O mercado está mais reticente quanto à continuidade da flexibilização monetária nos Estados Unidos. As apostas para um novo corte da taxa de juros, após dois já realizados pelo Federal Reserve (Fed), chegaram a cair para abaixo de 50%, em meio a preocupações com a inflação, sinais de estabilidade no mercado de trabalho e falas mais cautelosas dos dirigentes do banco central.Nesta sexta-feira (14), o mercado atribui 53,6% de chances de uma redução de 0,25 ponto percentual (p.p.) dos juros na última reunião do ano, que acontece nos dias 9 e 10 de dezembro. A expectativa para esse movimento chegou a 94,4% há apenas um mês.Já as apostas de estabilidade da taxa no atual patamar, de 3,75% a 4% ao ano, na decisão do próximo mês subiram para 46,4%.CONFIRA: As análises completas do BTG Pactual sobre os resultados de Petrobras, Vale, Itaú e outras gigantes da bolsaNa visão do Itaú, a comunicação mais dura do Fed indica que o fim do ciclo de afrouxamento está próximo. Na última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), o presidente Jerome Powell colocou dúvidas sobre novos ajustes de juros, devido à forte divisão dos diretores sobre o grau de restrição que a política monetária exerce na economia.No entanto, o banco destaca que, para não agir em dezembro, o banco central norte-americano precisaria observar uma surpresa frente às projeções divulgadas no Summary of Economic Projections (SEP) de setembro, que já indicavam mais cortes. Nesse caso, a redução provavelmente seria adiada para janeiro.“A distorção dos dados de emprego causada pelo shutdown e outros programas do governo, que devem puxar o payroll para um ritmo negativo em outubro e uma alta do desemprego, ainda que transitória, não contribui para maior clareza ao Fed sobre a melhora da economia”, diz.Diante desse cenário, os economistas da instituição revisaram suas projeções para apenas um corte de juros em dezembro. Antes, eles também viam um ajuste em janeiro de 2026.O Itaú pondera que dados alternativos ainda mostram desaceleração do emprego, enquanto a inflação arrefece gradualmente. “Apesar da economia crescer em ritmo forte, o emprego mostra sinais ainda incipientes de recuperação. Além disso, o CPI de setembro registrou uma variação mensal dos núcleos menor que a esperada, mas a desaceleração anual segue lenta.”O Santander, por outro lado, afirma que o balanço de riscos migrou o suficiente para permitir uma postura menos restritiva. “O Fed retomou o ciclo de cortes em setembro e outubro, com nova redução esperada para dezembro e taxa terminal de 3,50% para 2026. A moderação do mercado de trabalho e a surpresa baixista da inflação sustentam essa visão”, diz.Os economistas do banco anteciparam a projeção de um último ajuste em 2026, de março para janeiro.Um ponto de incerteza relevante, contudo, é a ausência das duas últimas leituras do payroll, adiadas em função do shutdown, sem indicação clara de quando serão publicadas. O próprio presidente do Fed ressaltou que a instituição não avançaria com cortes caso não dispusesse de evidências suficientes de enfraquecimento da atividade e da inflação subjacente.