Na disputa de protagonismo entre os governos federal e estadual pelo novo hospital inteligente da Universidade de São Paulo (USP), a relação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a China, por meio dos Brics, pode ser um entrave para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), liderar o projeto. É o que argumenta o Ministério do Planejamento e Orçamento em novo capítulo da disputa.Segundo Viviane Vecchi, secretária de Assuntos Internacionais do ministério chefiado pela ministra Simone Tebet (MDB), o projeto prevê o uso de uma tecnologia chinesa na estrutura hospitalar, cuja negociação passa pelo Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o Banco dos Brics.“O banco dos BRICS vai nos ajudar a construir e a fazer a compra da tecnologia para o hospital”, diz Vecchi ao Metrópoles. “Quem é responsável pelo projeto? É o Ministério da Saúde, mas hoje seria possível o governo do estado de São Paulo financiar? Eles poderiam financiar, mas teriam que ter algum acordo com o banco dos BRICS, pela questão da tecnologia”, acrescenta.O projeto já foi aprovado pela Comissão de Financiamento Externo (Cofiex) do banco e, agora, precisa passar pelo board da instituição, que se reunirá novamente ainda em 2025 e tem outro encontro marcado para 2026. Leia também São Paulo Lula e Tarcísio disputam protagonismo em hospital inteligente da USP São Paulo Eduardo volta a atacar Tarcísio: “Candidato que Moraes quer” São Paulo Juiz contesta Tarcísio sobre doação de área protegida para aeroporto São Paulo Tarcísio pressiona Motta para Derrite ser relator do PL antiterrorismo Em um almoço na casa do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o governador de São Paulo teria dito a Ludhmila Hajjar, professora da USP e coordenadora do projeto, que poderia bancar o hospital com recursos estaduais sem o financiamento do Banco dos Brics.“O Governo do Estado de São Paulo tem espaço fiscal, mas essa questão da parceria com o Banco dos BRICS seria delicada, não é tão óbvio”, contestou Vecchi.A China não é o único país que desenvolve tecnologias avançadas de atendimento hospitalar. O argumento do governo estadual para bancar o hospital é reduzir o número de “players” no projeto e concentrar a governança do hospital, que o tornaria mais ágil.3 imagensFechar modal.1 de 3Reunião para tratar de novo hospital inteligente com integrantes do Ministério da Saúde e da USPThimótes Soares/Ministério da Saúde/Divulgação2 de 3Ludhmilla Hajar, idealizadora do projeto do hospital inteligente, em reunião na Faculdade de MedicinaMarcos Santos/USP/Divulgação3 de 3O ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), em reunião na Faculdade de MedicinaMarcos Santos/USP/DivulgaçãoDe qualquer forma, uma organização social teria de fazer a gestão do hospital. E o projeto, independente do protagonismo, só existirá com um convênio entre os governos federal e estadual, já que atenderá pelo Sistema Único de Saúde (SUS), atrelado à União, enquanto faz parte do complexo estadual do Hospital de Clínicas (HC), da USP.Mudança na regulação da telemedicinaUm outro entrave no projeto é o uso da telemedicina. Uma das principais inovações do hospital inteligente é usar a telemedicina para reduzir o tempo de atendimento de 17 horas para apenas 2 horas.As novas tecnologias, porém, devem demandar uma mudança na regulação da telemedicina vigente, tratada em resolução de 2022 do Conselho Federal de Medicina (CFM).Os números do novo hospitalO investimento para a construção do novo hospital é de cerca de R$ 2 bilhões, segundo a USP.O projeto arquitetônico consiste na construção de um prédio de 150 mil metros quadrados, em um terreno que pertence à Secretaria de Estado de Saúde, ao lado do HC.O ITMI terá 800 leitos para atendimentos de crianças e adultos nas áreas de neurologia, neurocirurgia, cardiologia, terapia intensiva e outras urgências.Segundo o Ministério da Saúde, o uso da inteligência artificial, das ambulâncias conectadas à tecnologia 5G e das telessaúde, o tempo de atendimento em casos graves pode ser reduzido de 17 horas para 2 horas.Além de São Paulo, o governo federal projeta instalar Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) inteligentes em outras nove capitais brasileiras: Belém, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Teresina.O novo empreendimento deve ser instalado em terreno doado pelo governo de SP ao lado do Hospital das Clínicas