O Sistema Cantareira, responsável por cerca de 40% do abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo, chega ao fim do ano em uma situação que técnicos classificam como sensível. A combinação entre volume baixo e recuperação lenta faz com que o reservatório possa entrar, já em janeiro, em uma faixa considerada “crítica inédita”. A comparação com 2016 ajuda a entender o tamanho do desafio. Naquele período, mesmo com níveis reduzidos, o sistema reagia melhor ao aumento das chuvas. Hoje, o comportamento é diferente: mesmo em plena estação chuvosa, a recarga acontece de forma mais lenta, o que indica um desequilíbrio entre o que entra e o que sai do reservatório. Parte desse cenário se explica por fatores ambientais. As áreas de nascentes enfrentam redução de cobertura vegetal ao longo dos anos, diminuindo a capacidade de infiltração da água no solo. Ao mesmo tempo, a expansão urbana amplia a impermeabilização, fazendo com que parte da chuva escoe rapidamente e não contribua para o lençol freático. O clima também tem um papel decisivo. Os eventos de chuva têm se tornado mais concentrados: períodos curtos de precipitação intensa, intercalados com longas fases de tempo seco. Esse padrão não favorece a recuperação gradual dos mananciais, que dependem de chuvas distribuídas ao longo das semanas. Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp! WhatsApp Diante desse contexto, algumas medidas já estão sendo discutidas pelos técnicos: ajustes operacionais, controle de perdas, ampliação de reuso e redução de pressão em horários específicos. São ações que buscam garantir estabilidade sem recorrer, por enquanto, a cenários mais restritivos. A situação atual reforça um ponto importante: sistemas como o Cantareira dependem de equilíbrio entre clima, ocupação do solo e proteção ambiental. A recuperação de áreas de nascente, a ampliação de vegetação no entorno dos mananciais e o planejamento do uso da água tornam-se fatores centrais para garantir segurança hídrica em períodos cada vez mais variáveis.Se janeiro confirmar o cenário projetado, o alerta servirá como um indicador de que o regime de chuvas e o comportamento dos mananciais estão mudando. E acompanhar esses sinais será essencial para evitar que a região volte a enfrentar episódios semelhantes aos de crises passadas. Leia também Ibirapuera é fechado por risco de queda de árvores UE fecha acordo para reduzir emissões de gases do efeito estufa até 2040