O governo estava preocupado com a escolha do presidente e do relator da CPI instaurada para investigar a atuação do crime organizado, temendo a possível repercussão negativa para a imagem da administração. No entanto, o próprio presidente Lula (PT) tratou de tornar essa preocupação supérflua, contribuindo significativamente para piorar a já precária imagem que seu governo e seu partido possuem quando o assunto é segurança pública.Lula declarou que a megaoperação realizada no Rio de Janeiro não passou de uma matança, classificando-a como desastrosa e determinando que fosse investigada pela Polícia Federal, subordinada ao seu ministro da Justiça. A declaração vai na contramão das pesquisas de opinião e da sabedoria consagrada do marketing político, segundo a qual, quando a maré é muito contrária, o melhor é tentar passar por baixo da onda — para evitar o “vira-vaca”, na gíria dos surfistas. Leia Mais "Houve uma matança", diz Lula sobre megaoperação com 121 mortos no RJ "Não há preocupação com investigação paralela", diz secretário de segurança Governo está atuando para quebrar espinha dorsal do tráfico, diz Lula Ao agir dessa forma, Lula resolveu desafiar as convenções da política e ignorar sua baixa reputação em matéria de combate à corrupção e ao crime organizado, além da percepção, confirmada por diversas pesquisas, de que é incapaz de melhorar a segurança pública no país. Trata-se de uma manobra de altíssimo risco, considerando que o tema da segurança é, no momento, a prioridade número um para o eleitor.Há poucos dias, o próprio Lula se beneficiava dos crassos erros políticos cometidos pela oposição. No entanto, com o que disse nesta terça-feira (4), parece ter resolvido devolver o favor. Lula não é muito afeito à leitura das frases da antiguidade clássica, mas uma das mais famosas, datada dos tempos da Grécia Antiga, ensina que “os deuses primeiro enlouquecem aqueles que desejam destruir”. É a arrogância — a hýbris — que conduz à ruína.