Safári humano: Italianos são investigados por matarem civis na Bósnia

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Uma investigação foi aberta contra italianos que supostamente pagaram membros do exército sérvio-bósnio, em viagens para a cidade de Sarajevo, capital da Bósnia e Herzegovina, para poderem matar cidadãos durante o cerco à cidade na Guerra Civil da Iugoslávia.A prática, que foi batizada de “turismo de atiradores de elite”, envolve suspeitas de que estrangeiros foram transportados até as colinas da atual capital da Bósnia para atirar na população entre 1992 e 1996.O inquérito é conduzido pelo Ministério Público de Milão, e busca identificar os suspeitos sob a acusação de homicídio culposo agravado por crueldade e motivos abjetos. Itália prende 130 pessoas em grande operação contra máfia da Sicília Incêndio em lar de idosos deixa ao menos 11 mortos na Bósnia Casal chinês é assassinado ao "estilo da máfia" em Roma O caso nasceu de uma denúncia formal apresentada pelo escritor Ezio Gavazzeni, que afirma ter reunido provas consistentes após anos de investigação.A denúncia foi reforçada por um relatório da ex-prefeita de Sarajevo, Benjamina Karić, segundo o jornal britânico The Guardian.“Havia um tráfego de turistas de guerra que iam até lá para matar pessoas”, explicou o escritor e autor da denúncia, que classificou o caso como uma “indiferença ao mal”.No cerco de Sarajevo, que durou quase quatro anos e se tornou o mais longo da história moderna, mais de dez mil pessoas morreram sob bombardeios e tiros de franco-atiradores.Estes últimos eram grupos de cidadãos italianos e de outras nacionalidades que, para poder atirar contra a população por prazer, pagaram grandes quantias a soldados do exército de Radovan Karadžić, o ex-líder sérvio-bósnio que foi considerado culpado de genocídio e outros crimes contra a humanidade.O autor da denúncia afirmou que “muitos, muitos italianos” e até “alemães, franceses, ingleses” iam lá por “diversão e satisfação pessoal”.Ele também diz ter identificado alguns dos indivíduos italianos supostamente envolvidos que devem ser interrogados pelos promotores nas próximas semanas.A avenida Meša Selimović, conhecida como Sniper Alley (“Beco do atirador” em português), fazia a ligação ao aeroporto de Sarajevo e se tornou um símbolo do terror cotidiano: atravessar a rua podia significar morte e nem ônibus ou bondes escapavam dos tiros; matavam pessoas, inclusive crianças, ao acaso, como se fosse um jogo.Documentário inspirou investigação que levou a denúnciaSegundo o escritor, a investigação começou depois de assistir ao documentário Sarajevo Safari (2022), do diretor esloveno Miran Zupanič, onde um ex-soldado sérvio e um empreiteiro relatam que grupos de ocidentais atiravam contra civis por pura diversão.Embora veteranos de guerra sérvios tenham negado essas alegações, ele decidiu se aprofundar no assunto.“O Saravejo Safari foi o ponto de partida. A partir daí, expandi minha investigação até reunir material suficiente para apresentar aos promotores de Milão”, disse Ezio Gavazzeni.O advogado Nicola Brigida, que apoia Gavazzeni no processo, afirma que “as evidências coletadas após uma longa investigação são bem fundamentadas e podem levar a uma investigação séria para identificar os culpados.”Entre as vítimas mais emblemáticas estão Boško Brkić e Admira Ismić, o casal retratado no documentário “Romeu e Julieta em Sarajevo”, que foram mortos a tiros em 1993 enquanto tentavam atravessar uma ponte.As imagens do casal correram o mundo e se tornaram símbolo da brutalidade e da aleatoriedade da guerra.