O consenso entre especialistas de diferentes áreas ouvidos pela CNN Brasil sobre o encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado norte-americano Marco Rubio é claro: uma reunião de alto nível entre o governo do Brasil e dos Estados Unidos é um passo grande e positivo.“Um encontro de alto nível entre o governo brasileiro e o governo americano era algo que meses atrás se imaginava que não fosse possível. […] E o Rubio não vai ocupar sua agenda para algo que vá ser completamente inútil; se fosse protocolar, não seria o secretário de Estado a sentar com o chanceler brasileiro”, pondera Robson Gonçalves, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas). Leia Mais CMN amplia linhas emergenciais contra tarifaço e inclui fornecedores Exportação de madeira para os EUA cai pela metade desde tarifaço Tarifaço já impactou negativamente as exportações brasileiras, diz Fazenda Os chefes das relações exteriores de ambos os países tiveram uma conversa de 10 minutos nesta quinta-feira (13), seguida de uma reunião de 1h com a presença de negociadores. O chanceler brasileiro disse que “todos os temas da relação bilateral” foram tratados e que uma proposta geral aos EUA sobre o tarifaço foi apresentada.O retorno da Casa Branca, segundo Vieira, “pode vir amanhã ou na próxima semana”.Desse modo, Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington, observa que a reunião ainda “não significa solução rápida das negociações”.Quem está mais próximo do setor privado, como o ex-secretário de Comércio Exterior Walber Barral, hoje sócio da consultoria BMJ, reconhece que a reunião “é um sinal de avanço, mas que o setor privado tem solicitado mais dados sobre cronograma”.Desde julho, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa de importação de 50% contra produtos brasileiros, os exportadores que têm nos norte-americanos importantes clientes buscam alternativas para sobreviver ao tarifaço.O setor madereiro está entre os que mais sofrem. Molduras, compensado, madeira serrada, portas e pisos são alguns dos produtos que têm no mercado norte-americano seus principais compradores.“O que efetivamente o setor produtivo espera são resultados efetivos dessas negociações. As aproximações já têm se mostrado, mas o senso de urgência permanece o mesmo, uma vez que não vemos nenhum resultado efetivo de avanço”, observa Paulo Pupo, superintendente da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente).Análise: Fim do shutdown adia impasse nos EUA | FECHAMENTO DE MERCADO“Nossa expectativa é que esse encontro seja o início real das negociações pautadas por dados econômicos. Mas até que nos mostre ações efetivas, é um pouco ineficiente”, pontua.Pupo vê o Brasil ficando para trás enquanto outros países já começam a esboçar acordos comerciais com os EUA, como Argentina, Guatemala, Equador e El Salvador que tiveram entendimentos bilaterais anunciados nesta quinta.Simplificação de comércio, diminuição de barreiras burocráticas e comprometimento de investimento mútuo são alguns dos compromissos firmados nestas prévias de acordos.“É uma indicação dos interesses americanos, e vários deles poderiam ser alinhados com os interesses brasileiros. […] Investimentos e terras raras também interessam ao Brasil”, conclui Barral.Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, relembra que autoridades norte-americanas já vinham dando sinais positivos sobre frutas e cafés, outros produtos brasileiros que têm peso no mercado norte-americano e sentiram o tarifaço.“Tivemos um primeiro semestre de discussões e um segundo de negociação, alívio. Entendo que para o Brasil esses produtos que ainda estão com a tarifa de 50% podem esperar boas notícias pela frente”, pontua Cruz.Rubens Barbosa ainda mantem o pé atrás, porém, ao constatar que, diferentemente do caso brasileiro, “os outros não foram influenciados por questões ideológicas”. Para o Brasil, daqui para frente, o ex-embaixador indica que é necessário “continuar a insistir na negociação comercial e evitar declarações controvertidas”.Abertura comercial reduz impacto de tarifas de Trump no Brasil? Entenda