Cadernetas com relatos de Dom Pedro II estão sendo restauradas pelo Museu Imperial

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Ilustre convidado presente à Exposição Internacional da Filadélfia, nos Estados Unidos, em 1876, dom Pedro II legou à posteridade suas impressões dessa e de muitas outras viagens. Imperador do Brasil por quase meio século, ele anotou o que testemunhou em 44 cadernetas — 38 desses preciosos documentos estão sendo restaurados. Os manuscritos de sua majestade, guardados no Museu Imperial, em Petrópolis, cobrem um período que vai de 1840 a 1891, pouco antes de sua morte, aos 66 anos.Leia tambémLula diz que Brasil está vivendo com uma ‘turbulência desnecessária’ de TrumpPresidente critica tarifas dos EUA e destaca importância da estabilidade política e das negociações do Brasil, durante inauguração de fábrica de montadora chinesa em SPNa viagem mais longa ao exterior, de 26 março de 1876 a 26 agosto de 1877, o roteiro incluiu América do Norte, Inglaterra, França, Escandinávia, Rússia, Grécia, Turquia, Egito, Alemanha e Áustria. Nos Estados Unidos, o imperador contratou o compositor brasileiro Carlos Gomes para compor uma variação do hino americano, apresentada em 4 de julho de 1876, durante as comemorações do centenário da independência daquele país, na Filadélfia.O imperador registrou impressões de viagem em 44 cadernetas consideradas patrimônio da humanidade pela Unesco: 38 estão sendo restauradas — Foto: Fotos Acervo do Museu ImperialPelo telefoneNos seus relatos, o imperador diz que era o único chefe de estado presente e, como havia muita gente na solenidade, teve de abrir espaço na multidão “a cotovelada”. Foi nessa viagem, conta dom Pedro II, que conheceu um aparelho recém-inventado por Alexander Graham Bell. Coube ao imperador testar a novidade tecnológica no dia 25 de junho de 1876. “O telefone (…) não deu perfeito resultado, mas duas pessoas leram — uma quase nada — dois telegramas que mandei ao mesmo tempo”, escreveu ele.A maioria das cadernetas está em estado frágil, devido à ação do tempo e, por conta disso, passa por minucioso processo de restauro que inclui higienização, restauração, reconstituição, encadernação, acabamento e tratamento para reparar possíveis perdas e danos. O trabalho foi iniciado em abril e deve ser concluído até novembro. O imperador registrou impressões de viagem em 44 cadernetas consideradas patrimônio da humanidade pela Unesco: 38 estão sendo restauradas — Foto: Fotos Acervo do Museu ImperialA execução está a cargo da empresa RC Gonçalves encadernação e Restauro “Obra Rara” e é feita no laboratório de conservação e restauro do próprio museu. O projeto, cujo custo é de R$ 55 mil, foi viabilizado por recursos financeiros decorrentes de acordo firmado com o Ministério Público Federal (MPF). As cadernetas do imperador fazem parte de um conjunto de documentos reconhecidos como Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Para o professor Maurício Vicente Ferreira Júnior, diretor do Museu Imperial, as anotações de dom Pedro II ajudam a fornecer uma visão detalhada de transformações ocorridas no século XIX.— É quase que um panorama desse período, pelo olhar de um observador privilegiado das transformações que levaram ao que costumamos chamar de modernidade — afirma.Em outro périplo devidamente anotado nos cadernos, o imperador passou, entre 25 de maio de 1871 e 30 de março de 1872, por Portugal, Espanha, França, Áustria, Alemanha, Inglaterra, Egito, Escócia, Bélgica e Itália. A escala em Portugal foi considerada um resgate de seu passado lusitano e a reconstrução da sua relação familiar. Na ocasião, ele conheceu o quarto onde nasceu e o morreu seu pai, dom Pedro I, e reencontrou dona Amélia, a madrasta a quem considerava como mãe, já que dona Leopoldina, que o gerou, morreu quando ele tinha pouco mais de 1 ano. Num dos diários, ele comenta: “fiquei muito feliz de ver minha mãe, mas ao mesmo tempo tão avelhantada e doente”, se referindo à segunda esposa de seu pai. Foi o primeiro e último encontro dos dois em 40 anos. Ela morreu em 1873.Quando fez a última viagem ao exterior, também relatada nos diários, entre 30 de junho de 1877 e 22 de agosto 1888, dom Pedro II já estava adoentado. Ele foi à Alemanha e à Itália, para tratamento, antes de seguir rumo à França.Encontro com indígenasDas andanças pelo território nacional, o diretor do museu considera mais significativa a que o imperador fez pela costa norte do país, partindo do Espírito Santo, com destino a Bahia, Pernambuco, Sergipe, Alagoas e Paraíba, entre 1° de outubro de 1859 e 11 de fevereiro 1860.“Às 9 e 12 na parte superior da ilha do Betume o Iguatemi parou adiante, para ver se havia água para o Apa, e às 9 ¼ içou bandeira encarnada como sinal de que não havia fundo suficiente; recuamos e fundeamos um pouco para cima da ponta superior da ilha do Betume”, escreveu dom Pedro II no dia 14 de outubro de 1859 sobre as dificuldades de navegação durante viagem até Paulo Afonso, na Bahia. O relato está no segundo volume do conjunto de 38 cadernetas em processo de restauro.No Espírito Santo, sua majestade ficou impressionada com o encontro que teve com indígenas, retratados por ele em alguns dos 67 desenhos de próprio punho que ilustram os relatos de viagem. Na Bahia, ficou encantado com paisagens como as do Morro de São Paulo e da cachoeira de Paulo Afonso.A procuradora da República Vanessa Seguezzi destacou a importância do trabalho de restauro das cadernetas do imperador e disse que a medida reafirma o compromisso do MPF com a preservação do patrimônio histórico-documental brasileiro:— Os trabalhos de restauração acontecem no bicentenário do nascimento do imperador dom Pedro II e asseguram que esse acervo raro permaneça acessível para as futuras gerações.The post Cadernetas com relatos de Dom Pedro II estão sendo restauradas pelo Museu Imperial appeared first on InfoMoney.