O Ibovespa viveu uma das maiores sequências de valorização, algo que não se via desde a época da implementação do Plano Real, no longínquo ano de 1994. Ao final deste rali, a bolsa chegou aos inéditos 158 mil pontos. Esse desempenho foi puxado, sobretudo, pelo fluxo de capital de investidores internacionais, em busca de oportunidades em mercados emergentes. Com os EUA representando 40% do mercado global, a diversificação para países como o Brasil se torna uma alternativa atrativa.Para Ivan Barboza, sócio-fundador da Ártica Capital, a recente valorização do Ibovespa também está ligada a movimentos geopolíticos e à percepção de risco global, especialmente após o fim do shutdown nos EUA, que não gerou gatilho de alta nos mercados internacionais.A análise desse cenário foi tema do programa Stock Pickers, apresentado por Lucas Colazzo, que recebeu Barboza, nesta quinta-feira (13).“Enquanto lá fora os mercados caíam, o Brasil conseguiu respirar. A bolsa subiu justamente porque o dinheiro internacional procurou alternativas nos emergentes”, afirmou Barboza. Segundo ele, a atenção a temas globais deve ser cada vez mais relevante na próxima década para investidores brasileiros.Veja mais: Eneva (ENEV3) esconde valor bilionário: “Há um upside de 100%”, diz Hix CapitalE também: ETFs ganham espaço em meio à concentração de gigantes no IbovespaDesafios políticos moldam perspectiva de investimentosBarboza destacou, no entanto, que a estrutura política brasileira impõe limites ao crescimento sustentável do mercado. O presidencialismo do país, com mais de 20 partidos no Congresso, torna difícil implementar grandes reformas, diluindo projetos ideológicos e retardando decisões estratégicas.“Mesmo um presidente bem-intencionado enfrenta barreiras enormes. É um sistema lento, que exige negociação constante para conseguir aprovar algo”, explicou. Ele acrescentou que a governabilidade depende de alianças complexas, e que a falta de alinhamento entre Executivo e Legislativo contribui para um ambiente de incerteza.Para o sócio da Ártica, isso gera efeitos diretos sobre o mercado, pois impede que planos econômicos de longo prazo se consolidem. Além disso, ele criticou incentivos fiscais e políticas sociais mal estruturadas, que podem criar efeitos perversos na produtividade e gerar desigualdade sem critérios claros.“O Bolsa Família, por exemplo, cria incentivos que podem reduzir a produtividade. É uma máquina de redistribuição de dinheiro sem critérios claros, que gera custos e dificuldades estruturais”— Ivan Barboza, sócio-fundador da Ártica Capital.Estrutura tributária e lobby complicam cenárioOutro ponto apontado pelo especialista foi a complexidade da carga tributária e a influência do lobby. Ele explicou que regimes especiais e benefícios fiscais para determinados setores acabam distorcendo o mercado e dificultando uma concorrência eficiente.“Todo grupo que consegue força política para obter benefícios acaba criando uma distorção. Isso não permite que o sistema se equilibre naturalmente”, afirmou. Segundo Barboza, a situação se agrava quando políticas públicas são moldadas sob pressão de interesses específicos, o que compromete resultados econômicos de longo prazo.Ele comparou o Brasil a outros países com sistemas mais simples, nos quais a governabilidade e a implementação de políticas são mais diretas. “Aqui, a negociação é complexa, e qualquer grande projeto acaba diluído. Isso tem impacto direto na confiança do investidor e na eficiência econômica”, explicou.Leia tambémÉ possível falar em ‘mágicos 200 mil pontos’ para Ibovespa, diz estrategista da FatorFernando Tendolin, da Fator, entende que o olhar otimista não se resume ao Ibovespa, mas sim a mercados emergentes num todo Investimentos no Brasil e visão de longo prazoApesar das limitações estruturais, Barboza afirmou que existem oportunidades de investimento no país, especialmente em momentos de valorização como a atual. Ele destacou que a Ártica Capital tem atuado com foco em grandes temas do Brasil, analisando tanto riscos políticos quanto tendências econômicas.“O problema estrutural não impede o investimento. A questão é saber onde aplicar, com disciplina e visão de longo prazo. A alta recente da bolsa mostra que há espaço para oportunidades, mesmo considerando os desafios políticos e fiscais”— Ivan Barboza, sócio-fundador da Ártica Capital.O gestor acrescentou que, para investidores estrangeiros, entender o funcionamento do sistema político brasileiro e seus incentivos é essencial. “É preciso avaliar o mercado dentro do contexto local, considerando riscos e oportunidades simultaneamente”, concluiu Barboza, reforçando a importância de estratégias fundamentadas em análise macroeconômica e política para aproveitar o momento favorável do Ibovespa.The post Fluxo gringo empurra Ibovespa a recorde — e pode continuar, diz gestor da Ártica appeared first on InfoMoney.