Um trimestre (muito) decepcionante. Esta foi a visão do mercado sobre os resultados da operadora de saúde Hapvida (HAPV3) apresentados na noite da última quarta-feira (12). Em meio às decepções com o balanço, a ação abriu em forte queda de 32,43%, a R$ 22,09, após cerca de 20 minutos em leilão no início do pregão desta quinta-feira (13). Na mínima do dia, os papéis desabaram 48,76%, a R$ 16,75, para fecharem em baixa de impressionantes 42,21%, a R$ 18,89. A teleconferência durante a manhã pouco fez para animar os investidores, conforme ressaltou o Itaú BBA. Na tele, a companhia reconheceu que seu desempenho de terceiro trimestre ficou aquém do esperado, embora tenha apontado que a empresa está melhor que quase todos os competidores.Em conversa com gestores, os analistas do BBA apontaram que a tele não conseguiu tranquilizar os investidores que estavam preocupados com os impactos negativos estruturais dos resultados daqui para frente.“Observamos uma ampla gama de estimativas para o próximo ano, sem consenso sobre a nova base de referência para as margens após o ticket médio abaixo do esperado e a estrutura de custos e despesas gerais e administrativas mais pesada”, avalia a equipe de análise.Olhando para o balanço em si, a dívida líquida fechou o trimestre em R$ 4,250 bilhões, montante 3,7% maior do que o reportado um ano antes. Com isso, a alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda, ficou em 1 vez, aumento de 0,01 vez em relação ao mesmo intervalo do ano anterior.A companhia registrou lucro líquido de cerca de R$ 338 milhões no terceiro trimestre deste ano. No terceiro trimestre a sinistralidade caixa alcançou 75,2%, aumento de 1,3 ponto porcentual (p.p.) em relação ao trimestre anterior, refletindo a maior utilização sazonal e o ramp-up de novas unidades.O Goldman Sachs ressaltou que o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado recorrente foi de R$ 613 milhões (excluindo R$ 133 milhões em diversos eventos não recorrentes), uma queda de 20% em relação ao trimestre anterior e 27% abaixo da estimativa geral.O banco aponta a margem Ebitda ajustada recorrente fraca (7,9% versus 10,7% da estimativa geral), explicada por uma piora de 1,4 ponto percentual na MLR (ou índice de sinistralidade médica) em relação ao trimestre anterior (0,8 ponto percentual na estimativa geral). Isso ocorreu devido a efeitos sazonais piores do que o esperado, custos fixos mais altos após a abertura de unidades hospitalares e ambulatoriais e maior frequência geral, juntamente com despesas administrativas e de vendas mais fracas.Leia também:Confira o calendário de resultados do 3º trimestre de 2025 da Bolsa brasileiraTemporada de balanços do 3T25 ganha destaque: veja ações e setores para ficar de olhoAlém disso, houve fluxo de caixa livre negativo (medido pelo aumento da dívida líquida em relação ao trimestre anterior) de R$ 234 milhões. Já as adições líquidas ficaram negativas em relação ao trimestre anterior de 24 mil beneficiários na região metropolitana de São Paulo (embora o resultado consolidado tenha sido de +13 mil), sugerindo uma concorrência ainda acirrada nessa região e atritos persistentes com os clientes após a implementação de novos sistemas operacionais.O BTG Pactual ressaltou que a Hapvida apresentou resultados muito fracos no 3T, aumentando o risco sobre a tese, com combinação de fatores desafiadores: MLR muito acima do esperado, fluxo de caixa livre fraco, crescimento orgânico abaixo do esperado, SG&A (despesas de vendas, gerais e administrativas) mais elevado, contingências maiores e múltiplos itens não recorrentes, resultando na queda anual de cerca de 20% do Ebitda ajustado. Dos resultados negativos, 25% vieram do MLR, 10% de despesas comerciais e 65% de G&A (principalmente provisões). A receita líquida cresceu 6% anualmente, para R$ 7,78 bilhões, 1% abaixo do esperado, e diversos efeitos contábeis foram excluídos no cálculo do Ebitda ajustado, totalizando impacto positivo líquido de R$ 98 milhões. Mesmo assim, o Ebitda ajustado foi de R$ 613 milhões (-20% ano a ano e baixa de 25% versus as estimativas do BTG), com margem de 7,9%, similar ao nível pós-fusão com a GNDI. O resultado financeiro foi pressionado por efeito líquido negativo de R$ 13 milhões do acordo com a ANS (Agência Nacional de Saúde), elevando a despesa financeira em 36% anualmente.O lucro líquido ajustado foi R$ 204 milhões (-34% versus o esperado), enquanto o resultado contábil foi prejuízo de R$ 57 milhões. O MLR aumentou 140 pontos-base anualmente (ou 1,4 ponto percentual) e 1,30 ponto percentual trimestralmente, enquanto o crescimento líquido de beneficiários foi de apenas 13 mil vidas, abaixo das 44 mil projetadas.O fluxo de caixa livre (FCF) pós-capex foi negativo em R$ 52 milhões, e a dívida líquida subiu para R$ 4,2 bilhões, com alavancagem de 1,0 vez. “Cortamos as estimativas oficiais de Ebitda para 2026 em 20% e mantivemos recomendação de compra, mas com menor confiança, reduzindo o preço-alvo de fim de 2026 para R$ 50 (ante R$ 67)”, aponta o BTG.O JPMorgan foi mais longe e, além de cortar o preço-alvo, de R$ 52 para R$ 39, rebaixou a recomendação de overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para neutra. O banco americano reforça que a Hapvida reportou resultados fracos e abaixo das expectativas para o 3T25. O lucro por ação ajustado de R$ 0,22 representou uma queda de 38% em relação ao ano anterior, ficando 31% abaixo da estimativa do JPMorgan e 60% abaixo do consenso da Bloomberg. O resultado abaixo do esperado foi impulsionado por fatores operacionais (Ebitda ajustado ficou 30% abaixo das expectativas do JPMorgan e das do mercado), refletindo uma combinação de adições líquidas limitadas, tíquetes abaixo do esperado e MLR/sinistros per capita acima do previsto, em função do aumento da disponibilidade de serviços com o fortalecimento da rede própria e da sazonalidade negativa mais acentuada do que o normal, marcada por um inverno mais frio e atraso na disseminação da virose.“Algumas pressões reveladas nos números do 3T25 provavelmente persistirão pelo menos durante a maior parte de 2026. Por um lado, estão sendo realizados os investimentos estruturais necessários para lidar com as restrições de capacidade, reduzir o volume de reclamações e melhorar a percepção da qualidade do serviço, visando uma trajetória de crescimento mais sustentável. Por outro lado, a empresa não está colhendo os benefícios disso, pelo menos por enquanto, já que as adições líquidas permanecem limitadas, com alta taxa de cancelamento persistente e preços restritos”, avaliou o JPMorgan.Leia tambémBBAS3: pressão do agro continua no 3T e traz corte de projeções; quando irá melhorar?Resultados do 3T frustraram novamente e mercado segue cauteloso com ativo BBAS3Hapvida (HAPV3) tem alta de 12,7% no lucro do 3º tri, para R$ 338 milhõesJá o resultado operacional medido pelo Ebitda ajustado foi de R$746,4 milhões, recuo de 17,6% sobre o terceiro trimestre do ano passadoAlém disso, o cenário competitivo não é dos melhores, com a Amil mantendo uma postura comercial mais agressiva em São Paulo, impondo grandes obstáculos aos planos de crescimento da Hapvida e à recuperação da alavancagem operacional, além de obscurecer a visibilidade de curto e médio prazo.Dito isso, a recuperação da lucratividade impulsionada por maiores volumes e tíquete médio deve ocorrer no final do ano, sugerindo uma curva de melhoria da margem Ebitda mais lenta.Com isso, ao revisar o modelo da empresa para refletir o cenário atual desfavorável, reduziu suas expectativas, considerando uma curva de MLR cerca de 1 ponto percentual mais alta, reduzindo o LPA (Lucro por Ação) ajustado em 20%/30% para 2025/2026, o que os coloca 30% abaixo do consenso. Em meio ao corte de projeções, o JPMorgan reforça que seu instrumento preferido para investir no setor de saúde da América Latina continua sendo a Rede D’Or (RDOR3), com recomendação overweight. The post Hapvida: 3T fraco, rebaixamento e tele pouco animadora; o que fez a ação derrocar 42% appeared first on InfoMoney.