A mesada que acabou e um trader que nasceu: a história de Eduardo Melo

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Conteúdo XPPouca gente começa no mercado financeiro por necessidade — e menos ainda transforma o primeiro tombo em método. Foi o que aconteceu com Eduardo Melo, conhecido como EDUca trader, que descobriu o trading aos 15 anos, depois de ouvir do pai uma frase que mudaria seu destino: “Sua mesada tá cortada”, relembra o mineiro, aos risos.Convidado do episódio 245 do programa GainCast, Melo contou como um impulso juvenil para “ganhar dinheiro rápido” evoluiu para uma filosofia baseada na simplicidade, no controle emocional e na leitura objetiva de preço — o chamado gráfico limpo.O início de uma jornadaAos 15 anos, Melo recebeu uma notícia que mudaria completamente sua vida financeira. O pai decidiu cortar a mesada — e ele, inconformado, pediu ao menos um aviso prévio. “Falei: ‘Pô, precisa pelo menos de um aviso prévio, né? Me dá 30 dias de frente!’”, relembra.Sem renda, o jovem mineiro abriu o Google em busca de uma solução. Digitou tudo o que um adolescente curioso poderia imaginar: “como ganhar dinheiro rápido. Como ganhar dinheiro sem sair de casa”.Mas as primeiras respostas o levaram a tentativas inusitadas — desde mala direta até marketing multinível. “Percebi que teria que mandar milhões de cartas pra dar certo. Você tinha que levar um amigo pra uma reunião, eu era péssimo vendedor, não consegui levar ninguém”, conta.Foi então que apareceu a promessa tentadora que o colocaria no caminho do mercado financeiro. Em um anúncio, lia-se: “faça 300% ao mês”. A matemática parecia irresistível. “Falei: ‘Opa, é isso aqui que eu preciso. Se eu começar com 100, vou fazer 300 e chegar a 400. Puxei isso no Excel e pensei: em dois anos salvo o planeta’”, recorda.No entanto, a euforia durou pouco. Depois de enviar cem dólares para uma corretora na Estônia, abriu o gráfico pela primeira vez e, sem entender o que via, clicou para comprar. Em 28 minutos, o saldo havia despencado para dois dólares. “Mandei o dinheiro pra fora, vi as barrinhas verdes e vermelhas e pensei: devo comprar. Em 28 minutos eu tinha dois dólares”, diz.Ainda assim, aquele prejuízo se transformou em ponto de partida. “Se eu fosse uma pessoa normal, eu teria ido embora. Mas nós, traders, falamos: ‘Apertei o botão errado. Agora é só aprender o certo’”, explica.Leia também: “Aprendi a operar na porrada”, diz Marcelo do Fluxo Real, após 20 anos de mercadoDa poluição ao preçoDeterminado a entender o que havia por trás do sobe e desce do mercado, Melo mergulhou nos primeiros cursos e setups da moda — médias móveis, IFR, MACD — até que o gráfico se transformou em um carnaval de indicadores. “Chegou um ponto em que eu tinha tanta coisa no gráfico que eu não fazia trade. Ficava esperando tudo entrar em confluência, e nada entrava”, admite.O ponto de virada veio em uma viagem à Europa, quando procurou uma corretora para observar traders profissionais. O que viu o surpreendeu: profissionais operando sem indicadores, apenas com o preço na tela. “Os caras não tinham nenhum indicador, tinha no máximo umas quatro linhas”, descreve.A curiosidade levou à pergunta óbvia: como conseguiam resultados consistentes operando com um gráfico praticamente vazio? O silêncio durou poucos segundos até vir a resposta, simples e definitiva — mas que mudaria completamente sua forma de ver o mercado. “A gente utiliza preço para operar”, relata.A partir desse contato, começou a estudar price action, leu o livro de Al Brooks com a ajuda do Google Tradutor e retirou tudo do gráfico. Passou a observar apenas candles, suportes e tendências. “Comecei a entender que era muito mais simples do que parecia”, explica.O momento “eureka”Após três anos de estudo, veio o primeiro mês positivo — cerca de mil reais de lucro. Pouco para as expectativas de um trader, mas o suficiente para marcar uma virada de mentalidade que moldaria a filosofia do EDUca Trader. Um mentor, ao avaliar suas operações, resumiu em uma frase o que se tornaria seu lema. “Não é quem ganha mais, é quem perde menos”, conta Melo.Ele percebeu que o desafio estava nas perdas e no ego que o impedia de cortar rapidamente os erros. A partir daí, começou a anotar deslizes e impor limites operacionais: número de trades, valor máximo de perda e respeito ao plano. “O mercado é simples, só não é fácil. As pessoas complicam porque envolve dinheiro e mentalidade”, afirma.Para ele, a virada de chave ocorre quando o trader deixa de procurar o próximo setup “perfeito” e começa a encarar o próprio reflexo no mercado. É nesse ponto que a consistência surge: não da técnica nova, mas da capacidade de corrigir padrões de erro e manter disciplina.Leia também: Trader ensina como migrar para o mercado com responsabilidade e planejamentoDa disciplina ao gráfico limpoMelo levou essa filosofia ao extremo da simplicidade. Depois de quase duas décadas de mercado, opera com o mínimo possível na tela — apenas médias, volume e preço. “Duas médias, volume financeiro e preço, e nada mais. Gráfico limpo, por incrível que pareça, cara. Difícil”, afirma. A limpeza do gráfico, para ele, reflete a clareza mental do trader. Essa abordagem o levou naturalmente ao papel de educador. “Hoje são mais de 8.000 alunos formados e mais de 600 pessoas acompanhando a sala ao vivo todos os dias comigo”, diz. Com o tempo, essa filosofia extrapolou a tela e se transformou em método de ensino. Na comunidade que construiu, repete que o segredo está menos em saber tudo e mais em saber parar: perder pouco, respeitar o método e operar apenas quando há clareza.A história de Melo mostra que, no mercado, a simplicidade costuma ser o último estágio da evolução — e que, antes de buscar o santo graal dos setups, vale encarar o espelho, porque o maior indicador, no fim, é o próprio trader.Ao olhar para trás, o tom é de gratidão e convicção. “Valeu a pena. Se voltasse no tempo, continuaria, porque valeu muito a pena”, conclui.Confira mais conteúdos sobre análise técnica no IM Trader. Diariamente, o InfoMoney publica o que esperar dos minicontratos de dólar e índice. The post A mesada que acabou e um trader que nasceu: a história de Eduardo Melo appeared first on InfoMoney.