Até julho deste ano, a Polícia Federal (PF) já contabiliza 20 novos inquéritos contra pessoas com foro privilegiado abertos somente em 2025. O número é cerca de 1/4 do total de apurações em andamento na corporação que miram autoridades que detém direito ao mecanismo. Como mostrou a coluna, o total já chega a 89 casos.Além do andamento de novas investigações, a PF também concluiu outros 10 inquéritos, dentre os quais dois tiveram indiciamento. Isso ocorre quando a corporação finaliza uma investigação e entende ter encontrado indícios suficientes do cometimento de um determinado crime.Os números foram obtidos pela coluna por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), e dizem respeito apenas às investigações que correm na sede da PF em Brasília, por meio da Coordenação de Inquéritos nos Tribunais Superiores (CINQ).Ou seja, outros inquéritos espalhados pelas superintendências da corporação nos estados tendem a inflar o total. Um dos casos que não é contabilizado, por exemplo, é a operação Overclean, que passou a tramitar no Supremo após a menção ao deputado Elmar Nascimento (União-BA), mas que é conduzida pela PF na Bahia.Somando os procedimentos abertos em todo o país todos que tramitam em tribunais superiores, o total chega a 153 inquéritos atualmente.Foro privilegiadoO foro privilegiado abarca autoridades de diversos níveis da administração pública, desde o presidente da República, ministros de estado e parlamentares, que são julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), assim como desembargadores, governadores, e membros de tribunais de contas estaduais, que são responsabilidade do Superior Tribunal de Justiça (STJ).O mecanismo é um direito dessas autoridades sob a justificativa de preservar o exercício de cargos relevantes, evitando perseguições políticas e interferências locais, sendo reservado a eles julgamentos apenas pelas instâncias superiores.Em março, o STF decidiu ampliar o entendimento sobre o mecanismo, determinando que pessoas detentoras de foto devem ser julgadas por esses tribunais mesmo após a saída do cargo ou o fim de um mandato, desde que o crime investigado tenha relação com a função.Operações da PFAté agora, o ano tem sido permeado por operações da Polícia Federal que miram principalmente o uso indevido de emendas. É o caso do deputado Júnior Mano (PSB-CE), que foi alvo da corporação por suspeitas de fraudes em processos licitatórios no início de julho.O caso tramita no STF sob a relatoria do ministro ministro Gilmar Mendes, que autorizou os mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao parlamentar.O caso do deputado chegou ao STF após a Polícia Federal encontrar indícios de que o parlamentar estaria “diretamente envolvido no desvio de emendas parlamentares, utilizadas para alimentar o esquema de (compra de votos) e consolidar sua base de apoio político”.A PF também investiga atualmente o deputado Antonio Doido (MDB-PA) por suposta compra de votos. O inquérito foi solicitado diretamente pela Procuradoria-Geral da República (PGR).A intenção das apurações é investigar uma possível ligação entre o parlamentar com um grupo envolvido em saques de valores milionários em agências de bancos no Pará.A suspeita é que os valores tenham origem em desvios de verbas públicas e que parte do dinheiro foi utilizada para a compra de votos nas eleições de 2024 e na corrupção de agentes públicos.A investigação solicitada pela PGR teve início após duas apreensões milionárias no Pará envolvendo pessoas ligadas ao deputado federal.Em 4 de outubro de 2024, dois dias antes do 1º turno das eleições, o policial militar Francisco de Assis Galhardo do Vale foi preso ao sacar R$ 5 milhões na cidade de Castanhal (PA).Meses depois, em 17 de janeiro de 2025, a PF fez nova apreensão, dessa vez de R$ 1,1 milhão com Jacob Serruya Neto, à época assessor de Antonio Doido. Após a prisão, ele foi exonerado da Câmara dos Deputados.Em pedido encaminhado ao Supremo, a PGR pediu que a apuração dos dois casos seja unificada e citou alguns detalhes descobertos pela PF após a prisão do PM Francisco Galhardo com os R$ 5 milhões.