Não foram os aplausos, nem o tapete vermelho, nem o passeio na limusine presidencial, a The Beast, nem o fato de falar primeiro no palanque que representaram os maiores presentes oferecidos a Vladimir Putin na cúpula do Alasca. O maior favor do presidente Donald Trump ao seu homólogo russo foi tempo.O sucesso ou fracasso da Rússia na linha de frente será decidido em questão de semanas.Putin tem até meados de outubro, quando o clima esfria, o solo amolece e os avanços militares se tornam mais difíceis. Isso dá a ele dois meses inteiros. Suas forças estão prestes a transformar avanços lentos, dolorosos e caros em vilarejos “no meio do nada”, no leste da Ucrânia, em conquistas de valor mais estratégico.Quase todos os dias, um novo assentamento cai. As sanções secundárias que Trump ameaçou impor — que penalizariam quem compra petróleo e gás russos — e que ele já recuou duas vezes, não seriam suficientes para parar o esforço de guerra de Putin ainda este ano. Mas essas ameaças já exerceram pressão visível sobre o líder russo, inclusive na forma de ligações de chefes de Estado da Índia e da China, e podem tê-lo levado a aceitar o convite para se encontrar com Trump no Alasca, onde foi recebido de forma extremamente cordial.Putin não quer manter um esforço de guerra prolongado sob pressão econômica de seus dois principais compradores de energia — e, na prática, patrocinadores — que, por sua vez, também precisam suportar o impacto de tarifas impostas pelos Estados Unidos. Por isso, ele tem pressa no campo de batalha, mas age com uma lentidão agonizante na mesa de negociações.O encontro no Alasca não foi tão ruim quanto poderia ter sido para Kiev. Os ucranianos tiveram que suportar uma breve aula de história revisionista por parte de Putin no palanque, além da repetição desagradável da ideia de que Ucrânia e Rússia são “nações irmãs”, apesar dos ataques aéreos noturnos de Moscou que matam civis ucranianos. Mas houve dois pontos positivos para Kiev.Primeiramente, Trump e Putin não improvisaram às pressas um acordo de paz maluco, no estilo “negócio imobiliário com mapa marcado de canetinha”, pobre em detalhes e recheado de concessões para Moscou — como alguns temiam. Aconteceu justamente o contrário: nenhum acordo foi alcançado.O segundo ganho para a Ucrânia é que a postura intransigente de Putin ficou amplamente evidente. Trump pareceu abatido: não houve almoço, nenhuma pergunta da imprensa, nenhum convite de retorno a Moscou foi aceito de forma clara, e ele chegou até a dizer, em uma entrevista à Fox News, que — entre todas as coisas — lamentava ter concordado em conversar com o apresentador Sean Hannity. Leia Mais JD Vance deve participar de reunião entre Trump e Zelensky na Casa Branca Atualmente, "não há motivação" para Putin encerrar a guerra, diz analista Putin diz que reunião com Trump foi "extremamente útil" Ao final, Trump aparentemente não queria mais estar ali — e talvez Putin tenha cometido um erro ao fazê-lo se sentir assim.Mas a evolução do pensamento de Trump não representa uma vitória completa para o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. O mais preocupante é o desaparecimento repentino da exigência por um cessar-fogo — algo que, até a semana passada, era a base da posição europeia e ucraniana, e chegou até a aparecer nos discursos de Trump antes da cúpula no Alasca. Mas Putin nunca quis um cessar-fogo, pois isso interromperia o avanço de suas tropas.E assim, na manhã de sábado (16), essa exigência havia desaparecido, e o foco passou a ser um acordo de paz rápido e duradouro. Mas esse tipo de acordo não existe — um tratado sólido pode levar semanas para ser formulado, se não muito mais tempo. Mesmo assim, os líderes europeus recuaram da exigência de cessar-fogo em sua declaração conjunta de sábado, e Zelensky chegou a afirmar que “os assassinatos devem parar o quanto antes”, em vez de condicionar novas negociações à implementação prévia de um cessar-fogo.A decisão sobre o que fazer a seguir caberia a Zelensky, e Trump o incentivou a aceitar o acordo.O acordo proposto pela Rússia, pelo que se sabe até agora, parece potencialmente muito ruim para a Ucrânia.Um funcionário europeu disse à CNN que Putin manteve sua exigência de controle sobre toda a região de Donbas — algo politicamente e praticamente impossível para Zelensky conceder, e que ele já rejeitou.Essa exigência de cunho parcialmente maximalista surgiu após a reunião do enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, no Kremlin no início deste mês, com a confusão adicional sobre se isso significava que Putin havia desistido de reivindicar o restante das regiões de Kherson e Zaporizhzhia, atualmente parcialmente ocupadas pelas forças russas.Mas Putin é um pragmático estudado e paciente.Ele pode aceitar o que conseguir agora — e voltar para buscar o resto depois. Ele não tem ciclos eleitorais com que se preocupar, dado seu controle sobre o país, embora provavelmente saiba que sua economia superaquecida e hiper-militarizada não pode continuar nesse ritmo indefinidamente.Em suas declarações após as conversas, Putin manteve sua posição sobre o que considera as “causas raízes” do conflito — que incluem, entre outras coisas, a existência da Ucrânia como estado soberano e a expansão da Otan para o leste desde o fim da Guerra Fria — e sobre a “paz” para a Ucrânia, que na prática significa sua rendição e mais civis mortos. Ele chegou a advertir de forma ameaçadora os europeus e a Ucrânia para não atrapalharem qualquer proposta que tenha apresentado a Trump.Trump ainda não caiu completamente nessa jogada. A reunião de segunda-feira (18) no Salão Oval com Zelensky provavelmente revelará uma evolução na relação entre eles e na visão de Trump sobre Putin desde o conturbado encontro de fevereiro.Será mais um momento em que, seja o que for que Zelensky ouvir, ele terá apenas uma opção: concordar e manter uma postura amigável. Mas Kiev agora conta com o apoio de líderes europeus em contato direto com Trump, e ele talvez esteja ciente de que esses aliados são melhores parceiros para ele do que Putin tem sido.O problema para a Ucrânia não é como o circo da diplomacia se desenrola, mas os horrores que acontecem fora da tenda. O tempo que provavelmente será necessário para reunir as partes para novas negociações pode ser tudo o que Putin precisa no campo de batalha para efetuar mudanças reais.As próximas semanas serão o lento avanço que Putin deseja: primeiro, tensão entre Trump e Zelensky; depois, pressão europeia sobre Trump para aliviar essa tensão; e, por fim, adiamentos técnicos e constrangedores sobre uma reunião trilateral entre Trump, Putin e Zelensky.Putin só precisa alegar conflitos de agenda ou local por uma semana para ganhar ainda mais tempo.Então, uma reunião trilateral, se acontecer, corre o risco de repetir o ciclo: Putin faz exigências irrazoáveis que sabe que a Ucrânia não pode aceitar, Trump pressiona Zelensky a aceitá-las, e líderes europeus pressionam Trump a lembrar que a segurança da Ucrânia também é deles. E o ciclo recomeça.Tempo. Putin precisa dele para conquistar. Trump odeia desperdiçá-lo sem resultados imediatos. As forças de Zelensky não têm esse luxo. Os líderes europeus esperam que o tempo desgaste a capacidade econômica da Rússia de continuar a guerra.Muito já se passou desde que Trump iniciou seu governo prometendo acabar com a guerra em 24 horas, e embora esteja claramente mais sábio sobre Putin do que em fevereiro, pouco mudou nas duras dinâmicas e exigências desse conflito.