94% dos portugueses defendem a literacia financeira desde o ensino básico

Wait 5 sec.

O custo de vida aumenta e o acesso à habitação tornou-se um desafio, e com isto em cima da mesa há um ponto que une a esmagadora maioria dos portugueses: a importância da literacia financeira.Um estudo independente da Nickel, instituição financeira de pagamento do grupo BNP Paribas, em parceria com a DATA E, revela que 94% dos portugueses defendem a introdução de programas de literacia financeira desde o ensino básico.Os resultados são surpreendentes não só pelo consenso, mas pela distribuição geográfica: o Algarve (97%) e o Norte (94%) destacam-se como as regiões mais convictas, revelando uma preocupação transversal, tanto em zonas urbanas como em territórios de menor densidade populacional.Conhecimento financeiro: entre o básico e o intermédioO estudo mostra que metade dos inquiridos avalia o seu conhecimento financeiro como intermédio, enquanto apenas uma minoria se sente verdadeiramente preparada para tomar decisões complexas sobre poupança e investimento.Entre os jovens de 18 a 24 anos, apenas 13% consideram ter um nível avançado, um dado que expõe as fragilidades da formação económica e financeira na transição entre o ensino secundário e o superior.Nos adultos entre os 55 e 64 anos, 30% admitem ter apenas conhecimentos básicos, o que sugere que as lacunas não são apenas geracionais, mas estruturais.Portugal continua a posicionar-se abaixo da média europeia no que diz respeito à compreensão de conceitos como juros compostos, diversificação de risco ou inflação real, segundo dados comparáveis da OCDE e do Banco de Portugal.A poupança como reflexo de insegurançaApesar das limitações no conhecimento técnico, a maioria dos portugueses demonstra uma crescente consciência sobre a importância da gestão financeira pessoal.Quando questionados sobre as razões que os levam a poupar, os inquiridos apontam: emergências e imprevistos (53%), a reforma (33%), as viagens (32%).A prioridade às situações de emergência reflete uma mentalidade de contenção e prudência, típica de economias onde o rendimento disponível é limitado e as margens orçamentais são curtas. Em Portugal, o salário médio líquido ronda os 1.200 euros, e cerca de 70% das famílias gasta mais de metade do seu rendimento em habitação e alimentação, segundo dados do INE.O peso do custo de vida e os limites da poupançaMais de 57% dos inquiridos afirmam ter dificuldades em poupar regularmente. Os principais motivos são conhecidos: salários baixos; despesas inesperadas; rendas e prestações de casa demasiado elevadas.A inflação e a subida das taxas de juro dos últimos anos agravaram o cenário, travando o impulso de poupança. Mesmo assim, Portugal continua a ser um dos países europeus com maior taxa de poupança de precaução, ou seja, poupança destinada a emergências e não a investimento.O comportamento financeiro nacional mantém-se tradicionalmente conservador: 47% dos portugueses continuam a preferir depósitos a prazo, 29% optam por certificados de aforro e 26% têm Planos de Poupança Reforma (PPR). A adesão a produtos mais complexos, como fundos de investimento ou ETF, ainda é residual.‘Carácter financeiro’: mais do que números«Os dados revelam uma população cada vez mais consciente da importância da literacia financeira e da gestão responsável do seu orçamento. Reforçar a educação financeira, desde cedo, é essencial para transformar esse conhecimento em hábitos de poupança e investimento sustentáveis, bem como em decisões mais equilibradas», afirma João Guerra, CEO da Nickel Portugal.A frase ecoa uma ideia que transcende a simples gestão de dinheiro: a de carácter financeiro. Trata-se da capacidade de tomar decisões conscientes, resistir à pressão do consumo e planear o futuro com disciplina — competências que se aprendem, mas também se cultivam.Um estudo da OCDE (2023) aponta que os países que introduziram programas de literacia financeira no ensino obrigatório registaram uma redução de até 20% no sobre-endividamento juvenil. Exemplos como a Finlândia, a Holanda e o Canadá mostram que o ensino precoce de noções básicas de crédito, juros e planeamento orçamental tem impacto direto na saúde financeira das famílias.Educação e cidadania económicaEm Portugal, o tema da educação financeira tem vindo a ganhar espaço nas escolas e nos meios de comunicação, mas ainda sem a integração sistemática que lhe permita transformar-se numa política pública transversal. A Estratégia Nacional de Educação Financeira, lançada em 2011 e coordenada pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (Banco de Portugal, ASF e CMVM), tem produzido materiais didáticos e campanhas de sensibilização, mas a sua aplicação prática depende fortemente da vontade das escolas e dos docentes.O desafio, portanto, não é apenas ensinar a poupar, mas educar para a responsabilidade financeira e social. A literacia financeira não pode ser um luxo académico, mas sim uma ferramenta de autonomia e proteção. O futuro da literacia financeira em PortugalA tendência é clara: os portugueses querem aprender mais sobre finanças, mas enfrentam barreiras culturais, linguísticas e emocionais. O receio de ‘não perceber de dinheiro’ ainda é comum, sobretudo entre gerações mais velhas.As novas plataformas digitais e as fintechs — como a própria Nickel — têm ajudado a simplificar o acesso à informação e a democratizar o uso de serviços financeiros, mas o fosso entre o conhecimento e a prática ainda persiste.O estudo da Nickel reforça, assim, um sinal de maturidade social: a literacia financeira tornou-se uma exigência coletiva, e não apenas uma competência individual. Num país em que metade da população sente que ‘sabe mais ou menos, o verdadeiro desafio será fazer com que saber básico ou intermédio se converta, finalmente, em confiança e autonomia financeira.Portugal parece pronto para dar um passo decisivo: ensinar finanças desde cedo. Numa sociedade onde o crédito é fácil e a vida é cara, compreender o valor real do dinheiro é um ato de cidadania. A literacia financeira, afinal, não é só sobre números. É sobre liberdade. O conteúdo 94% dos portugueses defendem a literacia financeira desde o ensino básico aparece primeiro em Revista Líder.