Com quase uma década de atuação, a Adam Capital mantém a estratégia que a destacou entre as principais gestoras multimercado do país: buscar tendências estruturais de longo prazo e equilibrar o portfólio com posições vencedoras em diferentes geografias.Para o sócio-fundador André Salgado, a diversificação internacional continua sendo a chave para o investidor que deseja atravessar cenários econômicos desafiadores. “A bolsa americana segue sendo um ativo interessante no médio e longo prazo”, afirma em conversa exclusiva com o InfoMoney. “O investidor brasileiro ainda é muito concentrado em ativos locais, e isso limita oportunidades”, aponta o executivo.Com cerca de R$ 3 bilhões sob gestão — sendo dois terços concentrados em fundos de previdência —, a Adam Capital foi a vencedora da categoria Melhor Fundo de Previdência Multimercados na Premiação Outliers InfoMoney, com o fundo Adam Icatu Prev. O prêmio reconheceu os destaques do mercado de fundos de investimentos em 16 categorias.Salgado também avalia que o cenário global exige cautela e disciplina. Segundo ele, governos em todo o mundo estão gastando mais, o que tende a manter inflação e juros elevados. No Brasil, as eleições de 2026 devem adicionar volatilidade ao mercado e reforçar a importância de uma carteira equilibrada.Leia também:O que muda com juros altos em 2025? Para gestores Outliers, mais oportunidadesConfira todos os vencedores da Premiação Outliers InfoMoneyConfira a entrevista com André Salgado, sócio-fundador da Adam CapitalInfoMoney: André, para começar, conta um pouco da trajetória da Adam Capital. Como surgiu a gestora e em quais frentes vocês atuam hoje?André Salgado: A gestora vai completar 10 anos em 2026. O primeiro fundo nasceu em 2016. Eu e o Márcio Appel já trabalhávamos juntos no Santander, depois no Safra, e em 2016 criamos a Adam Capital. Desde então, atuamos principalmente com fundos multimercados, e o fundo de previdência foi uma derivação natural dessa estratégia.A ideia é buscar tendências estruturais de longo prazo e equilibrar o portfólio para chegar ao fim dessas tendências com posições vencedoras. Operamos apenas mercados líquidos – juros, bolsa, commodities e moedas, parte no Brasil e parte no mercado global. Essa exposição internacional é uma das principais diferenças da Adam em relação a outras casas multimercado.IM: E sempre foi assim ao longo dos anos ou houve mudanças?AS: De forma geral, sim. Mas em 2022 fizemos um ajuste importante: descentralizamos parte da gestão. Até então, o Márcio acumulava os papéis de CEO e gestor principal, tomando todas as decisões. De 2022 para cá, parte relevante do risco passou para outros portfolio managers da casa.Também consolidamos os produtos multimercados – tínhamos três produtos multimercados com pequenas variações, que eram o Strategy, o Advanced e o Macro. Hoje, o Adam Macro concentra as estratégias principais. Além disso, lançamos um fundo de renda fixa ativa, voltado para investidores mais conservadores, que busca retorno de 105% a 110% do CDI com menor volatilidade e liquidez D+5.IM: Quais são as ambições estratégicas da Adam para os próximos anos? Tem produtos novos no radar ou algum tipo de expansão? O que estão planejando para o futuro?AS: Por enquanto o foco é trabalhar o novo produto, estamos buscando aumentar a captação dele. Estamos estudando ampliar a descentralização. Hoje, cerca de 25% do risco está diretamente com a mesa, e avaliamos ampliar esse percentual.Outro ponto importante é a relevância da previdência: ela já representa a maior parte dos nossos clientes e do patrimônio sob gestão. Embora tenhamos nascido como uma casa multimercado, a previdência ganhou muita relevância. Esperamos que, com a queda dos juros, o multimercado volte a ganhar tração, reequilibrando a base entre os dois segmentos.IM: Qual o volume atual sob gestão?AS: Aproximadamente R$ 3 bilhões, sendo R$ 2 bilhões em previdência e R$ 1 bilhão em multimercado. A base de investidores está concentrada na previdência, enquanto boa parte dos recursos dos sócios permanece nos multimercados.IM: Quais são as práticas de governança da Adam? Tem alguma que se destaca?AS: Sempre nos preocupamos muito com a governança e a administração de risco. Temos comitês formais e práticas semelhantes às de grandes casas e bancos. Um pouco da nossa experiência vem daí, ou seja, os sócios trabalharam muitos anos na indústria bancária e trouxemos essas práticas para a gestora.Nossa área de compliance é independente e tem autonomia para agir em situações de risco. Para revisar políticas de risco, formamos comitês que envolvem também compliance e comercial.Apesar de sermos uma empresa relativamente pequena, com cerca de 25 colaboradores e sócios, seguimos padrões de governança elevados desde a fundação.IM: O fundo Adam Icatu Prev foi o vencedor na categoria Melhor Fundo de Previdência Multimercados no prêmio Outliers InfoMoney. O que explica esse destaque?AS: O fundo tem uma composição diferente da maioria dos multimercados brasileiros, que costumam se beneficiar de cenários de queda de juros e alta da bolsa. Como temos forte exposição internacional, especialmente em mercados desenvolvidos, conseguimos bom desempenho em momentos em que o Brasil não vai tão bem.O ano passado, por exemplo, a posição em bolsa americana foi o principal destaque. Enquanto o mercado temia uma recessão nos EUA, nós conseguimos enxergar uma situação distinta e essa aposta contribuiu significativamente para a performance. Nosso objetivo é entregar retornos consistentes no longo prazo — prêmios são motivo de orgulho, mas buscamos resultados novos todos os anos.IM: Quais tendências vocês enxergam para os fundos multimercados e de previdência?AS: A filosofia de investimento é a mesma para ambos. A diferença está apenas nas regras regulatórias da previdência.De forma geral, o investidor brasileiro ainda é muito concentrado em ativos locais. Acreditamos que diversificar geograficamente é fundamental, seja por meio de fundos com exposição internacional, seja pelo investimento direto no exterior.Quando os juros estão muito altos, como é a situação atual, há uma migração muito importante para os ativos de renda fixa, e é natural que o investidor faça isso, porque de fato é uma boa rentabilidade para um risco razoavelmente reduzido. O perigo é a concentração elevada em Brasil.Outra recomendação é pensar com horizonte mais longo. A natureza humana leva a decisões de curto prazo, mas os melhores resultados vêm da paciência, especialmente na previdência.IM: Falando em previdência, recentemente caiu a medida provisória que previa a cobrança de IOF sobre aplicações em previdência. Vocês esperam novas mudanças regulatórias?AS: Acreditamos em uma retomada do segmento. Houve um período de diferentes fases, mas agora o produto deve seguir seu caminho natural: ser uma opção de longo prazo para complementar a aposentadoria. O mercado amadureceu — hoje há milhares de produtos de diferentes perfis de risco e ativos, inclusive internacionais. Esse avanço deve impulsionar o crescimento da previdência nos próximos anos.IM: De forma geral, quais oportunidades vocês enxergam para o investidor, considerando todas as frentes de atuação da Adam?AS: Continuamos muito otimistas com a bolsa americana no médio e longo prazo. É um ativo que carregamos há anos, em diferentes formatos, e que continua oferecendo boas oportunidades. Já no Brasil, preferimos cautela. Apesar de os preços parecerem atrativos, o cenário político e econômico ainda gera incertezas.IM: E quais são os principais pontos de atenção para o investidor hoje? Você já citou as eleições do ano que vem e a questão dos juros. O que mais o investidor precisa acompanhar?AS: Para responder vou separar o Brasil do mundo. O primeiro é fiscal. Governos, no Brasil e no mundo, estão gastando mais, o que tende a manter a inflação e os juros em níveis elevados. É essencial acompanhar as contas públicas e o impacto disso: se a inflação subir muito, por exemplo, o rendimento dos seus investimentos pode ser afetado de maneira significativa.No caso do Brasil, na melhor das hipóteses o processo eleitoral vai ser uma briga complexa e deve aumentar a volatilidade. Mesmo com ativos aparentemente baratos, preferimos não fazer apostas significativas em bolsa local por enquanto, porque não vemos muita ação ou situação política ou econômica que possa melhorar de maneira suficiente.Já na moeda, gostamos tanto da economia americana que acreditamos que por mérito dos Estados Unidos o dólar deveria se apreciar contra o real, mesmo em um cenário que tem sido desafiador nesses últimos seis meses. Ou seja, tivemos que ganhar em outras apostas que não na aposta comprada no dólar contra o real, que trouxe detração de performance para os nossos fundos.A economia americana está numa situação muito diferente do resto do mundo. Nos EUA vemos um ambiente de inovação, a inteligência artificial podendo trazer uma produtividade grande ajudando a ter um crescimento sem a inflação acompanhando. Estamos mais otimistas com os Estados Unidos em relação ao resto do mundo, inclusive com potencial de corte de juros no futuro.Sempre pensamos mais no longo prazo, mas os reflexos já estão aparecendo agora. Estamos vendo a bolsa americana fazendo novas máximas atrás de novas máximas, vemos companhias com resultados bastante importantes, e a despeito da situação política e a polarização também afetar os Estados Unidos, acreditamos que a base estrutural das companhias lá é muito forte e tende a trazer bons resultados.The post Como a Adam Capital aposta na bolsa americana e na previdência para crescer appeared first on InfoMoney.