O telhado nunca é um lugar confortável para matérias que se pretenda aprovar no Congresso, mas é lá que está o PL (Projeto de Lei) Antifacção, apresentado pelo governo e relatado pela oposição. O texto foi saudado por diferentes setores como a principal legislação de combate ao crime organizado, e sua votação já deveria ter ocorrido — primeiro na semana passada, depois ontem, hoje, e agora ficou para a próxima semana, ou talvez para o mês que vem, a pedido de governadores que formaram um consórcio. Inicialmente, o grupo de governadores foi criado para impulsionar o projeto, mas agora atua para adiá-lo.Apesar dos esforços do relator — oriundo de uma das alas mais combativas da oposição — para agradar a todos, inclusive o STF (Supremo Tribunal Federal), o que parece ter ficado claro é que a fanfarra em torno do projeto já forneceu material suficiente para a campanha eleitoral. Atender simultaneamente aos interesses e às exigências de todos os envolvidos seria impossível. Leia Mais Quarto relatório de Derrite altera financiamento da PF Derrite diz a deputados que recuo sobre terrorismo visa destravar votação Facções precisam ser equiparadas ao terrorismo, afirma Ronaldo Caiado à CNN A oposição, embora mantenha o comando do tema — que lhe é favorável, especialmente diante do respaldo público à megaoperação contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro —, tem demonstrado pouca capacidade de articulação política para levar adiante o que considera necessário, e ainda menos habilidade para construir o consenso que dizia ser fácil de alcançar.Por isso, a matéria acabou “subindo ao telhado”. Essa incapacidade do sistema político de resolver questões fundamentais é perigosa não apenas pelo atraso que representa no combate ao crime organizado, mas também pelo descrédito, já muito grande, com que a população enxerga a atuação das principais instituições em um cenário tão preocupante.