Paris fará homenagens 10 anos após ataque terrorista: ‘Você não se recupera da perda de um filho’

Wait 5 sec.

Nesta quinta-feira (13), a França relembra os dez anos dos piores ataques terroristas de sua história. Uma série de homenagens está programada em Paris para honrar a memória das 130 vítimas fatais e centenas de feridos dos atentados coordenados pelo grupo jihadista Estado Islâmico. As cerimônias ocorrerão nos locais dos ataques, incluindo a casa de shows Bataclan, restaurantes, bares e as proximidades do Stade de France, onde será inaugurado um jardim memorial.Na noite de 13 de novembro de 2015, o terror se espalhou pela capital francesa em uma série de fuzilamentos e explosões suicidas. O ataque mais mortal ocorreu no Bataclan, onde 90 pessoas foram assassinadas durante um show de rock. Uma década depois, as marcas daquela noite permanecem visíveis nos sobreviventes e nos familiares que perderam seus entes queridos.A vida pós-trauma“Já se passaram dez anos, é parte de mim”, afirma Eva, uma sobrevivente de 35 anos que perdeu parte da perna após ser atingida por múltiplos disparos no terraço de um restaurante. Sua história, marcada por uma “enorme cicatriz” no braço e a adaptação a uma prótese, reflete a jornada de muitos. Embora diga estar “muito bem”, ela admite: “a vida não é fácil todos os dias”.O medo e as memórias dolorosas ainda assombram muitos. Bilal Mokono, que ficou em uma cadeira de rodas após ser ferido perto do Stade de France, conta que desde então “dorme mal” e que o temor o “persegue”. Para Sophie Dias, que perdeu o pai, Manuel Dias, no mesmo local, a data reforça a importância de não deixar a memória de seu “pai único” se apagar.Contudo, há também quem deseje seguir em frente. Fabien Petit, cujo cunhado foi morto no café Bonne Bière, expressa o sentimento de que não se pode “continuar revivendo o 13 de novembro repetidamente”. Para ele, o julgamento dos acusados, concluído em 2022 com a condenação à prisão perpétua do único terrorista sobrevivente, Salah Abdeslam, ajudou no processo de superação.As feridas psicológicas, no entanto, provaram ser fatais para alguns. O químico Guillaume Valette e o autor de quadrinhos Fred Dewilde, ambos sobreviventes, tiraram a própria vida anos após os ataques. Seus nomes foram adicionados às placas comemorativas, elevando simbolicamente o número de vítimas. Seus pais lutaram para que o filho fosse reconhecido como a 131ª vítima.O psiquiatra Thierry Baubet alerta que ainda há vítimas sofrendo em silêncio, muitas vezes por “medo de não serem compreendidas”. Ele ressalta, porém, que os recursos para tratamento de trauma melhoraram na França desde 2015 e que “nunca é tarde demais” para buscar ajuda.Justiça e memóriaRecentemente, um novo capítulo se abriu no caso com o pedido de Salah Abdeslam para participar de um processo de “justiça restaurativa”. Sua advogada, Olivia Ronen, afirmou que ele deseja “abrir uma porta às partes civis” para explicar a situação e falar sobre sua detenção e o julgamento. A iniciativa, que não substitui a justiça penal, foi recebida com interesse por algumas associações de vítimas, que veem a possibilidade de encontros na prisão com o condenado.Paralelamente, a ameaça terrorista na França permanece uma preocupação. O fiscal nacional antiterrorista, Olivier Christen, alertou que a ameaça jihadista tem “crescido de forma constante durante os últimos três anos”.Nesta semana, a Torre Eiffel está iluminada com as cores da bandeira francesa em homenagem às vítimas. Telões serão instalados na Praça da República para que o público possa acompanhar a cerimônia oficial. O presidente Emmanuel Macron participará das homenagens nos diferentes locais dos ataques. Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp! WhatsApp Para o historiador Denis Peschanski, com o passar do tempo, a memória coletiva tende a se concentrar no Bataclan, esquecendo os outros locais. É por isso que Roman, sobrevivente do ataque ao restaurante La Belle Équipe, decidiu se tornar professor de história e geografia. “Ensinar (…) era importante, não apenas para evitar que isso aconteça novamente, mas também para transmitir aos jovens o que nos aconteceu”, afirma.Dez anos depois, a dor da perda permanece indelével para muitos, como o jornalista Eric Ouzounian, que perdeu sua filha de 17 anos, Lola, no Bataclan. “Você não se recupera da perda de um filho”. Sua recusa em participar das homenagens em 2015 e sua crítica às políticas estatais que, segundo ele, criaram “zonas de desespero”, ainda inflamam um debate presente na sociedade francesa sobre as raízes do extremismo.*Com informações da AFP Leia também E-mails de Eptstein sugerem que Trump sabia sobre exploração sexual de menores Trump pede a presidente de Israel que conceda indulto a Netanyahu, julgado por corrupção