PF aponta filho de ex-deputado como operador de fraudes em kit escolar

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A operação da Polícia Federal (PF) que mirou um esquema de fraudes em licitações voltadas a compras de material escolar em prefeituras do interior de São Paulo teve como um dos alvos o empresário Daniel Lancaster, filho do ex-deputado estadual Gil Lancaster (foto em destaque).A investigação da PF aponta que Daniel atuou como uma espécie de operador financeiro informal por meio de suas empresas, cujas contas teriam sido utilizadas para a lavagem de dinheiro proveniente de contratos suspeitos da empresa Life Tecnologia com municípios.O dono da Life, André Mariano, é apontado pela PF como o líder do esquema, que teria movimentado cerca de R$ 111 milhões por meio de contratos suspeitos de corrupção com quatro prefeituras do interior paulista: Hortolândia, Sumaré, Limeira e Morungaba.A operação Coffe Break, realizada na última quarta-feira (12/11) pela Polícia Federal, prendeu Mariano e outras quatro pessoas, incluindo o vice-prefeito e o secretário de Educação de Hortolândia. Cerca de 50 mandados de busca e apreensão foram cumpridos.Dinheiro bloqueadoDaniel Lancaster foi alvo de busca e apreensão em um endereço em Barueri, teve o sigilo telemático quebrado e uma de suas empresas, a Metrópole Soluções, teve R$ 187 mil bloqueados pela Justiça. De acordo com a PF, a conta da empresa foi indicada por um intermediador a André Mariano para o recebimento dos valores ilícitos.“Para o recebimento de valores da Life, João (apontado como um intermediador) teria indicado para André Mariano conta da Metrópole Soluções, cujo sócio formal é Daniel Lancaster Gonçalves Grassano de Moraes, o qual, ao menos entre 2019 e 2020, ocupou cargo comissionado no município de Cajamar (SP)”, diz a PF.Ainda segundo a investigação, empresas de fachada ligadas a doleiros e usadas para lavagem de dinheiro da organização também remeteram recursos para a Lancaster Holding Administradora de Bens, vinculada a Daniel.O Metrópoles não conseguiu contato com Daniel e Gil Lancaster. O espaço segue aberto para manifestação.Cajamar e BarueriEntre 2019 e 2020, Daniel Lancaster ocupou dois cargos comissionados na prefeitura de Cajamar, na Grande São Paulo. Em 6 de agosto de 2019, foi nomeado pelo então prefeito Danilo Joan (PSD) como assessor especial. Em 30 de dezembro do mesmo ano, Lancaster foi exonerado do cargo.Já em 2 de janeiro de 2020, dias depois da exoneração, foi renomeado como Oficial Executivo do prefeito, nomeação também assinada por Danilo Joan.O Metrópoles mostrou que Joan e o atual prefeito de Cajamar, Kauan Berto, que é seu aliado, são investigados pela Polícia Civil por um suposto esquema de desvios no município. Os contratos suspeitos somam R$ 875 milhões.Além de Cajamar, Daniel Lancaster também tem ligações com a política de Barueri. Ele é genro do ex-prefeito Gil Arantes e, até as eleições municipais de 2024, ocupava o cargo de presidente do diretório do PP em Barueri.Na campanha eleitoral do ano passado, Lancaster participou de um evento de campanha do então candidato Gil Arantes, que acabou perdendo o pleito no município. Em publicação no perfil oficial do PP de São Paulo, o empresário aparece discursando aos presentes (veja abaixo). Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Mauricio Neves (@mauricioneves_oficial)Operação Coffe BreakA investigação da Polícia Federal afirma que, após receber os pagamentos públicos, a Life utilizava um complexo sistema de lavagem de capitais para ocultar a origem e o destino do dinheiro. Para isso, os recursos eram remetidos para empresas de fachada controladas por doleiros.O esquema funcionava pelo menos desde 2021, diz a PF. O ciclo criminoso envolvia três núcleos principais: a Life Tecnologia, na figura de Mariano, agentes públicos e doleiros.Segundo os autos, Mariano obtinha acesso privilegiado a secretários de Educação dos municípios e “criava a demanda” pelos seus produtos, notadamente livros, kits de robótica e materiais pedagógicos. Com isso, o processo licitatório era fraudado para que a Life vencesse os certames, em troca do pagamento de propina aos agentes públicos responsáveis.Agentes públicos atuavam para direcionar a vitória da Life, assinar atas de registro de preços e agilizar a liberação e o empenho dos pagamentos dos contratos superfaturados.Em Hortolândia, por exemplo, Mariano participava da estruturação do processo licitatório em “parceria” com servidores públicos e acertava até mesmo o produto a ser vendido. Em Sumaré, ele recebia o Termo de Referência, documento essencial do edital, para aprovação antes mesmo da publicação oficial.Os servidores recebiam a propina em espécie, chamada de “café”, obtido por meio de doleiros ou por meio de transferências bancárias diretas ou para contas de terceiros e familiares.“Afirma que referido investigado utiliza o termo ‘café’ para se referir ao pagamento de vantagem indevida a servidores públicos e que é possível concluir que, no período de 2021 a 2024, tenha pago vantagens indevidas, em dezenas de ocasiões, a servidores públicos e lobistas vinculados aos mais variados entes públicos”, diz a juíza em sua decisão.