1ª gestora cripto do Brasil: “Se não fosse a Selic alta, estaríamos explodindo”, diz Hashdex 

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Enquanto fundos multimercados brasileiros vêm sofrendo nos últimos anos, com investidores desmontando posições, a Hashdex, primeira gestora focada em criptoativos do país, vê os ativos sob sua gestão (AUM, na sigla em inglês) crescerem. Mas isso não quer dizer que ela não sinta os efeitos das taxas de juros. Já tendo alcançado R$ 9 bilhões em AUM (hoje na casa dos R$ 8 bilhões, por causa da volatilidade), o CEO da companhia enxerga que, se não fosse a Selic, esse número poderia ser bem maior.  “O motivo de a gente estar crescendo bem, mas não explodindo, é o estrutural brasileiro. Quando você tem 15% de retorno garantido, é muito difícil você querer tomar risco”, diz Marcelo Sampaio, em entrevista ao Money Times. “O mercado de multimercado foi dizimado nos últimos três, quatro anos. Para nós, a captação está vindo, mas podia estar melhor”. Apesar dos juros altos, Sampaio enxerga que os fundos da Hashdex avançam em captação por uma série de fatores: a boa performance das principais criptomoedas, o avanço da tecnologia e da regulação e o ganho de confiança no setor por parte dos investidores.  LEIA TAMBÉM: As recomendações das principais corretoras de criptomoedas estão em um e-book gratuito do Crypto Times; cadastre-se para receberPara a Hashdex, valor da cripto está na tecnologia E apesar da queda recente do mercado – com o Bitcoin negociando agora mais próximo dos US$ 100 mil e longe da máxima de quase US$ 125 mil –, a visão da gestora é de que o curto prazo importa pouco.  “Tudo que interessa em cripto basicamente nunca deixou de melhorar desde que a gente fundou a gestora. A tecnologia está melhorando exponencialmente todo ano, a adoção continua crescendo de forma exponencial e a regulação está avançando absolutamente em todos os países. Cripto é escassez programática e o preço é circunstancial do momento”, afirma Sampaio.  Segundo ele, o fato de novas tecnologias virem surgindo no blockchain e de as regulações estarem avançando irá, naturalmente, impulsionar o uso de criptomoedas. E é o uso das redes que determina o valor dos ativos. Mesmo em algumas narrativas que perderam força, como DeFi, Web3 e metaverso, a Hashdex continua vendo valor no longo prazo.  “As narrativas na tecnologia mudam muito. Fizemos o ETF de DeFi, por exemplo, e ele não performou bem porque a narrativa mudou. O sentimento em relação à tese mudou”, explica o CEO. “Tem menos gente fundando projeto, menos funding e menos transações. Mas nós lançamos fundos não por oportunismo, mas sim por visão de longo prazo. Acreditamos que a tese vai continuar viva”. Sem modismos A tecnologia DeFi, por exemplo, perdeu força em parte porque o ambiente macro de juros altos reduziu os investimentos no setor. Ao mesmo tempo, casos de invasões, colapsos de projetos e modelos econômicos também enfraqueceram a confiança do público. “Mas o DeFi tem fundamentos inexoráveis. São plataformas que funcionam 24/7, globais e que podem operar sem precisar de toda a burocracia que existe hoje. São sistemas superiores ao atual e vemos eles acontecendo. A questão é quando o investidor está disposto a esperar”, defende o CEO da Hashdex.  Já no caso do metaverso, a visão da casa também é de que, por enquanto, falta infraestrutura. Porém, para eles, a vida e a economia continuam ficando cada vez mais digitais. “Quem tem filho sabe. Eles compram roupas e itens virtuais o tempo todo. O comportamento já existe”, defende. VEJA MAIS: Está começando a investir em cripto? O Crypto Times preparou um e-book gratuito com as recomendações das principais corretoras; acesse jáPara o executivo, o mercado de criptomoedas e de blockchain está exposto à lógica do “gradually, then suddenly”: mesmo quando nada parece estar acontecendo, algo pode aparecer e mudar todo o jogo. Entre as teses que vêm ganhando força, a gestora enxerga com bons olhos o avanço da tokenização e as discussões sobre identidades digitais (DIDs). Já quanto à convergência da inteligência artificial com criptomoedas, por enquanto, a Hashdex prefere esperar.  Para Marcelo, ainda é cedo para saber se a IA vai se consolidar como uma subindústria descentralizada dentro do ecossistema blockchain ou se seguirá apenas como uma tecnologia que usa cripto como infraestrutura para mover valor de forma autônoma. Apesar da integração ser um passo lógico, o setor ainda está muito concentrado em grandes empresas – o que vai na contramão do mundo cripto.  Regulação no radar Por fim, a Hashdex também monitora de perto a questão da regulação. Na visão da casa, é inegável que, nos últimos tempos, o assunto tem avançado fortemente. “A regulação está melhorando significativamente todos os anos e em vários países. Agora, a novidade é os Estados Unidos depois do Donald Trump. Isso era o que faltava para termos um catch-up grande”, diz  Em julho, o presidente dos Estados Unidos assinou uma lei para criar um regime regulatório para criptomoedas atreladas ao dólar norte-americano, conhecidas como stablecoins. Já no Brasil, há poucos dias, o Banco Central estabeleceu regras para a empresas que atuam no setor.  Todas essas movimentações de governos acabam legitimando mais o setor e afastando temores. Com isso, investidores “mais tradicionais” acabam olhando mais para criptomoedas – e a visão é de que isso também beneficia a Hashdex. “O cara que está em exchange é, em geral, muito mais jovem, tem menos dinheiro disponível para investir e costuma ter um perfil mais especulativo”, explica. “O nosso investidor não usa exchange como principal canal, mas sim bancos e corretoras”. Hoje, a gestora oferece tanto fundos ativos quanto passivos, que apenas replicam índices (ETFs). E apesar da casa ganhar mais dinheiro com os ativos, para os iniciantes, a Hashdex prefere indicar os ETFs. “A nossa recomendação sempre é: comecem com o índice, com o beta de mercado. Não faz sentido começar direto em uma tese específica se você ainda não tem profundidade. O índice te dá a exposição mais limpa e mais diversificada”, afirma o CEO. “A partir do momento em que você já ganhou contexto, entendeu como o mercado funciona e está confortável com o risco, aí sim faz sentido começar a alocar em teses próprias”.