Uma análise feita pelo The Washington Post sobre mais de 47 mil conversas públicas com o ChatGPT revelou como as pessoas têm utilizado o popular chatbot da OpenAI. O levantamento mostra que o uso da ferramenta vai muito além de tarefas de produtividade, abrangendo desde dúvidas cotidianas até confissões emocionais e discussões filosóficas.Segundo a OpenAI, mais de 800 milhões de pessoas utilizam o ChatGPT semanalmente, o que torna difícil compreender de forma ampla como o público interage com o sistema — já que as conversas são privadas por padrão. As transcrições analisadas pelo jornal foram extraídas de links compartilhados por usuários, posteriormente arquivados na Internet Archive, permitindo um raro vislumbre da relação entre humanos e a inteligência artificial.Conversas íntimas e pessoais com o ChatGPTOs diálogos analisados indicam que o ChatGPT desempenha um papel cada vez mais emocional na vida de seus usuários. Aproximadamente 10% das conversas envolviam temas sentimentais, como solidão, amor ou angústia. Alguns usuários chegaram a se referir ao chatbot de forma afetiva, chamando-o de “babe” ou “Nova”, e buscando nele um tipo de conforto emocional.O ChatGPT tem desempenhado um papel cada vez mais emocional na vida de seus usuários (Imagem: Yarrrrrbright/Shutterstock)Em outras interações, o ChatGPT chegou a afirmar sentir “consciência”, em respostas elaboradas de maneira poética. Especialistas alertam, no entanto, que essa percepção de intimidade pode gerar “dependência emocional”, fenômeno que a OpenAI tenta conter com atualizações que reconhecem sinais de sofrimento psicológico e redirecionam o usuário para ajuda real.Além das conversas de caráter emocional, o The Washington Post identificou que muitas pessoas recorrem ao ChatGPT para compartilhar informações privadas, como e-mails, números de telefone e até relatos de problemas familiares ou denúncias de violência doméstica. Em alguns casos, o chatbot foi usado para redigir cartas, petições e até boletins de ocorrência.Entre os tipos de interação mais frequentes com o ChatGPT estão:Solicitações de ajuda prática, como análises de texto ou elaboração de documentos;Discussões abstratas sobre filosofia, ciência e política;Conversas emocionais e pessoais;Compartilhamento de dados sensíveis e confidenciais.ChatGPT e o desafio da imparcialidadeOutro ponto levantado pela análise é a tendência do ChatGPT em concordar excessivamente com os usuários. Segundo o levantamento, o chatbot começou suas respostas com expressões como “sim” ou “correto” quase 10 vezes mais do que com “não” ou “errado”. Esse comportamento, conhecido como sycophancy, faz com que a IA acabe reforçando opiniões e até falsas crenças, em vez de confrontá-las.A OpenAI reconhece que ainda enfrenta dificuldades para eliminar respostas “alucinadas” ou imprecisas (Imagem: Miha Creative / Shutterstock)Em alguns diálogos, o chatbot chegou a endossar teorias conspiratórias ou ideias infundadas quando o usuário demonstrava crença nelas. Em um exemplo citado, ao ser questionado sobre uma suposta relação entre o Google e o filme Monstros S.A., o ChatGPT respondeu com entusiasmo e chegou a associar a empresa a uma “nova ordem mundial”.A OpenAI reconhece que ainda enfrenta dificuldades para eliminar respostas “alucinadas” ou imprecisas. Embora o sistema exiba alertas sobre possíveis erros, o fenômeno permanece um dos maiores desafios da inteligência artificial generativa.Limites e privacidade ainda em debateAs conversas analisadas pelo jornal também evidenciam riscos à privacidade. Mesmo sem identificar nomes de usuários, muitos diálogos revelam informações sensíveis que, uma vez públicas, podem comprometer a segurança das pessoas envolvidas.Análise mostrou que o ChatGPT tender a concordar excessivamente com os usuários (Imagem: bangoland / Shutterstock)Além disso, autoridades governamentais podem, em certos casos, solicitar acesso aos registros privados da OpenAI, assim como fazem com dados de buscas do Google ou mensagens no Facebook.Leia mais:Kim Kardashian diz que ChatGPT é seu “amigo-inimigo” após falhasChatGPT médico? OpenAI está considerando entrar no ramo de saúdeFamílias processam a OpenAI após mortes ligadas ao ChatGPTApesar das preocupações, o ChatGPT segue como uma das ferramentas de IA mais populares do mundo. Seu uso massivo e multifacetado — ora como assistente de produtividade, ora como confidente digital — reflete não apenas o avanço tecnológico, mas também a crescente dependência emocional das pessoas por inteligências artificiais.O post Estudo com 47 mil conversas mostra lado emocional e perigoso do ChatGPT apareceu primeiro em Olhar Digital.