A preocupação cresce entre os funcionários federais no icônico campus principal do Centro de Voos Espaciais Goddard da Nasa, em Greenbelt, Maryland — o centro nevrálgico de missões inovadoras como os telescópios espaciais Hubble e James Webb — à medida que mais de uma dúzia de edifícios no campus são esvaziados e trancados durante a paralisação do governo federal, com pouquíssimo aviso prévio aos funcionários, disseram quatro fontes que falaram à CNN sob condição de anonimato por medo de represálias. A liderança da Nasa tem refutado essas preocupações.Em um dos casos, funcionários afastados temporariamente receberam apenas alguns dias para retornar ao trabalho e ajudar a esvaziar prédios inteiros de equipamentos altamente especializados, de acordo com fontes e e-mails internos obtidos pela CNN. Nas comunicações, gerentes da Nasa escreveram que equipamentos não removidos a tempo — incluindo peças únicas — poderiam ser descartados ou doados.Em comunicado, um porta-voz da Nasa afirmou que o fechamento dos prédios faz parte de um plano de “consolidação estratégica” elaborado pelos líderes de Goddard e que não deve afetar os projetos em andamento. Cometa 3I/Atlas: quais devem ser os próximos trajetos do objeto WhatsApp lança aplicativo para Apple Watch com suporte a mensagens Ventilador tem que ficar virado para dentro ou para fora? Mas algumas das fontes com quem a CNN conversou dizem temer que as mudanças repentinas façam parte de um esforço do governo do presidente Donald Trump para desmantelar silenciosamente o campus Goddard de Maryland enquanto o governo permanece sem financiamento — uma alegação que o porta-voz negou.A proposta orçamentária de Trump, apresentada em abril, previa cortes drásticos no financiamento e na equipe do centro, incluindo uma redução de 42% no quadro de cientistas do Goddard . Projetos de lei de financiamento aprovados pelo Congresso desde então, em grande parte, excluíram os cortes propostos pelo presidente para a área científica.“Eliminar Goddard significa perder toda a capacidade do país de construir, desenvolver e analisar dados de satélites de ciência espacial”, disse à CNN um engenheiro de Goddard que pediu para permanecer anônimo.Um documento analisado pela CNN, compilado por mais de uma dúzia de funcionários da Goddard preocupados com as medidas tomadas no campus, afirma que 13 edifícios estão sendo fechados, incluindo cerca de 100 laboratórios. O campus, com aproximadamente 514 hectares, inclui mais de 30 grandes edifícios e dezenas de estruturas menores.A incerteza em torno dos fechamentos deixou os trabalhadores perplexos e preocupados com o fato de a administração estar prosseguindo com os planos de implementar cortes drásticos antes que o Congresso aprove um projeto de lei de financiamento.Em comunicado, o porta-voz da Nasa afirmou que a agência está “planejando múltiplos cenários para o ano fiscal de 2026” — incluindo a proposta orçamentária do presidente — “mas é importante ressaltar que a Nasa tem cumprido e continuará a cumprir a lei”.“Uma perda devastadora”As mudanças descritas pelas fontes deixaram os engenheiros da agência espacial preocupados com a possibilidade de perderem permanentemente o acesso a equipamentos e instalações cruciais para manter os projetos atuais e futuros dentro do cronograma.Os fechamentos podem afetar o lançamento, em 2027, do telescópio espacial Nancy Grace Roman, um poderoso sucessor dos telescópios Hubble e James Webb que poderá revolucionar a compreensão dos cientistas sobre o cosmos e as origens do universo, disseram duas fontes à CNN. Roman é um “super Hubble” capaz de realizar levantamentos completos do céu no espaço e tem como objetivo estudar planetas potencialmente habitáveis e matéria escura.Fontes disseram à CNN que os fechamentos também podem afetar o programa Dragonfly da Nasa, que visa enviar um helicóptero do tamanho de um carro para estudar a maior lua de Saturno em busca de sinais de habitabilidade e tem lançamento previsto para 2028. Tanto o projeto Roman quanto o Dragonfly receberam financiamento e apoio contínuos, mesmo na proposta orçamentária do presidente.Além desses dois projetos mais iminentes, fontes disseram à CNN que as mudanças repentinas em Goddard neste mês podem prejudicar seriamente a ciência e a exploração espacial na próxima década.“Interromper o desenvolvimento do que está em andamento agora significa interromper as próximas três décadas de missões para explorar o universo, aprender mais sobre os planetas e sobre a Terra”, disse o engenheiro de Goddard. “É uma perda realmente devastadora para o país.”Em uma declaração separada à CNN na segunda-feira, o porta-voz da NASA disse que “Dragonfly e Roman permanecerão operacionais, já que seus trabalhos essenciais continuam durante a paralisação”, observando que a liderança não espera que os projetos sejam atrasados pelas mudanças no campus Goddard Greenbelt.“Levar uma Maserati para o ferro-velho”A liderança da Goddard e da Nasa já vinha trabalhando em um plano diretor — elaborado anos atrás — para reformular o campus da Goddard, com o objetivo de reduzir custos e, eventualmente, modernizar parte da infraestrutura obsoleta do centro.No entanto, de acordo com documentos e relatos de fontes, vários dos edifícios que estão sendo desocupados atualmente não têm previsão de fechamento antes do início da década de 2030. Além disso, os trabalhadores afirmam não ter visto sinais de construção ou reforma de novos laboratórios, conforme previsto no plano diretor.Em comunicado, o porta-voz da NASA afirmou que “a direção da Goddard propôs e obteve aprovação para iniciar uma consolidação de edifícios nos campi de Greenbelt e Wallops” no início deste ano.O novo plano foi elaborado em resposta a um êxodo de funcionários que aceitaram pedidos de demissão sem justa causa. Cerca de 841 funcionários da Goddard aceitaram essas ofertas este ano, disse o porta-voz.“Os edifícios desocupados estavam, em média, com aproximadamente 40% de ocupação”, diz o comunicado do porta-voz.Um dos edifícios que foi fechado, no entanto, abriga a Câmara Anecoica Eletromagnética de Goddard, ou GEMAC, uma sala à prova de rádio única, essencial para testar as antenas das espaçonaves antes de seu lançamento.Componentes da missão DaVinci da Nasa, planejada para realizar um estudo sem precedentes de Vênus após o lançamento no início da década de 2030, seriam testados no GEMAC, observou uma fonte.E o fechamento das instalações teria implicações muito mais amplas, impactando inúmeros projetos atuais e futuros, porque o design exclusivo do GEMAC permite o teste de grandes equipamentos de comunicação que não caberiam em outras instalações semelhantes, observou a fonte.“É como levar uma Maserati para o ferro-velho para ser esmagada porque sua carteira de motorista expirou”, disse outra fonte. “O GEMAC está totalmente operacional e poderia continuar por muitos anos dando suporte a serviços internos, externos e ao setor (como tem feito por várias décadas).”Um porta-voz da Nasa afirmou que o GEMAC estava em más condições e permaneceria fechado. A espaçonave DaVinci poderia ser testada em instalações alternativas, disse o porta-voz, e nenhum outro projeto estava previsto para ser testado no GEMAC nos próximos 15 anos.Fontes disseram à CNN, no entanto, que estavam preocupadas com o fato de o GEMAC ser a única instalação desse tipo com uma porta ampla adequada para acomodar peças grandes de hardware — e que o descomissionamento da instalação teria um impacto a longo prazo nas capacidades de teste de espaçonaves da Nasa.“Sabotar”Outro edifício que está sendo desocupado no campus de Goddard inclui laboratórios para equipes que vêm trabalhando no subsistema de propulsão do telescópio Roman, disse uma das fontes à CNN.“Em termos de missões futuras, uma vez que este laboratório seja desativado, não seremos capazes de fazer nada parecido novamente”, disse um funcionário de Goddard.Esse funcionário questionou se o custo de mover equipamentos de um prédio para outro, possivelmente extraviando ou descartando equipamentos no processo, estava realmente economizando dinheiro para Goddard e para o governo federal.“Não consigo entender por que nossa gerência desejaria sabotar internamente nossas capacidades”, disse a fonte. “Eles não comunicaram nenhuma justificativa além de que estão tentando economizar dinheiro, mas as medidas que estão tomando não parecem, de fato, gerar economia.”Fontes afirmaram que a infraestrutura e os equipamentos destinados a serem doados ou descartados em Goddard não podem ser facilmente substituídos.Alegadas violações da ADAAlguns dos trabalhadores que falaram com a CNN também expressaram preocupação com o fato de o fechamento de escritórios e a ordem para que os funcionários afastados retornassem ao escritório para embalar caixas poderem violar a Lei Antideficiência (ADA, na sigla em inglês).A ADA é uma lei federal que impacta a forma como as paralisações devem ser conduzidas e estipula que “os funcionários não podem ‘oferecer’ seus serviços a agências — ou seja, prestar serviços sem pagamento — exceto em circunstâncias muito limitadas”, como quando “é necessário para proteger a vida humana e a propriedade do governo”, de acordo com uma definição do governo .Em um comunicado, o porta-voz da Nasa disse que “duas exceções foram aprovadas para manter nosso cronograma de movimentação de instalações durante a paralisação”.Essas exceções envolviam principalmente a movimentação de equipamentos técnicos, não de escritórios, disse o porta-voz, e “mais de 100 mudanças de escritórios foram suspensas até a reabertura do governo”. A declaração também nega que quaisquer fechamentos de prédios ou diretrizes de retorno ao trabalho relacionados às mudanças violem leis federais.Ainda assim, os funcionários ficaram se perguntando por que as mudanças precisavam acontecer, visto que muitos continuavam afastados do trabalho e desconheciam como os equipamentos sensíveis estavam sendo manuseados. Também não está claro se os funcionários que foram solicitados a ajudar nas mudanças serão compensados por retornarem ao trabalho para carregar caixas.“Estamos vivenciando uma paralisação do governo que não se compara a todas as outras”, disse Charles Tiefer, ex-conselheiro geral interino da Câmara dos Representantes dos EUA e professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade de Baltimore. Tiefer também observou que Trump já afirmou estar considerando não pagar retroativamente a todos os funcionários federais após o fim da paralisação do governo, uma mudança drástica em relação aos precedentes.“Meu círculo de pessoas caiu da cadeira quando soubemos disso”, acrescentou, referindo-se a advogados e especialistas familiarizados com as leis de gastos governamentais.“Uma crise existencial”O suposto caos em Goddard está afetando ainda mais o moral de uma base de funcionários que já vem sofrendo com demissões, cortes orçamentários iminentes e comunicação inconsistente por parte da liderança, disseram à CNN fontes que trabalham no centro.Goddard, em particular, tem sido um foco de controvérsia em um ano já tumultuado para a agência espacial. A líder do centro, Makenzie Lystrup, renunciou abruptamente em julho, no mesmo dia em que centenas de cientistas e funcionários atuais e antigos da NASA assinaram uma declaração criticando o que consideravam ” mudanças rápidas e dispendiosas ” implementadas pelo governo Trump.Alguns cientistas da NASA também ficaram irritados e confusos no início deste ano com a decisão de cancelar o contrato de arrendamento do Instituto Goddard de Estudos Espaciais — um laboratório derivado localizado na cidade de Nova York.Goddard esteve envolvido em todos os projetos de exploração lunar da agência espacial e enviou espaçonaves a Júpiter e outros planetas do sistema solar. Funcionários do centro afirmaram que, se o campus for seriamente danificado ou fechado por completo, será uma perda enorme para o programa espacial americano e prejudicará os esforços dos cientistas para melhor compreender o universo.“Poucas pessoas estão enviando missões a Júpiter, exceto a Nasa Goddard”, disse o funcionário da Goddard. “Não é lucrativo, então a iniciativa privada não faria isso.”“Parece uma crise existencial; Goddard ou deixará de existir completamente ou deixará de existir da maneira como deveria.”Nasa nega vínculo com jovem que alega ser primeira astronauta brasileira