Pagamentos digitais disparam e devem dobrar até 2029; bancos devem se preocupar

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As transações financeiras não monetárias, ou seja, sem dinheiro vivo, se multiplicaram 10 vezes nos últimos 17 anos. Somente em 2024, por exemplo, o volume global dessas operações foi estimado em quase 1,685 trilhão, com projeções indicando que deverá chegar a 3,540 trilhões até 2029.É o que indica a nova versão do Relatório Global de Pagamentos 2026, realizado pela Capgemini Research Institute (CRI), que revela a popularidade dos meios de pagamento pelo mundo.Pagamentos instantâneos e carteiras digitais já representam 47% das transações na América Latina, bem acima da média global de 25%. E esse mercado pode expandir: o estudo mostra uma taxa de crescimento anual composta (CAGR, na sigla em inglês) projetada de 17,4% para os próximos cinco anos.Leia tambémJustiça penhora direitos de imóveis de Pelé; entenda o que significa e como evitarDecisão foi tomada por conta de falta de pagamentos de despesas condominiaisNo curto prazo, a região deve registrar um crescimento anual de 22,4% entre 2024 e 2025, impulsionado por economias centradas no uso de dispositivos móveis, pela adoção regional de pagamentos em tempo real e pelo comércio digital.Além disso, cerca de 40% dos pequenos e médios comerciantes nas Américas planejam mudar de bancos para paytechs nos próximos 12 meses, diante da busca por soluções mais ágeis e personalizadas.Daniela Dutra, líder de Serviços Financeiros da Capgemini Brasil, explicou com exclusividade ao InfoMoney sobre os motivos dessa popularização dos pagamentos digitais. Ela indica que são dois tipos de carteiras digitais: as chamadas pass-through e a close look.No primeiro caso, são aquelas que funcionam como um repositório dos cartões digitais, que possuem o objetivo de não andar com o cartão, por exemplo os sistemas Apple Pay e Google Pay. Já o segundo seriam as carteiras de grandes varejistas, que garantem benefícios próprios, como o iFood, Uber, Natura, Starbucks, entre outros.Para ela, o aumento de interesse apresentado no relatório é causado por dois motivos principais. O primeiro seriam os benefícios para os consumidores, porque as carteiras oferecem cashback, brindes e programas de fidelidade, se tornando um grande apelo para o cliente final. Em seguida, para as empresas, são os dados. “Dados sobre os hábitos daquele cliente são o novo petróleo: se você sabe aonde ele compra e como ele compra, você ganha mais informação para poder ofertar os produtos”, comenta Dutra.O novo relatório está em sua 21ª edição e entrevistou 2.600 pequenos, médios e grandes comerciantes, 420 executivos de pagamento e mais de 65 executivos seniores de grandes bancos e empresas de PayTech, de 15 países, incluindo o Brasil.Pix é um dos maiores indicadores do avanço dessas transferências no BrasilEmbora as transferências de crédito e os débito diretos tenham mantido uma participação estável no conjunto total de meios de pagamento, seus papéis agora estão sendo desafiados por alternativas mais rápidas e baseadas em APIs, como o Pix.Tudo sobre Pix: entenda como funciona o sistema de pagamentos do Banco CentralEsse sistema oferece maior flexibilidade, transparência e execução em tempo real, além de ser controlado pelo Banco Central (BC), o que garante maior segurança e populariza a ferramenta entre os brasileiros.Essas mudanças não são apenas operacionais — elas têm implicações econômicas significativas. À medida que o mix de instrumentos de pagamento evolui, também muda a distribuição das receitas em todo o ecossistema.Para a executiva da Capgemini, mesmo com um mercado crescente das paytechs, o Pix deve seguir como protagonista nas transações digitais e cabe aos bancos saber operá-lo da melhor forma possível. “O Pix foi importante para a inclusão financeira do Brasil. Se não fosse ele, não estaríamos falando de carteiras digitais hoje. Então, o Pix é protagonista e as paytechs já sabem que se elas não incluírem a ferramenta nas suas soluções, elas vão perder”, avalia.Dutra também comenta que competir com o Pix seria possível, como é o caso de estratégias fechadas do NuPay, criado pelo Nubank. No entanto, o BC já está aprimorando a solução e, em termos de popularidade e segurança, a maior base de clientes de instituições financeiras devem escolher o Pix.Bancos precisam acompanhar as mudançasEm um cenário onde as transações digitais — transferências ou cartões — crescem, há o aumento do uso das paytechs. Quem perde com isso são os bancos.Ainda que 66% dos comerciantes confiem mais em bancos do que nas paytechs, à medida que as transações não monetárias crescem, o cenário financeiro global está sendo transformado. E os bancos precisam saber como acompanhar.A líder de Soluções Financeiras da Capgemini Brasil explica que um dos principais desafios dos bancos tradicionais em um cenário de aumento do digital é olhar para o negócio de pagamentos das instituições. Atualmente, ela revela que os bancos utilizam outras empresas parceiras para agilizar pagamentos, mas o cliente é contabilizado de maneira separada.“Fica confuso, por exemplo, uma equipe de vendas de um banco oferece um produto de conta corrente para um comerciante, mas a maquininha é outro produto e os dados ficam em lugares diferentes. Então como é que eu analiso as necessidades do meu cliente?” Ela alerta que o foco dos bancos tradicionais deve estar em observar os estabelecimentos e suas necessidades para gerar o maior lucro, seja com empréstimos ou fidelidade.Leia tambémÉ preciso ter um seguro específico para carro usado em aplicativo ou um comum serve?Especialista explica por que veículos que rodam em apps de transporte exigem coberturas específicas, e por que um seguro comum pode ser um riscoA pesquisa mostra que bancos que dependem fortemente de taxas de intercâmbio e de modelos tradicionais baseados em cartões enfrentam um risco crescente de perder dinheiro e dados. Isso porque o avanço das carteiras digitais, dos sistemas de pagamento em tempo real e dos fluxos de pagamento integrados está desviando valor das infraestruturas tradicionais.Os pagamentos digitais agora são parte do mainstream, e o momento — e a oportunidade — para a mudança é agora.Dutra lembra do potencial de confiança que os bancos tradicionais possuem. Caso eles consigam dominar as estratégias de pagamentos digitais, é possível superar o peso de mercado que as paytechs vem ganhando nos últimos anos.IA revoluciona o setor financeiro tambémUma das principais diferenças é o uso de inteligência artificial generativa (GenAI) para facilitar operações. Cerca de 60% das paytechs utilizam GenAI globalmente, contra 41% dos bancos.Nas Américas, esse cenário muda para 52% das paytechs com soluções de IA generativa, enquanto apenas 36% dos bancos na região aplicam a ferramenta.A executiva comenta que o uso de IA vai fazer uma grande diferença no futuro, se tornando quase inevitável. Para as paytechs, há uma vantagem visto que conseguem adaptar as necessidades mais rápido e implementá-las aos clientes, o que para os bancos já é um processo mais custoso e demorado.Um dos principais benefícios que a IA deve trazer às instituições financeiras em geral é um aumento da taxa de conversão e previsibilidade de caixa. Isso porque elas permitem acompanhamento personalizado do cliente e também uma análise completa dos hábitos dos consumidores.The post Pagamentos digitais disparam e devem dobrar até 2029; bancos devem se preocupar appeared first on InfoMoney.