Segurança psicológica é o alicerce invisível das equipas que crescem

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O sentimento de segurança no local de trabalho é uma característica pouco discutida nos dias que correm, por ser condição sine qua non de uma empresa. Mas há uma faceta silenciosa que se manifesta quando as pessoas se sentem ouvidas, respeitadas e livres para pensar em voz alta: a segurança psicológica. Esta característica pode ser crucial na performance e na cultura organizacional.É isso que defende Ana Moniz, psicóloga e psicoterapeuta, e que considera mesmo ser «a base de qualquer equipa saudável». Não significa ausência de conflito ou uma cultura de «boa disposição permanente». Implica respeito, confiança e responsabilidade mútua — a liberdade de discordar, de dizer “não sei”, de admitir um erro e de pedir ajuda sem medo de retaliação.A especialista é a convidada deste episódio do ‘Conversas que Cuidam’, um podcast da Fidelidade e da revista Líder, em que reflete sobre como líderes e equipas podem criar ambientes onde a confiança e a escuta sustentam relações eficazes e humanas.Levado a cabo por Rita Figueiredo, psicóloga e gestora de pessoas, e Soraia Jamal, psicóloga e psicoterapeuta, este podcast de oito episódios traz perspetivas individuais e organizacionais para promover resiliência, inclusão e qualidade de vida. Ouça aqui o episódio completo: Cuidar das pessoas é cuidar da culturaCriar ambientes seguros não é um gesto isolado de liderança, mas um compromisso coletivo. Quando o medo e a vergonha dominam, a inovação e o pensamento crítico desaparecem. «O medo ativa o modo de sobrevivência. Ninguém pensa no bem comum quando está a tentar não ser culpado pelo erro», explica Ana Moniz.As consequências estão à vista. O burnout tornou-se o novo canário na mina, alerta a psicóloga, recorrendo à metáfora criada pela investigadora Christina Maslach, numa alusão à utilização dos pássaros para verificar a toxicidade das minas, antes dos trabalhadores entrarem. «Em vez de mudar o ambiente tóxico, damos ferramentas para o canário aguentar mais», explica. A exaustão, o cinismo e a perda de eficácia são sintomas que se manifestam numa cultura que valoriza a produtividade acima da humanidade.A solução, diz Ana Moniz, é olhar o problema como sistémico. O burnout não é uma doença individual, mas sim um sinal organizacional. E o antídoto não está em aumentar a resiliência, mas em criar melhores condições, comunicação aberta e respeito pelas pessoas.Há quem ache que segurança psicológica é sermos todos amigos. Está longe disso. É ter cuidado e respeito, mas também responsabilidade. Feedback, confiança e pequenos gestosA segurança psicológica constrói-se no quotidiano, não apenas em formações pontuais. «A forma como as pessoas são tratadas no dia a dia é o que muda tudo», resume. Uma cultura saudável é aquela onde o feedback flui em todas as direções — para cima, para baixo e entre pares.Num país ainda marcado por estilos de liderança hierárquicos e autoritários, esta transformação cultural exige persistência. «Ainda é comum ver líderes reagirem com defesa quando alguém questiona uma decisão. Falta-nos normalizar a curiosidade e o diálogo», nota a psicóloga.Pequenos gestos fazem a diferença: interromper uma piada discriminatória, dar feedback construtivo, ou fazer perguntas com genuína curiosidade. «Ficar calado é dar poder a quem perpetua o problema», recorda. Liderar com humanidadeA segurança psicológica começa na liderança, mas não termina nela. Cada membro da equipa pode contribuir para um espaço mais humano, onde o erro é parte da aprendizagem. Com isto, é necessário criar modos de liderança mais profundos e assentes nas características de cada líder.«Ter um bom autocontrolo, capacidade de comunicação, capacidade de lidar com a frustração, não estar sempre a liderar pelo poder, conseguir ouvir críticas e integrar feedback negativo, tudo isto é super exigente como pessoa. Se queremos que a liderança melhore, temos de tornar as pessoas melhores», reforça Ana Moniz. «Ninguém dá o que não tem.»As novas gerações estão a mudar a conversa. São mais exigentes no equilíbrio e no respeito, e isso é positivo. «Querem ser tratadas com dignidade, e isso eleva o padrão de todas as organizações», afirma.Uma equipa segura é aquela onde é possível ser autêntico, aprender e colaborar. E quando isso acontece, não há só mais inovação — há mais humanidade. Acompanhe aqui os outros episódios:«Cuidar não tem de ser um ato solitário»: novo podcast da Fidelidade traz Conversas que Cuidam«Cuidar é uma maratona»: quando as empresas também são redes de apoio«Ser diferente tem de ser normal», destaca Inês Neves CaldasDormir é perder tempo? As respostas estão neste episódio de ‘Conversas que Cuidam’O trabalho depois da ausência: como reconstruir o equilíbrio e o lugarO conteúdo Segurança psicológica é o alicerce invisível das equipas que crescem aparece primeiro em Revista Líder.