Nesta segunda-feira (10), o lendário Oráculo de Omaha publicou sua última carta pela Berkshire Hathaway. Aos 95 anos, Warren Buffett se despede da companhia após seis décadas de atuação — período em que se tornou um dos homens mais ricos do planeta, com um patrimônio estimado em US$ 150 bilhões (R$ 797 bilhões). Essa história, no entanto, não foi feita apenas de grandes acertos: Buffett também acumulou erros ao longo do caminho.Mesmo assim, o saldo final continua impressionante. No terceiro trimestre de 2025, por exemplo, a Berkshire registrou um caixa recorde de US$ 381,7 bilhões (pouco mais de R$ 2 trilhões), reforçando a força do investidor.Pensando nisso, o Money Times reuniu três momentos em que Buffett errou — e que marcaram sua trajetória.Berkshire Hathaway foi “a ação mais estúpida que já comprei”O próprio Warren Buffett admitiu, em uma carta aos acionistas, que a compra da Berkshire Hathaway começou com uma “decisão estúpida”. Apesar de saber que o negócio têxtil estava em declínio, ele comprou suas primeiras ações em 1962 apenas porque estavam “baratas” — sem a menor intenção de assumir o controle da empresa.VEJA MAIS: O que os balanços do 3T25 revelam sobre o rumo da bolsa brasileira e quais ações podem surpreender nos próximos meses – confira as análises do BTG PactualA reviravolta veio em 1964. Naquele ano, a administração da Berkshire ofereceu US$ 11,50 por ação para recomprar a participação de Buffett. Porém, semanas depois, a proposta formal chegou com um valor menor: US$ 11,375. A quebra de palavra irritou o investidor. Em vez de vender, ele decidiu comprar ainda mais ações até conquistar o controle da empresa — e demitiu o gerente Seabury Stanton, responsável pelo acordo.Buffett cumpriu o plano “por pirraça”, mas reconheceu anos depois que a atitude foi um erro. Ele passou a administrar um negócio que não conhecia e que já estava em decadência, acumulando prejuízos no setor têxtil da Berkshire.Segundo o próprio Oráculo de Omaha, a lição é simples: não se deve comprar ações só porque estão baratas. Decisões movidas pela emoção costumam cobrar um preço alto no longo prazo.O prejuízo bilionário com as empresas aéreasEm 2020, em meio ao caos provocado pela pandemia de coronavírus, Buffett surpreendeu o mercado ao anunciar que a Berkshire Hathaway havia vendido todas as posições que mantinha nas principais companhias aéreas dos Estados Unidos.A decisão ocorreu em abril daquele ano, quando o setor enfrentava um colapso histórico e as viagens ao redor do mundo praticamente haviam parado. Buffett disse, na época, que tinha dúvidas sobre a retomada do fluxo de passageiros nos dois ou três anos seguintes. “O mundo mudou para as aéreas. Alguns negócios serão realmente afetados”, afirmou.Até dezembro de 2019, a Berkshire detinha cerca de US$ 4 bilhões em ações de United, American Airlines, Delta e Southwest. Ao comentar o movimento, Buffett foi direto: “Eu estava errado” sobre a aposta nas aéreas.A declaração veio pouco depois de a Berkshire reportar um prejuízo de US$ 49,7 bilhões no primeiro trimestre de 2020, reflexo da forte desvalorização das ações do portfólio.(Imagem: Reuters/Rick Wilking)O ceticismo em relação ao BitcoinOutro erro frequentemente citado pelos analistas é o ceticismo de Buffett sobre o Bitcoin (BTC). O Oráculo de Omaha nunca escondeu sua aversão à criptomoeda — e vocalizou isso diversas vezes.Em entrevista à CNBC em 2018, Buffett disse que o Bitcoin “não produz nada” e seria “provavelmente veneno de rato ao quadrado”. Em 2020, novamente à emissora, reforçou: “Criptomoedas não têm valor. Elas não produzem nada. Eu não tenho e nunca terei Bitcoin.” Ele também já decretou a “morte do Bitcoin” pelo menos oito vezes, segundo o site bitcoindeaths.com.O problema? O tempo mostrou que o movimento do mercado foi totalmente oposto.De 2020 para cá, o Bitcoin passou por uma onda de legitimação global. Entre os eventos mais relevantes estão:a aprovação dos ETFs de Bitcoin nos Estados Unidos;a entrada de gigantes como BlackRock e Fidelity oferecendo exposição direta ao ativo;fundos de pensão da Europa e da Ásia iniciando alocação em criptomoedas;além de diversos recordes de preço.Nos últimos cinco anos, o Bitcoin valorizou mais de 500% e atingiu cerca de US$ 105 mil (R$ 561 mil).Hoje, com o BTC consolidado como uma nova reserva de valor digital e presente na estratégia de alguns dos maiores gestores do mundo, o não investimento de Buffett já pode ser considerado — pelo menos até agora — um dos erros mais emblemáticos de sua trajetória.O sonho frustrado de Lemann e BuffettMais recentemente um “sonho grande” da 3G Capital, dos investidores brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira que também envolvia Warren Buffett ruiu.Em 2015, Buffett e a 3G orquestraram a fusão entre a Kraft Foods e a H.J. Heinz Company, com o objetivo de criar uma gigante global de alimentos.A promessa era que, combinando eficiência da 3G e o poder de distribuição da Berkshire Hathaway, nasceria um modelo de crescimento lucrativo e sustentável.Porém, o movimento acabou sendo marcado por resultados abaixo das expectativas. A Kraft Heinz Company enfrentou queda de vendas e desvalorização de marcas tradicionais. Em agosto de 2025, a Berkshire registrou uma perda contábil de US$ 3,8 bilhões em sua participação na Kraft Heinz, que foi reduzida para US$ 8,4 bilhões no final de junho.No início de setembro de 2025, Buffett declarou estar “desapontado” com o plano de separação da empresa em duas companhias — e afirmou que “não acha que isso vai resolver os problemas” da empresa.