As escolhas feitas pelo Brasil no campo fiscal têm sido “erradas do ponto de vista do gasto”, avalia o economista-chefe da Warren Investimentos e ex-Secretário da Fazenda de São Paulo, Felipe Salto. Para ele, a responsabilidade é coletiva dos três poderes da República.O maior entrave, segundo ele, está na agenda legislativa, que dificulta as iniciativas do Executivo voltadas a construir um modelo fiscal mais equilibrado.Salto destacou, no programa Money Minds, do Money Times, que a dívida pública brasileira já é muito elevada sob critérios internacionais e segue em trajetória de crescimento. “Ela não só é muito alta, como ela também é crescente. Cresce em proporção com PIB pelo menos desde 2014”, afirmou.Na avaliação do economista, o atual governo conseguiu avanços relevantes na recuperação de receitas. Ele citou medidas como a tributação de fundos exclusivos e offshores, a lei das transações tributárias e a nova lei do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), que ajudaram a aumentar a arrecadação.CONFIRA: Está em dúvida sobre onde aplicar o seu dinheiro? O Money Times mostra os ativos favoritos das principais instituições financeiras do país; acesse gratuitamente“Deu resultado em 2024. A receita cresceu mais de 9% acima da inflação e isso ajudou a melhorar o resultado primário do primeiro ano do mandato, que tinha sido muito ruim.”Apesar disso, ele ressaltou que o problema persiste pelo lado da despesa. As propostas apresentadas pelo Ministério da Fazenda para conter gastos, anunciadas em novembro do ano passado, não avançaram no Congresso.“O Congresso não quis apoiar a limitação dos supersalários no serviço público e a reforma da Previdência dos Militares. Quando coloca o dedo na ferida, os parlamentares fogem”, criticou.Salto chamou atenção ainda para o peso das emendas parlamentares, cujo volume saltou 700% desde 2016 e já soma R$ 52 bilhões previstos para 2026. “Isso é um disparate, nós estamos em um país pobre, que precisa desses recursos (…) para grandes obras de infraestrutura, programas sociais de boa qualidade e ajudar a pagar a dívida”, afirmou.O economista lembrou, no entanto, que o Executivo também tem parcela de responsabilidade, citando a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição aprovada no fim de 2022.“Foi um erro de cálculo. Se tivesse feito ajuste fiscal naquele ano, hoje nós estaríamos nadando de braçada. A Selic não estaria em 15%, o juro real em 9% e a economia partindo agora para uma desaceleração”, disse.