O segredo da Shopee: rede de vizinhos que move bilhões no comércio eletrônico

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Na disputa global do comércio eletrônico, dominada por gigantes como Amazon, Shein, Temu e TikTok Shop, um player de cor laranja fluorescente reina absoluto no Sudeste Asiático: a Shopee. O aplicativo, controlado pela Sea Ltd., sediada em Singapura, transformou-se em um fenômeno regional ao apostar em algo que seus rivais subestimaram: logística de proximidade, feita literalmente pela comunidade.O resultado surpreendeu o mercado. Desde o início de 2024, as ações da Sea subiram mais de 300% na Bolsa de Nova York, elevando o valor de mercado da companhia a cerca de US$ 100 bilhões. Dos 41 analistas que acompanham a empresa pela Bloomberg, 33 recomendam compra.Leia tambémVarejo acende alerta para investidores após dois meses de desempenho fracoLevantamento do Idat, copilado pelo BBA, mostra desaceleração em vestuário, cosméticos, farmácias e materiais de construção, enquanto investidores se tornam mais cautelosos com ações do setorApós balanço forte, C&A se prepara para nova fase com loja conceitoNova loja será inaugurada em São Paulo, em 22 de agosto O segredo: SPX ExpressNo coração da estratégia está a SPX Express, braço logístico que nasceu em silêncio e hoje processa bilhões de pacotes por ano. Diferente das operações pesadas da Amazon ou da dependência da TikTok Shop da J&T Express, a Shopee criou uma rede capilarizada: donas de casa, aposentados e pequenos comerciantes transformados em entregadores ou pontos de coleta.Em Singapura, é comum ver um “tio” de chinelos carregando sacolas da Ikea repletas de pacotes ou uma dona de casa que montou um balcão improvisado ao lado do elevador. Essa logística de vizinhança reduziu custos, acelerou entregas e aproximou a marca da vida cotidiana dos consumidores.O modelo se expandiu: já são mais de 3.500 pontos de coleta só em Singapura, incluindo salas de estar transformadas em miniagências. Na Indonésia, funcionam em warungs (pequenas lojas de bairro). Em Taiwan, em conveniências. No Brasil, a rede também cresce.Da crise à viradaO salto não parecia óbvio em 2021. A pandemia havia inflado a demanda, mas os gargalos de entrega sufocavam a operação. A Sea, então, decidiu arriscar quase US$ 1 bilhão para erguer sua própria infraestrutura. No curto prazo, a decisão pesou: a companhia perdeu 90% do valor de mercado em meio ao crash das techs globais e precisou cortar 7.000 empregos.Mas a aposta pagou. Em 2024, a SPX já respondia por 25% do mercado logístico do Sudeste Asiático, segundo a Momentum Works. Hoje, em Singapura, 90% dos pedidos são entregues no dia seguinte; na região, metade chega em até dois dias.Um negócio que vira comunidadePara muitos, o trabalho virou fonte de renda extra — ainda que modesta. Em Singapura, os entregadores recebem em média 0,50 dólar de Singapura por pacote (US$ 0,37). Há quem organize até 80 entregas por dia, o suficiente para pagar parte das compras da semana. Mas o efeito vai além do dinheiro: a SPX criou laços sociais em bairros densos, com entregadores relatando amizades novas e sensação de pertencimento.Esse “toque humano” virou diferencial competitivo, segundo analistas. “A visibilidade do laranja da Shopee, combinada à proximidade com os moradores, reforça a presença da marca no cotidiano local”, avalia Jianggan Li, da Momentum Works à Bloomberg.O que vem pela frenteO modelo, no entanto, não está livre de tensões. Prefeituras em Singapura reclamam do uso de áreas comuns para triagem de pacotes, e a estrutura de remuneração é criticada por ser próxima de “bicos” temporários. Além disso, embora a SPX tenha ultrapassado brevemente a J&T em volume, suas margens ainda são estreitas.Mesmo assim, a Shopee se consolidou como parte do tecido social da região. E, para investidores, a lógica é clara: quanto mais a empresa conseguir transformar vizinhos em parceiros logísticos, mais resilente será frente a rivais como a TikTok Shop, que queima caixa para conquistar espaço.No curto prazo, a expectativa é de que a Sea reporte em agosto uma receita recorde de US$ 5 bilhões, com o e-commerce representando 72% desse total e a logística ganhando peso crescente.A história da Shopee mostra como, no e-commerce, não basta apenas ter uma plataforma digital poderosa. É preciso reinventar também o caminho físico das mercadorias — nem que isso signifique entregar pacotes na sala do vizinho.The post O segredo da Shopee: rede de vizinhos que move bilhões no comércio eletrônico appeared first on InfoMoney.