Casa da Floresta: a Amazônia que ensina, acolhe e aponta caminhos

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Logo nas primeiras horas desta manhã, às margens tranquilas do rio Guamá, tive a oportunidade de visitar a recém-inaugurada Casa da Floresta, uma iniciativa que nasce com a serenidade das águas do Acará, mas com a força de quem pretende fazer diferença no futuro da Amazônia. Estar ali, respirando aquele ar úmido e carregado de vida, não era apenas uma visita técnica: era uma imersão num modo de pensar que insiste em colocar a floresta no centro das soluções — e não na periferia dos debates.Conversei longamente com João Meirelles, diretor do Instituto Peabiru e um dos idealizadores do projeto. Como sempre, ele falava da Amazônia com a naturalidade de quem convive com ela todos os dias e com a urgência de quem sabe que o tempo para salvar seus modos de vida está se esgotando. “A Casa da Floresta é um lugar de encontro e de experimentação”, me disse, sublinhando que o espaço foi concebido não como um centro de visitação tradicional, mas como um organismo vivo, pulsando ciência, cultura, conhecimento tradicional e uma boa dose de criatividade amazônida.Sementes expostas na Casa da Floresta. Foto: Reinaldo CantoE faz sentido. A iniciativa é fruto da parceria entre o Instituto Peabiru e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), que pela primeira vez desenvolve uma ação estruturada dentro da Amazônia paraense. Localizada a poucos minutos de Belém, no município do Acará, a Casa da Floresta se apresenta como um centro de referência em tecnologias sociais, conectando de forma harmônica extensão universitária, pesquisa e inovação territorial. Leia também: 1.Biodiverso: a potência da floresta em pé e da união de seus povos 2.Rede Origens Brasil conecta consumidores e povos da floresta Reinaldo Canto com João Meirelles e Rogério Favacho, do Instituto Peabiru. Foto: Arquivo pessoalÉ também uma forma de a Unesp ampliar seus horizontes. A instituição, que historicamente se projeta a partir de seus campi no Sudeste, agora coloca um pé firme — e humilde — no bioma amazônico. É a primeira iniciativa concreta de uma estratégia mais ampla de desenvolver experiências integradas em diferentes biomas brasileiros, ouvindo mais, impondo menos, aprendendo com quem já sabe.O que vi por lá confirma essa proposta. A Casa da Floresta promove o diálogo entre floresta, ciência e comunidade, estabelecendo um espaço onde cada elemento tem o seu valor. Ali, tecnologias sociais e soluções acessíveis estão não apenas expostas, mas funcionando e sendo aprimoradas diariamente: sistemas de captação de água da chuva, saneamento básico de baixo custo, energia solar, meliponicultura, manejo agroflorestal e outras iniciativas que ajudam a fortalecer o protagonismo comunitário e o respeito aos saberes tradicionais.Produção de mel com abelhas nativas na Amazônia. Foto: Reinaldo CantoPasseando pelo espaço, fica evidente que o projeto não quer “levar” desenvolvimento para a comunidade — quer desenvolver com a comunidade. E essa diferença é enorme. Meirelles reforça que a floresta é o ponto de partida, mas são as pessoas, seus conhecimentos e seus modos de vida que dão sentido à Casa.Foto: Reinaldo CantoEm um momento em que a COP30 atrai para Belém discussões globais sobre clima, transição ecológica e emergência ambiental, a Casa da Floresta oferece um contraponto poderoso. Enquanto o mundo debate a Amazônia a partir de auditórios climatizados e painéis tecnológicos, ali se propõe o inverso: pensar o futuro a partir do território, de dentro da própria floresta, ouvindo e respeitando quem vive nela e com ela. Leia também: 1.20 iniciativas em Belém mostram o cuidado como resposta à crise climática 2.Cuidar de quem cuida da floresta, uma receita para proteger a Amazônia Povos da floresta e comunidades tradicionais precisam estar no centro das discussões climáticas. Foto: Reinaldo CantoSe há um recado que esse espaço transmite — e que carrega a marca do Peabiru e a mão firme da Unesp — é que a Amazônia não precisa apenas ser defendida; ela precisa ser compreendida, vivida e apreendida. E isso só acontece quando ciência e tradição caminham juntas.A Casa da Floresta nasce pequena em tamanho, mas imensa em significado. E quem chega ali, como eu cheguei hoje cedo, sai um pouco diferente: com a certeza de que o futuro da Amazônia não se escreve apenas com políticas públicas ou grandes pactos, mas com iniciativas como essa, onde a floresta é mestra e a comunidade, protagonista.O jornalista Reinaldo Canto tem mais de 30 anos de experiência em jornalismo socioambiental.The post Casa da Floresta: a Amazônia que ensina, acolhe e aponta caminhos appeared first on CicloVivo.