Não é só o Sol: estrela próxima é flagrada lançando jato de plasma para o espaço

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Um artigo publicado nesta quarta-feira (12) na revista Nature relata a primeira observação de uma estrela relativamente próxima lançando ao espaço um fluxo de plasma conhecido como ejeção de massa coronal (CME), fenômeno semelhante ao liberado pelas explosões que ocorrem no Sol. A detecção, feita com a sonda espacial XMM-Newton, da Agência Espacial Europeia (ESA), e o radiotelescópio LOFAR (rede de antenas distribuídas pela Europa), marca um avanço importante na astronomia: é a primeira confirmação direta de que outras estrelas também podem produzir esse tipo de erupção.Em poucas palavras:Cientistas observaram pela primeira vez uma estrela ejetando plasma para o espaço;A detecção foi feita pela sonda espacial XMM-Newton e o radiotelescópio LOFAR;CMEs expulsam plasma quente e campos magnéticos das estrelas;Esses jatos podem devastar atmosferas de planetas próximos rapidamente;Anã vermelha estudada gira rápido e possui campo magnético intenso;Descoberta mostra que ejeções estelares podem tornar planetas inóspitos.Uma impressionante CME lançada pelo Sol capturada em detalhes pelo satélite SOHO. Novo estudo relata a primeira observação desse fenômeno em outra estrela. Crédito: NASA/ESA SOHO via Helioviewer.orgCMEs podem destruir exoplanetasCMEs consistem em grandes quantidades de gás superaquecido e campos magnéticos lançados pelas camadas externas de uma estrela. No caso do Sol, quando elas atingem a Terra, são responsáveis por fenômenos como as auroras boreais, além de afetarem comunicações e redes elétricas.No entanto, em outros sistemas estelares, uma explosão desse tipo pode ser devastadora, removendo completamente a atmosfera de planetas que orbitem muito próximos. Até agora, a existência de CMEs fora do Sistema Solar era apenas uma hipótese – mas, isso acaba de mudar. “Os astrônomos tentam detectar uma ejeção de massa coronal em outra estrela há décadas”, explica Joe Callingham, do Instituto Holandês de Radioastronomia (ASTRON), autor principal do estudo, em um comunicado. “Descobertas anteriores apenas sugeriam sua presença, mas nunca tínhamos visto o material se desprendendo e viajando para o espaço.” Representação artística de uma poderosa ejeção de massa coronal (CME) em uma estrela, expelindo plasma energético e radiação contra um planeta em órbita – potencialmente, pulverizando sua atmosfera. Crédito: NAOJO sinal decisivo foi uma breve e intensa emissão de ondas de rádio, registrada pelo LOFAR. Essa assinatura só poderia ser produzida se o plasma tivesse escapado totalmente do campo magnético da estrela, confirmando que se tratava de uma ejeção real.Localizada a apenas 130 anos-luz de distância (considerado próximo em escala galáctica), a estrela observada é uma anã vermelha, menor e mais fria que o Sol, mas muito mais ativa. Contendo metade da massa solar, ela gira 20 vezes mais rápido e possui um campo magnético 300 vezes mais forte. Estrelas desse tipo são comuns na Via Láctea, e muitas delas possuem planetas ao redor. O fato de um objeto como esse lançar uma ejeção tão poderosa indica que o clima espacial próximo a esses astros pode ser muito extremo.O sinal captado pelo LOFAR foi analisado com técnicas avançadas desenvolvidas pelos pesquisadores Cyril Tasse e Philippe Zarka, do Observatório de Paris-PSL, na França. Em seguida, o telescópio XMM-Newton foi usado para medir a temperatura e a emissão de raios X da estrela, ajudando a confirmar a velocidade e a energia da ejeção. “Nenhum dos instrumentos, sozinho, teria sido capaz de revelar o fenômeno”, afirma David Konijn, doutorando do ASTRON e coautor do estudo. “Foi a combinação dos dois que nos permitiu enxergar o quadro completo”.Representação artística de uma erupção estelar em uma anã vermelha, liberando plasma para o espaço. Crédito: Olena Shmahalo/Callingham et al.Leia mais:Erupções solares podem ser muito mais quentes do que se pensavaImagem de tirar o fôlego mostra estação espacial com erupção solar ao fundoJato de plasma solar canibal atinge a Terra e provoca show de aurorasJato lançado pela estrela é mais veloz que a maioria das ejeções do SolOs cálculos indicam que o plasma foi lançado a uma velocidade impressionante de 2.400 km/s – o equivalente a quase 8,6 milhões de km/h. Apenas 5% das ejeções solares foram tão velozes. Se houvesse um planeta orbitando próximo a essa estrela, ele provavelmente teria sua atmosfera totalmente arrancada, tornando-se um mundo árido e inóspito. A descoberta, portanto, reforça a importância de considerar o clima espacial estelar ao avaliar a habitabilidade de exoplanetas.Para um planeta ser considerado possível de abrigar vida, ele precisa estar na chamada “zona habitável” – uma faixa em torno da estrela onde a temperatura permite a existência de água líquida. Mas, se a estrela for muito ativa e emitir frequentemente CMEs violentas, mesmo um planeta situado nessa região pode perder sua atmosfera e toda habitabilidade. “Essas ejeções têm o poder de transformar um mundo potencialmente habitável em uma rocha estéril”, alerta Henrik Eklund, pesquisador da ESA.Para ele, o estudo inaugura uma nova fronteira no entendimento do clima espacial fora do Sistema Solar. “Não precisamos mais basear tudo o que sabemos sobre ejeções de massa coronal apenas no Sol. Agora temos evidências diretas de que estrelas menores podem produzir tempestades ainda mais extremas – e isso muda completamente nossa visão sobre a evolução de planetas e suas atmosferas.”Lançado pela ESA em 1999, o XMM-Newton é um dos principais telescópios dedicados ao estudo do Universo em raios X. Ele já observou o entorno de buracos negros, os núcleos de galáxias e diversas explosões estelares. Segundo Erik Kuulkers, cientista do projeto, a descoberta mostra o alcance dessa missão. “O XMM-Newton está nos ajudando a entender como essas ejeções variam de estrela para estrela e como influenciam a busca por mundos habitáveis”, disse o cientista, completando que essa conquista é resultado de décadas de colaboração internacional e representa um marco na astrofísica moderna.O post Não é só o Sol: estrela próxima é flagrada lançando jato de plasma para o espaço apareceu primeiro em Olhar Digital.