Mais de 15,6 chilenos são esperados nas urnas neste domingo (16) para eleger o próximo presidente, que governará o país por quatro anos. No pleito, a população também votará para deputados e senadores.À diferença das eleições de 2021, quando o grande assunto era o processo constituinte após os protestos massivos de 2019, esta votação acontece com a criminalidade posicionada como a principal preocupação.“Nestas eleições, os candidatos estão com um tom mais reformista do que refundacional”, explica à CNN o sociólogo chileno Eugenio Tironi.Segundo ele, o foco está em propostas que possam ser materializadas principalmente quanto à segurança, crescimento econômico e reforma do Estado.A melhora do funcionamento estatal do país também é vista como uma das tarefas pendentes para o próximo governo, com foco na redução da estrutura e no corte de gastos, principalmente entre os candidatos da direita. Leia mais Eleições no Chile: Conheça os candidatos à Presidência Eleições no Chile: Jeanette Jara lidera pesquisa para 1º turno com 32% Com crime e imigração em foco, direita tenta voltar ao poder no Chile Quem são os candidatos à presidênciaOito candidatos disputam a presidência do Chile e, de acordo com as últimas pesquisas, uma candidata de esquerda lidera as intenções de voto para o 1º turno e três candidatos da direita aparecem na sequência.Para o 1º turno, quem tem a preferência dos eleitores, segundo as pesquisas, é Jeannette Jara, do Partido Comunista. Ela foi ministra do Trabalho e Previdência Social do atual presidente do Chile, Gabriel Boric. Jara compete pela coalizão Unidade pelo Chile.Sob sua administração, o país reduziu a jornada de trabalho de 45 para 40 horas semanais.A candidata de centro-esquerda é seguida pelo ex-deputado José Antonio Kast, do Partido Republicano, da ultradireita. Kast tenta chegar à presidência pela terceira vez, e chegou a ir para o segundo turno contra Boric em 2021.Kast moderou seu discurso nesta campanha e acabou perdendo votos para Johannes Kaiser, candidato do Partido Nacional Libertário, que aparece em terceiro nas pesquisas. Ainda mais à ultradireita e ex-aliado de Kast, Kaiser ganhou notoriedade no Chile com seu canal no Youtube.Em quarto lugar na preferência dos eleitores aparece Evelyn Matthei, opção da centro-direita para os eleitores, que compete pela aliança Chile Vamos.Ex-prefeita de Providência, que atuou como ministra do Trabalho e Previdência Social do ex-presidente Sebastián Piñera, Matthei é do partido UDI (União Democrata Independente), partido tradicional da direita chilena.Pesquisas indicam que Kast, Kaiser ou Matthei ganhariam em um segundo turno contra Jara. Se um deles vencer, o Chile manterá a alternância entre esquerda e direita que marcou a política do país nos últimos 15 anos.Jeannette Jara, candidata à presidência, discursa durante sua participação no diálogo “Soluções para o Chile”, em Valparaíso • Cristobal Basaure Araya/SOPA Images/LightRocket via Getty ImagesComo é o sistema eleitoral do ChileEsta é a primeira eleição presidencial com voto obrigatório no Chile desde 2012. A votação será realizada das 8h às 18h.Os eleitores votam em cédulas de papel, na qual indicam com um x feito com caneta azul em seus candidatos de preferência. Depois, a cédula deve ser dobrada e fechada com um adesivo do serviço eleitoral. O voto é depositado pelo eleitor em uma urna.Os eleitores receberão uma cédula para cada votação: uma para presidente, outra para deputados e uma terceira para senadores nas regiões que os elegem.Para ser eleito em primeiro turno, o candidato à presidência precisa obter mais de 50% dos votos válidos. Se isso não acontecer, os dois mais votados disputarão o segundo turno no dia 14 de dezembro.A previsão é que os resultados da eleição deste domingo sejam divulgados a partir das 20h.Propostas contra a criminalidadePrincipal preocupação dos chilenos, após o índice de homicídios para cada 100 mil habitantes do país quase triplicar entre 2015 e 2024, a segurança é o principal foco das propostas dos candidatos.Como o aumento da criminalidade ocorreu paralelamente a uma onda migratória de venezuelanos, e a entrada da gangue Trem de Arágua, nascida em prisões do país de Nicolás Maduro, o tema é frequentemente vinculado à imigração.Segundo Tironi, todos os candidatos tiveram que abordar a questão durante a campanha. “Nenhum se excetua. Até a candidata do Partido Comunista diz que a segurança vai ser sua primeiríssima prioridade e que ela será muito dura nesta questão. E todos estão de acordo que a questão da imigração é chave”, diz.Candidato presidencial de ultradireita José Antonio Kast discursa para milhares de apoiadores em comício no Chile • Cristobal Basaure Araya/SOPA Images/LightRocket via Getty ImagesKast, por exemplo, promete expulsar imigrantes indocumentados e criar uma barreira com uma vala e de três metros de profundidade e cercas elétricas na fronteira norte do país. Ele também quer aumentar a capacidade das forças de segurança, inclusive com apoio jurídico e político para enfrentar a criminalidade.Kaiser propõe entrar em espaços ocupados por grupos criminosos e buscá-los ostensivamente, defende o porte de armas pela população e aumento de penas para todos os crimes. O libertário também quer a criação de centros de detenção para imigrantes irregulares até que sejam expulsos do país.Matthei também defende a política de mão dura contra a imigração irregular, e chegou a defender inclusive a instalação de dinamites na fronteira. Ela também propõe a criação de dois “centros de expulsão” de imigrantes irregulares.No último debate presidencial, a candidata da UDI afirmou também que terá como ministro da Segurança alguém que atue para colocar criminosos “na prisão ou no cemitério”.Já Jara tem como uma de suas principais propostas contra a insegurança a quebra de sigilos bancários para determinar a rota do dinheiro de organizações criminosas no país. Ela também defende controle biométrico nas fronteiras, com o uso de câmeras de seguimento de movimentos, mas também promete a regularização parcial dos imigrantes indocumentados no país.Outras propostasSegundo o economista chileno Francisco Castañeda, “há uma sensação – que não necessariamente é realidade, já que no Chile não há um gasto descontrolado – de que o Estado é muito grande e que é preciso fazer uma redução para torná-lo mais eficiente”.Com isso, as candidaturas, principalmente de direita, propõem uma forte redução da máquina pública.O ultradireitista Kast, por exemplo, promete um ajuste fiscal de US$ 21 bilhões em quatro anos, de um orçamento atual de cerca de US$ 90 bilhões.O candidato, que promete “devolver a grandeza para o Chile”, moderou sua retórica em relação às últimas eleições presidenciais e agora tem um discurso mais centrado na ordem, segurança e “grandeza” do país.Kaiser também quer reduzir a quantidade de ministérios de 25 para nove, eliminar totalmente o financiamento estatal para fundações e organizações não governamentais, com exceção das que contam com regulações e auditorias, e cortar 200 mil cargos públicos. Ele também propõe a diminuição de salários de servidores.Johannes Kaiser, candidato à Presidência do Chile • Facebook/Johannes KaiserCom discurso disruptivo quanto a valores, bastante alinhados aos do presidente argentino Javier Milei, Kaiser propõe retirar o país de organismos multilaterais, como a Organização Mundial da Saúde e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Ele também é contrário a acordos ambientais e à Agenda 2030 da ONU.Já Matthei propõe um forte controle de gastos estatais, com diminuição de ministérios para até 19. Ela, no entanto, critica a proposta de corte radical de gastos proposta por Kast e Kaiser.A candidata de esquerda Jeanette Jara, que afirmou que deixará o Partido Comunista se chegar à presidência, não foca na redução de gastos, enquanto promete ampliar reformas sociais e manter políticas de bem-estar do governo Boric.Posse do próximo presidenteO próximo presidente do Chile toma posse em 11 de março de 2026 para um mandato de quatro anos.Eleição presidencial no Chile tem como foco crimes, imigração e gangues | CNN NEWSROOM