centrão, como do União Brasil, PP, PSD e MDB.Convenceu parte deles de que a cassação seria um exagero, por um “motivo torpe”, em relação a outros casos mais graves.Alas de deputados também ficaram preocupadas com a abertura de precedentes para situações futuras e a projeção de uma imagem ruim para a Câmara.Glauber foi alvo de processo por quebra de decoro parlamentar após se envolver em uma briga com um integrante do MBL (Movimento Brasil Livre) nas dependências do Congresso Nacional. O deputado disse que foi provocado, inclusive com ofensas à sua mãe.Outro fator de peso é que Talíria apresentou um destaque — sugestão de mudança no plenário — para aprovar uma emenda do líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), numa articulação conjunta da esquerda. Na prática, a mudança convertia a eventual cassação com inelegibilidade por oito anos na suspensão de seis meses.Precisava de ao menos 257 votos favoráveis. Passou com 318. O próprio PSOL e outras siglas de esquerda votaram a favor da suspensão para conseguir aprovar a punição mais branda em alternativa à cassação.Muitos deputados do centrão também votaram a favor da suspensão porque não sabiam se teriam votos suficientes para passar com a cassação. Estavam divididos. Por via das dúvidas, preferiram garantir alguma punição do que correr o risco de ver todo o processo contra Glauber arquivado.“É uma vitória do povo brasileiro e da democracia. Cassar um deputado por motivo torpe seria um ataque ao conjunto do Parlamento. O cenário de manhã era de cassação, mas havia um incômodo entre parlamentares que sabiam que isso seria uma marca muito grande para esse Parlamento”, disse Talíria à CNN Brasil.“Inclusive, quero reconhecer o compromisso [de partidos de centro] com o próprio Parlamento, apesar das grandes divergências que tenho e o PSOL tem com o Centrão em diferentes temáticas”, acrescentou.