O diretor-geral da BBC e a chefe de jornalismo da emissora britânica renunciaram neste domingo (9) após acusações de parcialidade, incluindo a forma como foi editado um discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.A BBC vinha enfrentando crescente pressão depois que um relatório interno, elaborado por um ex-assessor de padrões da emissora, foi vazado ao jornal Daily Telegraph. O documento apontava falhas na cobertura da guerra entre Israel e o Hamas, de questões relacionadas a pessoas transgênero e de um discurso de Trump.SAIBA MAIS: Fique por dentro dos melhores conteúdos do Money Times sem pagar nada por isso; veja comoTrump comemorou as renúncias, chamando os dois executivos de “pessoas muito desonestas”, após o programa Panorama, principal documentário da BBC, ter editado duas partes de um de seus discursos de modo que ele parecesse estar incentivando o ataque ao Capitólio em janeiro de 2021.Tim Davie, que comanda a British Broadcasting Corporation desde 2020, defendeu a instituição, afirmando que o jornalismo da BBC é visto como “padrão de ouro” em todo o mundo. Mas admitiu que erros foram cometidos e disse que precisava assumir a responsabilidade final.Deborah Turness, diretora-executiva da BBC News, também renunciou. Em um e-mail enviado à equipe, ela afirmou: “Quero deixar absolutamente claro que as recentes alegações de que a BBC News é institucionalmente tendenciosa são falsas”.No documentário Panorama exibido no ano passado, Trump foi mostrado dizendo a seus apoiadores que “vamos descer até o Capitólio” e que eles deveriam “lutar com todas as forças” — trechos de momentos distintos de seu discurso. Na verdade, ele havia dito que seus apoiadores deveriam “apoiar nossos corajosos senadores e congressistas e congressistas mulheres”.Em uma postagem nas redes sociais neste domingo, Trump acusou os dois executivos de tentarem influenciar uma eleição presidencial nos Estados Unidos.“Além de tudo, eles são de um país estrangeiro, um que muitos consideram nosso aliado número um. Que coisa terrível para a democracia!”, escreveu.Respeitada no exterior, questionada em casaAmplamente respeitada no mundo inteiro, a BBC ainda lidera as pesquisas no Reino Unido como a marca de notícias mais confiável e possui grande alcance no país, oferecendo jornalismo, entretenimento e esportes.No entanto, a corporação, financiada por uma taxa obrigatória paga por todos os lares com televisão, é alvo constante de escrutínio por parte de alguns jornais nacionais e críticos nas redes sociais, que contestam seu modelo de financiamento e seu suposto viés liberal.Nos últimos anos, a emissora vem sendo acusada por críticos de ambos os lados do espectro político de não manter seu compromisso com a imparcialidade jornalística, enfrentando dificuldades para navegar em um ambiente político e cultural cada vez mais polarizado.O relatório interno vazado afirmava que o serviço BBC Arabic havia demonstrado viés anti-Israel em sua cobertura da guerra em Gaza, além de uma tentativa de noticiar um grupo que defende espaços exclusivos por sexo teria sido barrada por um pequeno grupo de funcionários que consideraram a pauta hostil à comunidade transgênero.A emissora também tem enfrentado uma série de escândalos recentes. Em um deles, Gary Lineker, então seu apresentador esportivo mais bem pago, foi suspenso por criticar a política de imigração do governo, o que levou diversos colegas a entrarem em greve em solidariedade.A BBC foi ainda criticada por exibir o duo punk-rap Bob Vylan cantando contra o exército israelense no festival de Glastonbury e de ter cancelado um documentário sobre Gaza no início deste ano por incluir o filho de um vice-ministro do governo controlado pelo Hamas.Saída surpreende BBCA ministra da Cultura britânica, Lisa Nandy, agradeceu a Davie por seu trabalho como diretor-geral, dizendo que ele liderou a emissora em um período de grandes transformações.Uma fonte próxima à situação afirmou que a decisão de Davie surpreendeu o conselho da BBC e que ele permanecerá no cargo por alguns meses até que um substituto seja encontrado.Davie defendeu a corporação, afirmando que ela deve ser “valorizada, não usada como arma”, por seu papel na construção de uma sociedade saudável e de um setor criativo dinâmico.No entanto, reconheceu que a emissora “não é perfeita” e disse que tomou sua decisão após “refletir sobre as intensas demandas pessoais e profissionais de administrar este cargo ao longo de muitos anos, em tempos tão turbulentos”.A BBC, que precisará negociar uma nova carta com o governo em 2027 para garantir seu financiamento, parecia ter dificuldades para responder à recente sequência de manchetes negativas.O presidente da emissora, Samir Shah, era esperado para pedir desculpas aos parlamentares pelo tumulto nesta segunda-feira (10).