Conteúdo XPEm um mercado onde a pressão por performance diária desafia até os mais preparados, a linha entre disciplina e descontrole pode se romper em segundos. A trajetória de um trader, quando contada com honestidade, revela mais do que setups ou estatísticas: mostra os bastidores emocionais, os erros ocultos e as decisões que moldam a consistência.A rotina de André Bertuzzo, 45 anos, é marcada pelo empreendedorismo e pela adrenalina do day trade. “Day trade para mim é a Fórmula 1 do mercado financeiro. São só os melhores que prosperam”, afirma.Com uma trajetória que passou por recomeços após a pandemia e aprendizados dolorosos com operações impulsivas, Bertuzzo agora foca em consistência e controle emocional.É nesse contexto que se insere a participação de André Bertuzzo na primeira parte do 1° episódio do programa O Conselho Trader, no canal GainCast, que acompanha traders reais em busca de evolução, por meio de mentoria e exposição prática dos desafios enfrentados no mercado financeiro.Negociação como empresa e legado pessoalAlém da atuação no mercado financeiro, Bertuzzo compartilha com a esposa a gestão de uma empresa de projetos arquitetônicos e uma marcenaria com mais de três décadas de história. O envolvimento com o mundo empresarial ajudou a moldar sua mentalidade como trader. Para ele, a lógica é clara: é preciso tratar o trading como um negócio. “Você é uma empresa que tem que ter um resultado. Ponto”, afirma.Essa lógica empresarial não ficou restrita ao negócio físico. Essa vivência trouxe um diferencial na maneira de lidar com conceitos como risco e gestão de capital. “Hoje a gente também tem um drawdown na marcenaria. Eu sei que posso passar um tempo com faturamento abaixo do mínimo sem comprometer a saúde financeira da empresa. Passou daquele tempo, eu vou comprometer”, explica.Essa visão integrada permitiu que ele utilizasse princípios de gestão de risco e disciplina financeira tanto na marcenaria quanto no trading, criando uma troca constante entre o mundo dos negócios tradicionais e a dinâmica do mercado financeiro.O impacto do “dia de fúria”A trajetória de Bertuzzo no trading inclui um episódio clássico de descontrole emocional no day trade: um dia de perdas intensas por insistência em reverter um resultado negativo. “Essa gana de saber que eu consigo reverter qualquer resultado negativo me fez ter um dia de fúria um pouco mais pesado”, explica.O resultado dessa insistência foi extremo. Ele reconhece que, naquele momento, agiu fora do plano e da técnica. “Chegou um determinado momento que eu tomei uma zeragem compulsória na mesa”, revela.Apesar de ainda não ter se recuperado financeiramente daquele episódio, Bertuzzo afirma que o choque serviu de alerta. “Foi aí que isso me remeteu que não necessariamente era fácil, mas que nossa, dá para ganhar muito dinheiro em pouco tempo. Mas não é assim que funciona né”, conclui.Técnica é só parte da equaçãoNos últimos anos, Bertuzzo investiu em cursos, mentorias e estruturação de setup. Atualmente, opera com 10 contratos de índice e 5 de dólar. “Eu, em cinco, seis pregões no mês, eu consigo realmente atingir a meta”, relata.Mas a virada mais significativa veio com o entendimento de que controle emocional no day trade é o verdadeiro diferencial competitivo. “Eu percebi que a técnica é 30% do que a gente faz no trade. Os outros 70% é mindset, é mental, é emocional, é descobrir para que que você está ali.”Essa percepção só veio após um ponto de ruptura importante. Após assessoria psicológica indicada pela Clear, ele entendeu que a disciplina emocional precisava ser prioridade. “Tudo o que eu fiz até agora foi meramente acaso, meramente sorte”, reconhece.Treino e mentalidade competitivaBertuzzo encontrou no esporte uma metáfora prática para o mercado. Há mais de uma década, ele e a esposa praticam Roller Rock, modalidade pouco comum no Brasil, mas que exige técnica, força e concentração — habilidades que ele considera fundamentais também para o day trade. Como ele mesmo costuma repetir quando fala sobre o esporte. “Que o Rocky me ensinou pro mercado financeiro, primeiro de tudo, disciplina, disciplina, disciplina, disciplina acima de tudo e outra, treino”, destaca.O atleta amador e trader afirma que não se chega ao pódio sem preparo. Por isso, transformou o replay de mercado em parte essencial da rotina. “Eu treino, treino, treino à exaustão, porque quanto mais eu treinar, mais inconsciente, mais preciso vai ser cada movimento que eu faço”, explica.Ele ressalta ainda que o esporte o ensinou a controlar impulsos e seguir plano mesmo sob pressão. “Mesmo que você tome um stop, você tem que manter a calma e seguir o plano”, orienta.O desafio de romper a superfícieMesmo com uma boa taxa de acerto, Bertuzzo sente que falta alavancagem nos dias positivos. “A maioria dos pregões que eu fecho é positivo, mas não chego na meta, porque muitas vezes ele é um positivo raso, só que o negativo não é raso”, descreve.Apesar disso, ele reforça a importância do equilíbrio e da valorização do tempo. “Se eu ganhei tempo, se eu conseguir atingir minha meta às 9:30 da manhã, para que que eu vou ficar aqui sentado, observando?”, questiona.Para ele, a família é sua âncora — e também sua vulnerabilidade. “Talvez o que eu considero como minha fraqueza seja a minha maior força também, que é a minha família”, conclui.Confira mais conteúdos sobre análise técnica no IM Trader. Diariamente, o InfoMoney publica o que esperar dos minicontratos de dólar e índice. The post Técnica é só 30%”: como um trader virou o jogo após perder o controle appeared first on InfoMoney.