A Polícia Federal (PF) identificou três núcleos de atuação dentro da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares (Conafer) para operar o esquema que desviou R$ 640 milhões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por meio das fraudes nos descontos de mensalidade associativa contra aposentados, reveladas pelo Metrópoles.Segundo os investigadores, a entidade presidida por Carlos Lopes (foto em destaque) tinha os núcleos político, financeiro e de comando. Nessa quinta-feira (13/11), a Conafer foi um dos alvos da nova fase da Operação Sem Desconto, que cumpriu mandados de busca e apreensão e prendeu três ex-dirigentes do INSS, incluindo o ex-presidente Alessandro Stefanutto. Leia também São Paulo Servidor do INSS cobrou propina da Conafer: “Esqueceu de mim, mestre?” São Paulo Farra do INSS: entidade pagou R$ 14,7 milhões a deputado de MG, diz PF São Paulo PF: operador de propina chamava diretores do INSS de “heróis” e “amigos” São Paulo Ex-presidente do INSS era chamado de “Italiano” em planilha de propina Lopes também era um dos alvos dos mandados de prisão determinados pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), mas seguia foragido até esta sexta-feira (14/11). Segundo a PF, a Conafer pagou propina a José Carlos Oliveira, que foi presidente do INSS e ministro da Previdência no governo de Jair Bolsonaro (PL). Mendonça impôs a ele uso de tornozeleira eletrônica.Núcleo políticoSegundo a PF, o “núcleo político e de apoio” incluía o deputado Euclydes Pettersen (Republicanos-MG) e seus assessores. Em troca de propina, o grupo garantia, por meio de acesso ao INSS, a manutenção do acordo com a Conafer que permitiu a associação a fazer descontos de aposentados e pensionistas, além de blindar as pessoas ligadas à associação de investigações externas.Pettersen recebeu ao menos R$ 14,7 milhões por meio de uma lotérica e uma construtora, do interior de Minas Gerais, segundo a PF. Ele foi considerado pela Polícia Federal “a pessoa mais bem paga” entre os receptores de propina da Conafer.O ex-assessor parlamentar Walton Cardoso Lima Júnior aparece como beneficiário dos repasses. Segundo a PF, ele seria “intermediário” entre Lopes e Pettersen. Outro assessor do deputado mineiro, André Luiz Martins Dias. A PF classifica ambos como “operadores financeiros do parlamentar” no interior de Minas.“Walton e André são tidos pela PF como ‘operadores financeiros do parlamentar’, responsáveis por receber, fracionar e redistribuir valores que beneficiavam o deputado Euclydes Pettersen e sua base política em Governador Valadares”, diz a decisão que embasou a operação.A PF chegou a pedir ao STF para monitorar Pettersen com tornozeleira eletrônica, mas a solicitação foi negada por André Mendonça.Em nota ao Metrópoles, Pettersen afirmou que apoia o trabalho das autoridades e se colocou à disposição para prestar esclarecimentos.“Acredito na justiça, na verdade e na importância das investigações sérias, conduzidas dentro da legalidade e com total transparência”, prosseguiu Pettersen”, disse o deputado.Núcleo financeiroO empresário Cícero Marcelino de Souza Santos é considerado o “operador financeiro” da Conafer. Segundo a PF, ele liderava esse núcleo, responsável por intermediar os repasses da entidade a agentes públicos em troca de vantagens indevidas.O núcleo também atuava para disseminar os valores obtidos de forma ilícita em negócios legítimos. A PF diz que o grupo foi “encarregado da lavagem e movimentação dos recursos desviados por meio de empresas de fachada”.No celular de Cícero, a PF extraiu diversas mensagens que confirmam a atuação. Em uma das mensagens, o ex-superintendente regional do Nordeste do INSS Rogério Soares de Souza cobra o repasse.Em setembro de 2023, Rogério reclama do atraso no pagamento para Cícero: “Esqueceu de mim, mestre?”. A PF identificou um pagamento de R$ 40 mil instantes depois para Waldemir Miranda Neto, destinatário indicado pelo próprio Rogério em mensagens no Whatsapp.“Esse diálogo é citado como prova direta de sua consciência e participação ativa no esquema de corrupção passiva”, diz a decisão de Mendonça que autorizou a operação da PF.Núcleo de comandoO núcleo de comando é chefiado pelo dono da entidade, Carlos Lopes. Ele é tido como o “mentor intelectual do esquema criminoso”, responsável por orientar as fraudes e pela articulação política.A PF afirma que Lopes determinava a obtenção de assinaturas em visitas a residências de idosos e induzia aposentados a assinar formulários que eram convertidos em fichas falsas de filiação.“Além de idealizar o esquema, controlava as transferências financeiras e decidia a distribuição dos recursos desviados, em comunicação direta com o operador financeiro”, diz a decisão de Mendonça.Veja quem foi alvo de prisão nesta quintaAlessandro Antônio Stefanutto, ex-presidente do INSSAntonio Carlos Camilo, o Careca do INSS, que já estava presoAndré Paulo Félix Fidelis, ex-diretor do INSSVirgílio Antonio Ribeiro de Oliveira Filho, ex-procurador do INSSThaisa Hoffmann Jonasson, esposa de VirgílioCarlos Lopes, presidente da ConaferTiago Abraão Ferreira Lopes, diretor da Conafer e irmão de CarlosSamuel Chrisostomo do Bonfim Júnior, operador financeiro da ConaferCícero Marcelino de Souza Santos, lobistaVinícius Ramos da Cruz, presidente do Instituto Terra e Trabalho (ITT)7 imagensFechar modal.1 de 7Ex-presidente do INSS Instituto Nacional do Seguro Social Alessandro Stefanutto é ouvido pela CPMI que apura fraudes nos descontos previdenciários VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto2 de 7Antonio Carlos Camilo Antunes, o lobista conhecido como Careca do INSS, na CPMIVINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto3 de 7Cícero Marcelino de Souza Santos – empresário ligado à ConaferLula Marques/ Agência Brasil.4 de 7Samuel Chrisostomo do Bonfim Júnior – também integrante da ConaferReprodução5 de 7Tiago Abraão Ferreira Lopes – diretor da Conafer e irmão do presidente da entidade, Carlos LopesReprodução6 de 7Carlos Lopes é presidente da ConaferConafer/Reprodução 7 de 7Virgilio Oilveira Filho, ex-procurador do INSSReprodução/TV Senado