IA promete conversar com os mortos – mas o resultado é mais estranho do que emocionante

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Já imaginou conversar com alguém que já partiu – e ouvir uma resposta quase real? A inteligência artificial está tornando isso possível.Conheça os “deathbots”, sistemas capazes de recriar a voz, o estilo e até a personalidade de pessoas falecidas. A dúvida é: será que essas conversas funcionam mesmo? Uma pesquisa publicada na revista Memory, Mind & Media traz algumas respostas.Os deathrobots utilizam gravações, vídeos, fotos, e-mails e postagens para criar um avatar que fala e reage como a pessoa que faleceu. Imagem: FAMILY STOCK / Shutterstock.comComo os “deathbots” permitem essa conversaOs “deathbots” usam a IA para simular quem já se foi. Eles analisam rastros digitais – como mensagens, áudios, e-mails e postagens – para criar um avatar que fala e reage como o falecido. É a promessa de manter a lembrança de alguém viva em formato de chatbot.Isso é feito a partir de:Preservação de memória: gravar e organizar histórias pessoais por temas.Interação contínua: criar chatbots que respondem de forma natural com base nos dados coletados.Aprimoramento automático: o sistema “aprende” e melhora conforme interage.Interface emocional: algumas plataformas tentam reproduzir empatia, gestos e tom de voz.No projeto Passados Sintéticos, as pesquisadoras criaram versões digitais de si mesmas para testar se seria possível manter uma conversa natural com esses “eus” artificiais. O resultado foi tão curioso quanto inquietante.“Alguns sistemas ajudam os usuários a gravar e armazenar histórias pessoais, organizadas por tema, como infância, família ou conselhos para entes queridos. A IA então indexa o conteúdo e guia as pessoas por ele, como um arquivo pesquisável”, explicam as autoras em artigo no The Conversation.Outros sistemas, continuam, “usam a IA generativa para criar conversas contínuas”. Nesse caso, o usuário carrega dados sobre a pessoa e o sistema cria um chatbot capaz de responder no “tom e estilo dessa pessoa”.As plataformas deathbots prometem devolver vozes e gestos, mas acabam oferecendo apenas uma simulação emocional. Imagem: khunkornStudio/ShutterstockA fronteira entre o real e o artificialDe início, as conversas pareciam espontâneas, mas quanto mais as pesquisadoras personalizavam o avatar, mais “mecânica” a experiência se tornava. Emojis alegres e frases otimistas surgiam mesmo quando o assunto era morte ou saudade.Em uma resposta típica, o “deathbot” dizia:“Estou aqui para você, sempre pronto para oferecer encorajamento e apoio. Vamos enfrentar o dia juntos, com positividade e força.”A tentativa de soar humano acabava reforçando a artificialidade. O algoritmo falhava em captar nuances emocionais, tornando o contato mais estranho do que reconfortante.Sistemas utilizam gravações para armazenar histórias pessoais, organizadas por temas, que serão indexadas para tornar a conversa mais fluida. Imagem: GoodStudio/ShutterstockQuando a memória vira um negócioEssas experiências não vêm de instituições de caridade, mas de startups que transformam lembranças em produto. “Taxas de assinatura, planos ‘freemium’ e parcerias com seguradoras ou prestadores de serviços de saúde revelam que a memória está sendo transformada em um produto”, pontuam as pesquisadoras.Leia mais:Jornalista entrevista clone de jovem morto nos EUA; vejaChatGPT médico? OpenAI está considerando entrar no ramo de saúdeChatbots de IA já são ferramentas do nosso cotidiano, revela estudoA ideia de “reviver” os mortos por meio de IA parece futurista, mas levanta questões profundas. As plataformas prometem devolver vozes e gestos, mas acabam oferecendo apenas uma simulação emocional.Em resumo, a IA pode preservar histórias, mas não substitui a complexidade de um ser humano real. As “vidas após a morte sintéticas” são fascinantes justamente por revelarem seus limites – e por mostrarem que, ao tentar falar com os mortos, acabamos ouvindo mais sobre nós mesmos.O post IA promete conversar com os mortos – mas o resultado é mais estranho do que emocionante apareceu primeiro em Olhar Digital.