Vale investir em infraestrutura? Capitânia cita oportunidades e a estratégia da casa

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A Capitânia Investimentos quer seguir crescendo, mas sem abrir mão da qualidade. Para os próximos anos, a gestora pretende manter o foco na inovação em crédito e explorar com mais intensidade o segmento de infraestrutura, que, segundo Christopher Smith, gestor de crédito da casa, oferece estabilidade, baixa volatilidade e resiliência a ciclos econômicos.Segundo Smith, diante do universo limitado de oportunidades no mercado, a estratégia é selecionar cuidadosamente cada operação, preservando o alinhamento com os interesses do investidor. “Preferimos avançar devagar, com consistência, do que comprometer resultados para crescer rápido”, diz o gestor em entrevista ao InfoMoney.Com cerca de R$ 18 bilhões sob gestão e mirando chegar aos R$ 20 bi na virada do ano, a Capitânia levou o primeiro lugar na categoria de Melhor FI-Infra (Fundos de Investimento em Infraestrutura) da Premiação Outliers InfoMoney, com o fundo CPTI11. A premiação reconheceu os destaques do mercado em 16 categorias, valorizando gestoras e fundos que se destacaram no cenário nacional.Para Smith, o momento atual traz desafios, mas também oportunidades para o investidor. O gestor aponta que as debêntures de infraestrutura mais líquidas negociam com spreads historicamente baixos, o que reduz o potencial de retorno. Por outro lado, ativos listados oferecem taxas mais atrativas e, em alguns casos, negociam com desconto, mesmo com um pouco mais de volatilidade. Smith recomenda diversificação e alocação gradual, aproveitando quedas para melhorar o preço médio.Ele também faz um alerta: ciclos de queda de juros e inflação podem reduzir a atratividade da renda fixa e direcionar recursos para ativos de maior risco, o que impacta a liquidez no mercado de crédito. Por isso, defende prazos de resgate mais longos e carteiras pouco expostas a variações de ciclo. “É preciso manter calma para atravessar esses períodos sem comprometer resultados”, afirma.Leia mais:O que muda com juros altos em 2025? Para gestores Outliers, mais oportunidadesConfira todos os vencedores da Premiação Outliers InfoMoneyConfira abaixo a entrevista com Christopher Smith, gestor de crédito da Capitânia Investimentos.InfoMoney: Para quem ainda não conhece a Capitânia, pode contar um pouco sobre a trajetória da gestora, quando foi fundada e em quais verticais vocês atuam?Christopher Smith: A Capitânia é uma casa muito focada em crédito. Atuamos de A a Z: desde operações high grade, mais simples, até estruturas sofisticadas que buscam retornos mais atrativos. Além disso, temos frentes importantes de infraestrutura e imobiliário.A gestora foi fundada em 2002, mas naquela época o mercado de crédito no Brasil ainda era pequeno. Começamos mais voltados para multimercado, advisor e um braço de sell side de FIDCs. Sempre tivemos esse braço em estruturação de crédito. Com o crescimento do mercado, especialmente a partir de 2008 e 2009, vendemos 100% do nosso lado sell side e passamos a focar exclusivamente em gestão de crédito. Na medida que esse mercado foi ganhando liquidez e tração, optamos por focar na escolha dos ativos.IM: Depois de falar sobre a história da casa, quero perguntar sobre o futuro. Quais são as ambições estratégicas da Capitânia para os próximos anos?CS: Desenvolver novos produtos sempre está no nosso radar. Buscamos estar na vanguarda da inovação em crédito e estruturas correlatas. Hoje o investidor quer menos volatilidade e retornos mais atrativos. Os ativos de infraestrutura oferecem isso da melhor forma possível, representam talvez o que tenha de melhor no crédito, com muita estabilidade e pouca exposição a ciclos econômicos. Um ou outro segmento tem alguma correlação com o PIB, mas tem muita coisa que, quando bem desenhada, consegue ser bem defensiva e independe de governo.Se pudesse, alocaria 100% do capital da Capitânia nesse segmento. Mas, como gestores, temos um universo limitado e buscamos as melhores escolhas dentro dele. É um segmento que queremos colocar muita energia nos próximos anos. Nossa meta é manter foco e qualidade, sem entrar em áreas que não dominamos.IM: Qual o volume sob gestão da Capitânia hoje?CS: Estamos em torno de R$ 18 bilhões. A expectativa é chegar aos R$ 20 bilhões no final deste ano ou meio do próximo. Mas crescemos de forma gradual, sempre priorizando qualidade. Prefiro avançar devagar e proteger o investidor do que comprometer resultados para crescer rápido.O desafio da gestão, seja de crédito, equity ou multimercado, é alinhar o ativo e o passivo. Qualquer um consegue comprar uma coisa barata, segurar e vender quando sobe o valor. O difícil é quando a coisa está barata, ninguém ia comprar, ficam com medo. E hoje não tem nada de barato em infraestrutura, mas é um bom momento para captar. Para conseguir tocar a gestão com sucesso, preferimos não comprometer o resultado por crescimento.IM: A Capitânia levou o primeiro lugar na categoria FI-Infra da premiação Outliers, com o CPTI11. Qual é o diferencial desse fundo?CS: O CPTI11 foi o primeiro fundo de infraestrutura (FI-Infra) listado. Já tínhamos produtos menos líquidos e menos transparentes, mas fizemos um trabalho junto à bolsa para criar algo aberto ao investidor geral, com muita transparência. Temos uma equipe experiente e uma carteira bastante pulverizada, evitando concentração excessiva. Em crédito, não dá para concentrar demais, independentemente da qualidade da carteira. Eu sempre brinco que pode cair um meteoro na usina hidrelétrica e a empresa ficar sem fluxo de caixa, mas vai ter que responder aos investidores do fundo. Diversificação é superimportante para se prevenir desse tipo de situação.Quando o cenário permite boas alocações no mercado secundário, que geralmente acontecem em momentos de crise de liquidez, pulamos um pouco mais para o crédito mais conhecido, com emissões da Sabesp e da Petrobras, por exemplo. E, à medida que esse mercado vai secando, como no cenário que temos hoje, migramos para posições mais proprietárias, ativos com um pouquinho mais de taxa e perfil de liquidez mais baixo, mas é para se proteger do maior risco hoje, que é justamente o risco de liquidez.Essa postura, aliada à flexibilidade para alternar entre ativos mais líquidos e posições proprietárias conforme o cenário, é o que garante consistência nos resultados.IM: E quais são as oportunidades hoje no mercado de infraestrutura para o investidor?CS: Há uma grande assimetria. As debêntures de infraestrutura, estão com spreads historicamente baixos — pegando a amostra da Anbima [Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais], que são os papéis mais líquidos, mais conhecidos, em torno de 70% da amostra negocia abaixo da NTN-B de referência, ou seja, tem spread de crédito negativo. Isso significa retorno menor, especialmente depois de custos. Já nos ativos listados, há desconto e taxas mais atrativas, mesmo com um pouco mais de volatilidade por conta da negociação na Bolsa.A recomendação, que eu entendo não ser para todo mundo, é alocar onde tem prêmio, no ativo listado. Fazer uma alocação de forma diversificada, investir parte agora no mercado secundário de bons ativos de créditos, de gestores que você confie, e aproveitar novas quedas para melhorar o preço médio, sempre com horizonte de longo prazo, sabendo que independentemente da volatilidade, aquela carteira vai entregar o resultado contratado. Tem que fazer uma gestão do seu psicológico, mas a oportunidade atual está nos listados.IM: Também quero te ouvir sobre governança. Quais são as boas práticas que vocês adotam? Qual delas mais se destaca?CS: A governança é pouco discutida hoje em dia e talvez o maior vilão do crédito seja a falta de governança. Nosso comitê de crédito atua junto há cerca de 18 anos, com experiência em vários ciclos. A equipe de analistas também é estável, com média de 11 anos na casa. Esse trabalho em conjunto, com membros de compliance e do relacionamento com o investidor no comitê, por exemplo, é a maior proteção do investidor, porque são várias opiniões para defendê-lo.Não fazemos originação interna remunerada, evitando conflitos de interesse e garantindo que nossa prioridade seja o investidor. Não recebemos um real por nenhuma dívida que é colocada a mercado. Isso também nos permite receber ofertas de diversos originadores sem restrições, mantendo vantagem competitiva.IM: Quais os principais desafios e oportunidades no mercado, de forma geral, para o investidor hoje, considerando as verticais em que a Capitânia atua? O que enxergam para o futuro?CS: O crédito vive um momento muito positivo, com destaque para infraestrutura, que cresceu muito em emissões e interesse nos últimos anos. Estamos no momento de baixo prêmio no risco de crédito, mas o crescimento como um todo foi muito positivo e vai continuar muito positivo nos próximos anos. Já tem o mercado privado conseguindo suprir boa parte da necessidade de infraestrutura do país; não tudo porque tem outros gargalos que não o capital, mas do lado do capital está bem endereçado. Eu diria até que faltam ativos e dívidas novas surgirem, para o mercado crescer um pouco mais saudável, mas vejo esse mercado com muito bons olhos.A Selic elevada, hoje a 15%, traz oportunidades e desafios, o que exige cuidado na análise das empresas. Do lado da pequena empresa, são poucas as companhias que conseguem sobreviver a esse nível de juros sem alguma dificuldade extrema. Do outro lado tem o apetite muito grande do investidor por ativos com baixa volatilidade que entregue bons retornos. O crédito é a bola da vez.Crescemos com prazos de resgate mais longos e fundos mais equilibrados para proteger o investidor. Uma palavra importante em crédito é calma, ou melhor, falta de pressa. O prazo de resgate é a maior linha de defesa para o investidor.IM: Tem algum ponto de atenção que o investidor precisa acompanhar, considerando o cenário político e econômico atual, com certa instabilidade – até levando em conta questões como o impacto do ‘tarifaço do Trump’?CS: Oscilações macroeconômicas e políticas, como mudanças tarifárias e eleições, que vão ter no ano que vem, são importantes para a tomada de decisão do investidor. No crédito, esses impactos costumam ser secundários. O tarifaço do Trump não vai afetar diretamente a qualidade do fundo de investimento de qualquer gestora de crédito, pode ter alguma situação pontual, uma empresa que é grande exportadora, mas se o gestor fizer um bom trabalho de diversificação, esses efeitos no mundo de crédito acabam sendo reduzidos. Mas ciclos de queda de juros e inflação podem reduzir a atratividade de novas alocações em crédito e deslocar fluxo para ativos de maior risco. Isso sim pode gerar algum tipo de movimento, mas não por aumento do risco de crédito. Nosso foco é manter carteiras diversificadas e pouco expostas a variações de ciclo, para atravessar esses períodos sem comprometer resultados.The post Vale investir em infraestrutura? Capitânia cita oportunidades e a estratégia da casa appeared first on InfoMoney.