Com o impasse comercial ainda sem solução, o governo brasileiro tenta reabrir espaço para o entendimento com Washington. A aposta é insistir na suspensão do tarifaço e das sanções impostas pelos Estados Unidos enquanto as negociações bilaterais prosseguem — movimento que ganhou fôlego após a breve conversa entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, na quarta-feira, à margem da reunião ministerial do G7, em Niágara. Um novo encontro entre os dois está previsto para esta quinta-feira, em Washington.Leia tambémShutdown chega ao fim; Mauro Vieira se reúne com Rubio e varejo está no radar hojeInfoMoney reúne as principais informações que devem movimentar os mercados nesta quinta-feira (13)Lula quer conversar com Dantas e ministros do STF antes de anunciar indicado ao STFDe acordo com ministros do entorno presidencial, o advogado-geral da União, Jorge Messias, se mantém como o nome favorito de LulaO encontro entre Vieira e Rubio ocorreu na quarta-feira, à margem da reunião ministerial do G7, em Niágara, no Canadá. Durante o diálogo, Vieira mencionou que o Brasil encaminhou, em 4 de novembro, uma proposta de negociação à parte americana, após uma reunião virtual entre equipes técnicas. Os termos são reservados, mas pessoas a par do tema afirmam que o documento sugere, entre outros pontos, a suspensão temporária das medidas enquanto se discute um acordo comercial mais amplo.A reunião que deverá acontecer em Washington entre os chefes da diplomacia dos dois países ocorrerá duas semanas depois do encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, na Malásia, que marcou o primeiro gesto político de aproximação desde então. Apesar disso, não houve avanços concretos até o momento.O tarifaço entrou em vigor em agosto, após ter sido anunciado em julho por Trump. As sobretaxas, de 50%, incidem sobre produtos brasileiros como aço, alumínio, carnes, café, frutas, pescados, suco de laranja e máquinas industriais. A Casa Branca alegou “perseguição judicial” ao ex-presidente Jair Bolsonaro para justificar as medidas, citando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, como principal alvo das sanções pessoais.Além das tarifas, o Brasil enfrenta uma investigação com base na Seção 301 da Lei de Comércio dos Estados Unidos — instrumento que permite sanções a países acusados de práticas “injustificáveis ou discriminatórias”. No caso brasileiro, estão sob análise temas como comércio digital, regras ambientais, tarifas preferenciais, propriedade intelectual e o uso do Pix como meio de pagamento instantâneo, apontado por autoridades americanas como um possível fator de desequilíbrio competitivo para empresas estrangeiras.Nesta semana, Trump voltou a mencionar a possibilidade de reduzir algumas tarifas de importação de café, como parte de um esforço para conter a inflação doméstica, pressionada pela alta de preços gerada pelo próprio tarifaço. Embora o Brasil não tenha sido citado nominalmente, a sinalização foi recebida com otimismo por interlocutores do governo e do setor privado.Os Estados Unidos são o maior consumidor de café do mundo, com importações anuais de cerca de 25 milhões de sacas. O Brasil responde por aproximadamente um terço desse total.As sobretaxas impostas por Washington provocaram forte impacto nas exportações brasileiras. Desde agosto, as vendas de produtos atingidos pelas medidas — especialmente aço, alumínio, carnes, café e máquinas industriais — registraram retração estimada em 20% no valor exportado, entre agosto e outubro, em comparação com o mesmo período do ano anterior.O Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento sustentam que as medidas são injustificadas, já que os Estados Unidos continuam superavitários no comércio bilateral. Dados de 2024 mostram que o país exportou US$ 40,4 bilhões ao Brasil, enquanto as vendas brasileiras aos EUA somaram US$ 40,7 bilhões — diferença de cerca de US$ 300 milhões. Entre janeiro e outubro, o déficit brasileiro com os Estados Unidos atingiu US$ 6,8 bilhões.A decisão da Casa Branca de vincular o fim do tarifaço à situação judicial de Bolsonaro aprofundou a crise diplomática. Lula, segundo interlocutores, foi categórico ao afirmar que o Brasil não aceitaria interferência em assuntos internos e que não se deve confundir divergências políticas com temas comerciais. O presidente reforçou que o país não abrirá mão de sua soberania e que a defesa do Estado de Direito é inegociável, mesmo diante de pressões econômicas.The post Lula insiste na suspensão do tarifaço enquanto houver negociação entre os dois países appeared first on InfoMoney.