Vivemos no tempo das respostas rápidas, das relações por aplicativo e da satisfação em um clique. Masquanto mais perseguimos o prazer imediato, mais nos afastamos daquilo que sustenta a vida: vínculo,sentido e elaboração emocional.Sigmund Freud, fundador da psicanálise, já alertava para esse conflito interno. De um lado, o princípio do prazer, que busca aliviar o desconforto rapidamente. Do outro, o princípio da realidade, que exige espera, renúncia e elaboração. A maturidade começa quando entendemos que nem tudo o que sentimos precisa ser atendido no instante em que surge.Prazer que passa rápido, vazio que volta cedoNa lógica atual, somos incentivados a consumir, sentir prazer e seguir. Uma comida, uma compra, umlike, uma conversa rápida. Funciona — por alguns minutos. Depois, o vazio retorna. A psicanalista MariaRita Kehl chama isso de “cansaço afetivo moderno”: estamos exaustos de sentir pouco, rápido e de modosuperficial.O sociólogo Zygmunt Bauman chamaria esse fenômeno de “modernidade líquida” vínculos frágeis,promessas breves, relações descartáveis. O outro vira objeto de uso, não de encontro. Se frustra, troca-se. Se exige esforço, abandona-se.Amar é elaborar — e elaborar leva tempoO amor verdadeiro começa quando somos capazes de adiar o prazer. Amar exige lidar com a falta, com aimperfeição, com a presença real do outro — e não com a fantasia idealizada. Em outras palavras: amar éelaborar aquilo que sentimos, e não apenas buscar alívio emocional.A psicanálise mostra que não existe vínculo sem frustração. Relação é troca, conflito, reparo. O contráriodisso é o amor instantâneo: sem espera, sem incômodo, sem profundidade — e, por isso, sem raiz.Relações no mundo de hojeNo mundo contemporâneo, aprendemos a acreditar que sentir algo é suficiente para justificarpermanecer ou partir. Mas a afetividade adulta não nasce do impulso: nasce do compromisso. Baumanresume bem: “As relações são consumidas como produtos; quando perdem o brilho, são substituídas”.Mas vínculos reais não têm brilho constante. Eles têm história. Têm falhas, reconciliação, palavra,silêncio. Vínculo é continuidade, não intensidade.Felicidade não é euforia — é atravessamentoA busca frenética por sentir prazer o tempo todo tem um preço: perdemos a capacidade de esperar, desuportar o desconforto e de transformar dor em crescimento. A psicanálise chama esse processo deelaboração psíquica — quando uma experiência deixa de ser apenas dor e se transforma em significado.É nesse ponto que o prazer e a felicidade se separam. O prazer é rápido. A felicidade, não. Ela surgequando aceitamos o tempo, as imperfeições e o outro como ele é. Talvez a felicidade não esteja na intensidade, mas na continuidadeEm um tempo que nos convida a viver de picos de emoção, talvez o caminho não seja lutar contra isso,mas aprender a escolher o que permanece. A felicidade não é feita apenas de instantes incríveis — éconstruída na soma dos dias possíveis, nos vínculos que atravessam dificuldades e continuam existindo,mesmo quando a vida não é perfeita. Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp! WhatsApp Porque, no fim, o que sustenta não é o prazer rápido, e sim a calma de estar em algo que faz sentido —mesmo sem euforia, mesmo sem pressa, mas com verdade.Caroline Ferraz de Paula – CRP: 06/111519Psicóloga